Se você acompanha o cinema há mais de 20 anos, deve ter passado pela fase em que os filmes começaram a contar com altas doses de efeitos especiais. Nas últimas décadas, a produção digital deixou de ser um acessório para alguns filmes e começou a ser parte principal das obras — e você pode confirmar isso ao assistir a boa parte dos grandes lançamentos que estão na salas de todo o mundo.
Mas nem todo mundo está satisfeito com isso... Há muitas pessoas que afirmam que o uso excessivo desses efeitos estaria “arruinando os filmes”. Recentemente, especialistas e entusiastas criaram um termo para definir essa sensação: “efeito WETA”, que foi batizado em homenagem ao estúdio WETA do diretor Peter Jackson — um dos grandes usuários da tecnologia em seus filmes.
O efeito WETA
Como já dissemos, o efeito WETA foi nomeado por causa das obras de Peter Jackson, justamente por causa das primeiras menções a ele — que teriam ocorrido após o filme King Kong (2005) ser lançado. Para explicar melhor tudo isso, o vídeo que colocamos mais acima faz uma comparação entre os filmes inspirados no herói Hulk, um lançado em 2003 e outro em 2008”. Confira a transcrição do trecho:
“À esquerda, temos o Hulk lançado em 2003. À direita, o de 2008. Qual dos dois você prefere? Para a maioria das pessoas, a resposta é o da esquerda, mesmo com o fato de que há bem menos detalhes no corpo dele. O motivo para a preferência começa no fundo da imagem. Em 2003, a CGI conseguia renderizar apenas o Hulk, o que levava os produtores a manterem o ambiente real. Já em 2008, a renderização envolvia o Hulk, o fogo, a fumaça e em alguns casos até mesmo os cenários. Nós temos muita experiência e memória de ruas e cenários na luz do dia, mas não temos memórias e experiências em ambientes escuros e com muita fumaça. Por isso, em um nível instintivo, o Hulk de 2003 ativa meu poder de crença e nos dá o que queremos ver: o Hulk em um mundo real.”
Indo além, o vídeo também nos mostra que a utilização excessiva de computação gráfica faz com que nós enxerguemos ilustrações computadorizadas de altíssimo nível e detalhes perfeitos, mas não algo real que nosso cérebro realmente aceite. Como é dito no próprio vídeo da Story Brain: “Isso tudo coloca beleza e ‘impressionalibidade’ além do crível ou acreditável — que seria o mais importante!”.
Suspensão da descrença
O site SMH publicou um texto que fala mais sobre isso. De acordo com os editores do site, a presença da computação gráfica tem sido cada vez mais realista e isso estaria causando sensações de desorientação por parte do público, principalmente pelo fato de ela estar em tudo. O problema maior é que isso estaria interferindo também na “Suspensão da Descrença” — um termo que descreve a troca do julgamento por uma premissa de entretenimento.
Quando a computação gráfica era menos realista e usada como acessório, nossos olhos percebiam as diferenças entre “real” e “virtual”, permitindo que a suspensão da descrença acontecesse. Agora, existem tantos elementos digitais na tela, que há momentos em que o nosso cérebro não consegue fazer as distinções e isso interfere em todo o processo de percepção, causando desorientação e confusão.
Essa confusão foi mencionada por alguns críticos do novo “Vingadores”, por exemplo. Por outro lado, o filme “Mad Max: Fury Road” recebeu elogios dos críticos envolvidos nessas análises. Segundo eles, o filme mescla efeitos de computação gráfica com carros reais, cenários reais e pessoas reais, sempre com a dose certa de cada elemento.
Pouca preocupação com o resultado?
O SMH vai adiante e fala que um dos problemas pode ser explicado pelo ego dos cineastas. Citando um estudo do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, o site relembra que “o perigo está em alguns técnicos ficando obsessivos com as ferramentas e fazendo com que tudo seja investido no processo, em vez de no resultado. Eles perdem o tato no objetivo e na mensagem do filme.”.
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Você já havia percebido que algum filme chegou a causar confusão na sua mente por causa do excesso de computação gráfica? Será que as novas gerações, que cresceram acostumadas a isso sentirão as mesmas sensações que pessoas com mais de 20 anos sentem?
Fontes