Aqui no Brasil, a maconha ainda é um tabu cultural. Enquanto uma grande quantidade de pessoas afirma que ela é menos prejudicial do que cigarros legais e outras drogas lícitas — como remédios controlados e até mesmo o álcool —, outras a colocam no mesmo patamar de cocaína, crack e outras substâncias consideravelmente pesadas. Porém, há vários países em que ela já é bem mais aceita.
Nos Estados Unidos, há estados em que a maconha — ou cannabis, marijuana, ganja, madeira, pot, hemp ou tantos outros nomes que podem ser usados — é totalmente liberada para consumo; alguns em que ela é apenas descriminalizada e; outros em que ela é legal quando prescrita por médicos. Na Holanda, ela é legalizada se possuída em pequenas quantidades, e no Uruguai a venda é controlada pelo Governo.
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E há outros lugares em que comprar ou utilizar a maconha já deixou de ser algo totalmente marginalizado. Com isso, investidores de diversos países deixaram de enxergar os consumidores da erva como “maconheiros vagabundos” e passaram a vê-los como uma possível fonte de renda. Pois é... Assim começaram os investimentos relacionados à maconha — direta ou indiretamente.
Imagens do FlowHub
Atualmente, uma grande quantidade de startups já trabalham com ferramentas que são relativas à Cannabis sativa. Mas como elas estão fazendo com que a tecnologia auxilie nesse mercado? É o que nós vamos descobrir agora mesmo!
Quando tudo começou
As primeiras aventuras dos investidores nos campos de maconha foram em 2013. Naquele ano, o apoio público dos cidadãos norte-americanos ultrapassou os 50%, e isso mostrou aos donos do dinheiro que apoiar a planta não seria uma ideia tão ruim. A grande empresa pioneira nesse meio foi a Peter Thiel Founders Fund, que colocou US$ 75 milhões na Privateer — que controla o plantio de maconha medicinal em vários locais.
Pouco tempo depois, outros grupos de investimento fizeram o mesmo e passaram a financiar empresas dedicadas ao plantio da erva. Em 2015, cerca de 300 startups norte-americanas estavam buscando investimentos para montar projetos que envolviam a utilização da maconha, vendo nela uma excelente alternativa para o enriquecimento — dessa vez lícito.
Eaze: o Uber da erva
Algum tempo atrás, um homem chamado Keith McCarty decidiu investir em algum aplicativo que fosse capaz de unir pessoas de dois tipos: as que precisam de algo e as que oferecem algo. O mercado de transporte já estava saturado com Uber e Lyft, enquanto o de alimentos conhecia ainda mais concorrentes. Foi nesse momento que ele decidiu criar uma rede para conectar fornecedores e usuários de maconha.
Trabalhando somente na Califórnia, ele criou o aplicativo Eaze. Esse app conecta fornecedores de marijuana medicinal e pessoas que precisam dela — com prescrição, pois somente com receita médica é possível fazer as compras. Nesse sistema, estão envolvidos muito mais do que apenas a interface de um aplicativo. Há grandes servidores de análises de dados verificando hábitos de consumo e outras informações.
Com isso, o Eaze é capaz de prever quando os consumidores vão ficar sem a substância para enviar alertas que os relembram de fazer novas aquisições, por exemplo. Vale dizer que o Eaze não o único a fazer isso atualmente. Nos 26 estados dos EUA em que a maconha possui suporte legal, cerca de 2,5 milhões de usuários fazem algum tipo de transação com as startups.
Conhecimento agrícola
Ninguém consegue fazer uma plantação de milho sem saber se o solo é fértil e se a região possui iluminação suficiente nem sem conhecer as necessidades de água da planta. Se isso já acontece com o milho, que é uma planta relativamente forte, imagine como é com a cannabis, conhecida por ser um vegetal que possui uma fase de crescimento bastante frágil.
Nesse momento surgem duas startups que já estão bastante disseminadas nos EUA: Evergeen Sytems e Flowhub. As duas empresas possuem funções relativamente parecidas, sendo responsáveis por dar informações detalhadas sobre melhores épocas de plantio, nutrição de solo e gerenciamento de estufas — com sistemas que controlam até mesmo quando é preciso trocar as lâmpadas do locais.
A necessidade do Big Data
Você já deve ter visto algumas matérias aqui no TecMundo que mostram que o Big Data está muito mais presente em nossas vidas do que imaginamos — desde as análises de dados gerais até as utilizações em esporte de alto nível e saúde global. E é claro que as tecnologias de grandes bancos de dados também estão fazendo com que o mercado de marijuana seja aquecido.
Com análises e cruzamentos de dados, uma empresa chamada Leafly descobriu que usuários de internet passaram a clicar em links relacionados a maconha com muito mais frequência depois que ela foi legalizada. No Oregon, somente na primeira semana de legalização para uso recreativo, as buscas aumentaram em 835% entre os internautas com mais de 65 anos — comparando com um ano antes, quando a legalização era apenas para fins medicinais.
Crescimento na legalidade
De acordo com o The Wall Street Journal, o mercado de maconha legalizada tem crescido bastante nos Estados Unidos. É esperado que em 2015 ocorra um aumento de 86% na movimentação financeira — superando os US$ 2,7 bilhões que foram movimentados em 2014. Essa informação não é apenas uma suposição: faz parte de um levantamento completo realizado pela companhia The ArcView Group — especializada em investimentos e pesquisas relacionadas à planta.
É claro que isso tudo só pode ser realizado porque a planta se tornou legal em alguns locais. A movimentação financeira com pagamentos registrados, controle de qualidade e fiscalização é vital para que esse mercado consiga prosperar. De acordo com a Forbes, há empresas que chegaram a crescer 3.000% com o mercado da Cannabis sativa. Confira agora mesmo quais são as mais influentes nesse mercado:
Novus Acquisition & Development
Mais conhecida como Novus, esta empresa de Miami cria planos de compras para os consumidores que precisam de maconha medicinal. Com a assinatura mensal, eles podem economizar até 20% na aquisição de novas quantidades. A empresa já investe também em plantio orgânico para a entrega da erva em sete estados dos EUA.
Abattis Bioceuticals Corp.
A Abbatis é uma companhia canadense que fornece sistemas de cultivo, equipamentos de extração de precisão e serviços de consultoria para pessoas que querem cultivar maconha. Somente em 2015, a empresa conseguiu levantar cerca de US$ 3 milhões com a venda de seus produtos e serviços.
United Cannabis Corp
Em funcionamento desde 1999, a UCC trabalha com consultoria e produção de maconha para fins medicinais. Um dos grandes destaques dela está na produção de uma pílula com alta concentração de substâncias, que ainda está em processo de patente. Destaque também para a consultoria prestada ao governo jamaicano, que ainda busca descriminalizar a maconha no país.
mCig, Inc.
Trata-se de uma empresa de Seattle que está desenvolvendo dispositivos de vaporização para o consumo da maconha. O grande foco do projeto é criar métodos que não obriguem os consumidores a inalar a fumaça, o que pode ser prejudicial aos pulmões. Ela trabalha também com o cultivo e a distribuição da erva em territórios em que ela é legalizada.
O que ainda está por vir
Aos poucos, os Estados Unidos vão vendo a maconha deixar de ser reconhecida apenas como uma ferramenta medicinal, pois ela vai ganhando também a legalidade recreativa. Com isso, devem aumentar ainda mais as possibilidades de investimentos. Aplicativos e redes de cultivo podem conquistar novos adeptos, sendo ainda que muitos novos devem surgir.
O Eaze (mostrado no início do artigo), por exemplo, provavelmente vai ganhar uma nova versão — ou um clone — dedicado à maconha recreativa. Softwares que auxiliam no cultivo devem receber mais opções e startups dedicadas à criação de estufas e ambientes de plantio também vão ter mais trabalho pela frente.
Mais do que isso, é bem provável que surjam curadores de conteúdo com menos bloqueios do que os atuais. O site Merry Jane de Snoop Dogg é um bom exemplo disso. O portal abriga informações sobre a cultura e notícias relacionadas à planta — trazendo ainda uma série de dados bem interessantes sobre onde comprar a maconha de maneira legal e muito mais.
Vale dizer que estamos falando em relação aos Estados Unidos na grande maioria dos pontos abordados aqui. Será que veremos algo parecido com isso no Brasil em breve? Bem, para isso será necessário esperar até que ocorram as regulamentações necessárias em relação ao cultivo e ao consumo da Cannabis sativa.
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