Após meses de cinemas fechados por conta da pandemia do novo coronavírus, a reabertura gradual das salas exibidoras em nosso país traz às telonas Tenet, o muito aguardado filme de Christopher Nolan.
O cineasta, conhecido por obras de quebrar a cabeça como Amnésia, A Origem, Interestelar e Dunkirk, apresenta um novo conceito instigante para seus fãs: uma ameaça, vindo literalmente em reverso do futuro, que pode provocar o fim da humanidade ou desencadear uma guerra mundial.
No centro da trama estão o protagonista (papel de John David Washington) e seu aliado Neil (Robert Pattinson), que correm para desvendar o mistério sobre a entropia reversa e impedir que a “tecnologia” caia nas mãos de um vilão perigoso e controlador (interpretado por Kenneth Branagh).
John David Washington como o protagonista de Tenet em arte promocional.
Com essa premissa, Nolan constrói em Tenet sequências de ação de encher os olhos dos espectadores, incluindo cenas de lutas “rebobinadas” e perseguições em rodovias nos “dois sentidos” (de progressão e retroação no tempo), com o esmero técnico e a mesma grandiosidade vistos em outras produções do cineasta.
Acertos e tropeços em Tenet
As regras físicas de Tenet são, essencialmente, o grande atrativo e o maior acerto da produção, entretendo e mantendo a atenção do público na construção desse curioso universo ficcional. Nolan, que dirige e também assina o roteiro do filme, consegue apresentar com facilidade os elementos de ficção científica e seu novo exercício fílmico; no entanto, o realizador deixa muito a desejar no que se refere à trama de espionagem que tece a narrativa.
Por vezes, o cineasta parece complicar demais a investigação do protagonista, com pistas falsas, cortinas de fumaça e tramas secundárias que pouco acrescentam ao todo (a história do falsificador de Goya é um exemplo); e, ao mesmo tempo, o roteiro recorre a alguns clichês “retrógrados” (com o perdão da brincadeira), como a presença de um vilão caricato e uma donzela em perigo.
Ainda assim, um filme mediano dentro da cinematografia de Christopher Nolan não é nada mal. Por outro lado, pode ser que Tenet não seja o filme-evento que o mercado exibidor esperava nem venha a restabelecer o hábito dos espectadores de ir ao cinema — talvez nem deveria ter ficado com essa missão.
Certamente a produção merece ser conferida nas telonas (este que vos escreve assistiu ao filme em cabine a convite da Warner Bros., em horário não comercial, junto a poucos convidados bem-espalhados em uma sala IMAX e seguindo todos os protocolos de segurança), mas a pandemia ainda está aí e preocupa. Seria irresponsável a indicação do longa para o grande público neste momento.
Nesse sentido, é sempre importante contextualizar a obra artística sobre a época histórica em que ela foi produzida e lançada (aliás, é um tanto perturbador que os personagens “do futuro” de Tenet usem respiradores), mas talvez o estúdio não deveria ter cedido à pressão de Nolan de lançar logo seu filme nos cinemas. Tenet é grandioso, cheio de ideias legais e com um conceito cinematograficamente instigante, mas está longe de ser imperdível, urgente ou valer o risco de colocar a sua saúde em perigo.
Tenet estreia dia 29 de outubro nos cinemas brasileiros.
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