Na próxima quinta-feira (25/12 — data também conhecida como Natal), o aniversário de Jesus será comemorado em boa parte do mundo, mas quem vai ganhar filme nos cinemas é Moisés, outro personagem bíblico que já teve suas peripécias adaptadas para as telonas diversas vezes.
O novo longa-metragem dirigido por Ridley Scott recebe o título de “Êxodo: Deuses e Reis” e, conforme o nome sugere, vem para contar a história da fuga do povo hebreu que era escravizado pelos egípcios.
O enredo é exatamente o mesmo que você já conhece. Portanto, se prepare para ver desde Moisés no exílio e passando pela revolução dos cativos até a chegada das pragas e a grande fuga. Tudo está aqui, de forma resumida e um pouco mais convincente.
A história original é da Bíblia, mas é claro que o roteiro passou por algumas modificações com a ajuda de Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine e Steven Zaillian. Certas coisas se diferem um pouco do que é contado no livro sagrado, mas nem por isso o filme perde pontos. Adianto que, no todo, a projeção é muito boa. Entremos em detalhes.
Alerta de spoiler
Todo mundo já conhece a história (e até o final), mas vamos deixar este alerta aqui para evitar comentários de que “a crítica está cheia de spoilers”. Se você não quer saber absolutamente nada sobre o que mudou na nova obra cinematográfica, recomendamos a leitura deste texto depois que você conferir o título na telona.
Milagres palpáveis
Primeiro quero chamar a atenção para a questão das obras impossíveis de Deus abordadas de uma forma mais “pé no chão”. O encontro do Todo Poderoso com Moisés acontece de forma astuta e pode dar margem para uma interpretação mais ampla da religião, afinal, uma pedrada na cabeça pode dizer muita coisa sobre tudo o que acontece na história.
Depois, temos todas as pragas e situações explicadas de formas diferentes pelos conselheiros do Faraó, o que inclusive dá imersão na ciência egípcia, que de fato sabia muita coisa sobre medicina e a natureza. A própria travessia pelo Mar Vermelho segue um conceito que já foi explicado em diversos documentários.
Com tudo isso bem pensado, o roteiro consegue agradar tanto aos céticos, que podem falar “viu só, é tudo científico” (apesar de que tem coisas que o filme não explica, então não é bem assim), quanto aos religiosos, que podem falar “viu só, Deus existe e ajudou o povo d'Ele” (mas o filme ainda deixa claro que é preciso ter fé para enxergar este ser superior).
Acredito que é justamente essa tentativa de agradar a todos que tenha levado os críticos internacionais a falarem mal do filme. A meu ver, é desnecessário crucificar a obra de Ridley Scott justamente porque é muito difícil conciliar essas duas partes de forma tão inteligente.
Capricho em todos os detalhes
Deixando o roteiro e opiniões de lado, é totalmente válido separar alguns parágrafos para comentar sobre os aspectos técnicos. A começar pela ambientação, que foi devidamente projetada para levar o público à realidade da época. “Êxodo: Deuses e Reis” não faz questão de economizar em nada, mostrando as grandes obras em detalhes.
Além disso, o título retrata bem os vilarejos construídos em partes distantes, dando um contexto significativo à história. Os cenários internos também deixam claro como era a realidade dos escravos e é difícil encontrar algum defeito nesse quesito.
O figurino também é caprichado, principalmente no que diz respeito às vestimentas do Faraó e dos membros do conselho egípcio. Juntando aqui a questão das armas, que ganha destaque na espada de Moisés, temos uma obra coerente e muito bem detalhada.
As atuações dão vida ao mito, com destaque para Christian Bale (Moisés), que convence em quase todos os momentos. Ainda notamos que ele força a voz no melhor estilo “Because I’m Batman”, mas o ator é muito competente e demonstra suas capacidades tanto nas cenas de ação (ele é como se fosse um Gladiador Gospel) quanto nos momentos mais dramáticos da película.
O elenco de apoio não deixa a desejar. É claro que notamos mais empenho de Joel Edgerton (Ramses), John Turturro (Seti) e Aaron Paul (Josué), já que são personagens que aparecem mais. Entretanto, não podemos desmerecer Ben Kingsley, Sigourney Weaver e a belíssima María Valverde.
Um espetáculo
Mesmo que você não goste da história (e resolva criticar muitas coisas), não dá para botar defeito na parte estética do filme. Os efeitos visuais são fantásticos, algo notável principalmente nas pragas e na travessia do Mar Vermelho. A trilha sonora acompanha muito bem, aproveitando as situações difíceis de engolir que o filme retrata.
A versão 3D de “Êxodo: Deuses e Reis” é muito boa, mas quem vir em 2D não vai perder tanto, já que o filme não tem sequências tão ousadas. Independente de religião, o filme dirigido por Ridley Scott tem muito a contar e pode ser um bom programa!
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