A franquia de games Assassin’s Creed teve um ano bastante diferente em 2016, com a primeira ausência de um novo jogo grande da franquia desde 2009 e com o lançamento do seu primeiro filme de longa-metragem nos cinemas dos Estados Unidos. Agora que a produção cinematográfica está quase chegando às salas brasileiras, onde tem estreia marcada para 12 de janeiro, tivemos a oportunidade de conferir a obra em uma cabine para a imprensa realizada em São Paulo, e você pode ver nossa opinião a seguir.
O filme foi escrito por Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage e dirigido por Justin Kurzel. Michael Fassbender não apenas interpretou o protagonista Callum Lynch e seu antepassado Aguilar de Nerha, mas também atuou como produtor do longa. A premiada Marion Cotillard faz o papel de Sophia Rikkin, e Jeremy Irons é Alan Rikkin. Outros nomes famosos incluem Brendan Gleeson, Charlotte Rampling e Michael Kenneth Williams.
Assombrado pelo trauma de ver sua mãe assassinada quando criança, Callum Lynch acredita estar prestes a encontrar seu fim ao receber a sentença de morte por injeção letal nos Estados Unidos devido a um crime. No entanto, sua execução é usada como fachada pela corporação Abstergo Foundation para levá-lo para uma instalação em Madri, onde a empresa pede sua colaboração.
Lynch é o único descendente de Aguilar de Nerha, um membro da Irmandade dos Assassinos que viveu na época da Inquisição espanhola e foi o último proprietário conhecido da Maçã do Éden, um artefato de origem misteriosa que guarda o segredo para acabar com o livre-arbítrio humano. Usando a máquina Animus, a Abstergo deseja que Callum reviva as memórias de seu antepassado para encontrar o objeto místico e, assim, ajudá-los a acabar com os assassinos e criar um mundo em paz sob seu domínio.
Alerta de spoilers
Antes de partimos para a crítica propriamente dita, vale ressaltar que inevitavelmente acabaremos citando diversos aspectos do enredo do filme. Dessa forma, é recomendado interromper a leitura neste ponto caso você ainda não tenha assistido ao longa e se incomode de saber parte do que ocorre. Se já tiver visto o filme ou não se importar com os SPOILERS, pode continuar sem problemas.
Para fãs e novatos
A premissa descrita mais acima certamente vai soar muito familiar para qualquer pessoa que já tenha jogado algum dos títulos da franquia Assassin’s Creed, ainda que o longa tenha uma história própria e totalmente independente dos games. O conflito principal é estabelecido já nos primeiros minutos e foi muito bem adaptado para as telonas, com os Assassinos buscando a paz enquanto defendem a liberdade, e os Templários (e, portanto, a Abstergo) acreditando que é o livre-arbítrio que impede a paz e tentando controlar a todos.
Como fã, fiquei satisfeito com a adaptação do mundo dos games
Como fã dos games, senti que houve grande cuidado em representar os elementos dos jogos no filme com fidelidade e, nesse sentido, fiquei muito satisfeito com a adaptação. Por mais que explicações mais profundas sobre a Maçã do Éden e seus criadores façam falta para um apaixonado pela franquia, é fácil compreender como a sua adição à trama cinematográfica poderia confundir desnecessariamente quem está conhecendo a história agora.
Mesmo com toda essa fidelidade ao universo dos games, a produção traz pouca coisa diretamente saída da história dos jogos para a telona. Exceto por alguns poucos personagens já conhecidos levemente pelos fãs, como Allan Rikkin, e por alguns easter eggs aqui e ali, o filme aposta em expandir o mundo de AC ao agregar novos nomes e acontecimentos – algo que é atrativo para os apaixonados pela série e que não afasta quem não teve contato com ela até agora.
O universo dos games foi respeitado e expandido no filme
Muitas qualidades
Independentemente de sua relação com os jogos, o filme “Assassin’s Creed” tem uma história fácil de entender e que funciona bem a maior parte do tempo. Apoiada pela atuação excelente de Fassbender, Cotillard e outras estrelas, a trama diverte e chama atenção sem causar confusão em quen a está assistindo, e isso é um grande feito considerando que ele lida com enredos de duas épocas diferentes.
As sequências de luta e de feitos físicos (incluindo o parkour) são um ponto alto
Por mais que os momentos em que vemos a história de Aguilar sejam minoria no total do filme, eles conseguem entreter e fazer total sentido dentro da obra ao mesmo tempo que empolgam por sua ação frenética. As sequências de luta e de feitos físicos (incluindo as manobras de parkour) são um ponto alto, passando com naturalidade e conseguindo prender a nossa atenção.
As excelentes ambientações, a ótima fotografia, a música de alta qualidade e o uso relativamente moderado – pelo menos para os padrões dos filmes de ação atuais – de efeitos produzidos em computador também se somam para fazer do longa uma experiência divertida para todos. Ainda assim, mesmo com todos esses pontos positivos, algo impede “Assassin’s Creed” de ser um filme realmente memorável: o ritmo.
Os momentos de ação são frenéticos e empolgantes
Limitações do ritmo
Se alguma vez você assistiu a um filme que tinha excelentes atuações, roteiro divertido e original, orçamento elevado, ótima produção visual e sonora, mas que mesmo assim não se enquadraria como um verdadeiro clássico, é provável que o ritmo seja o grande vilão. Por conta das limitações de tempo, os estúdios acabam resumindo enredos extremamente ricos em produções curtas demais e, por isso, são forçados a escolher entre deixar alguns pontos mal-explicados ou adaptar o roteiro com escolhas “convenientes” demais.
É isso o que acontece, por exemplo, com obras como "Batman vs. Superman", que tinha todos os ingredientes para dar certo, mas acabou pesadamente criticado por público e especialistas. Por falta de tempo para explicar as ações de personagens e construir uma forma satisfatória para resolver a briga entre os dois heróis, usaram uma coincidência forçada – e esse é apenas um dos pontos do roteiro do longa da DC que poderia ser citado.
Algumas decisões do roteiro acabam convenientes demais
No caso de “Assassin’s Creed”, esse problema é bem menos generalizado do que no filme dos super-heróis, mas também está lá. Ainda que as atitudes dos personagens façam sentido na maior parte do tempo, alguns acontecimentos que se passam nas instalações da Abstergo e nos momentos finais da trama simplesmente parecem convenientes demais, sem um desenvolvimento que os justifique de forma mais lógica.
SPOILERS PESADOS NESTE PARÁGRAFO, então PULE PARA DEPOIS DA IMAGEM SE NÃO QUISER SABER. Já que os Templários estão lidando com os Assassinos há séculos e sabem que, ao reviver as memórias de antepassados, os prisioneiros submetidos à Animus adquirem suas habilidades e seus conhecimentos, por que não os impediram de se unir e de obter acesso a meios de se rebelar? Com a localização da Maçã e tempo de sobra em mãos, por que não mataram o indefeso e potencialmente perigoso Lynch antes de fugir? A única resposta em que penso para essas e outras perguntas é: porque seria necessário aumentar muito a duração do filme ou dividi-lo em dois para desenvolver soluções melhores, e isso sairia caro demais.
"Já posso voltar a ler agora?"
Vale a pena?
Com a experiência oferecida pelo longa-metragem “Assassin’s Creed”, não há muitas dúvidas de que o que temos aqui é um filme de ação divertido mesmo para quem nunca teve contato com os games da franquia. Ao mesmo tempo, o filme consegue respeitar, homenagear e expandir muito bem o universo dos Assassinos e Templários, incluindo easter eggs que sem dúvida vão agradar quem é fã dos jogos dos assassinos.
A atuação é excelente, as sequências de ação, a trilha sonora, os efeitos e as ambientações no presente e no passado são empolgantes, e o resultado da mistura de tudo isso foi positivo. No entanto, a questão do ritmo abre espaço para algumas escolhas questionáveis no desenvolvimento da história e, embora isso provavelmente não vá diminuir muito a diversão da maioria das pessoas, essa questão acaba tirando um pouco do brilho do longa.
Considerando todos os pontos, “Assassin’s Creed” é um bom filme para quem não tem expectativas muito altas e vale a pena conferi-lo nos cinemas, especialmente se você for fã da franquia. Ainda assim, é inquestionável que o resultado final poderia ter sido mais rico se ele recebesse mais 30 minutos ou 1 hora para desenvolver melhor seu roteiro. Nesse ponto, porém, só podemos torcer por uma “versão do diretor” mais para frente.
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