Após o abandono das películas por parte da Fujifilm no ano passado, muita gente passou a acreditar que essa seria a primeira pá de terra dentro da cova do cinema analógico. De fato, além de cada vez mais estúdios apostarem na filmagem digital, resta atualmente apenas uma empresa que ainda mantém em linha de produção as películas com sais de prata. Entretanto, eis agora um gigante estende a mão, tanto à Kodak quanto ao filme.
Um looby recentemente organizado e encabeçado por diretores como Quentin Tarantino, J.J. Abrams e Christopher Nolan pretende organizar enormes pedidos antecipados de filme à fabricante — independentemente da demanda, vale dizer. A garantia de compra a longo prazo deve permitir que a Kodak mantenha a produção, podendo ainda reerguer o setor em projetos futuros — como a produção de películas para telas touchscreen.
Embora as negociações ainda permaneçam secretas, espera-se que o resultado seja o comprometimento dos estúdios em adquirir determinadas quantias de filme durante os próximos vários anos — desafio razoável, considerando-se que tanto a TV quanto o cinema tem cada vez mais abraçado as tecnologias digitais.
Queda de 96% desde 2006
Se a Kodak realmente andava pensando em fechar as portas da sua linha produtora de películas? Bem, basta contabilizar os dados. Conforme disse o diretor-executivo da companhia, Jeff Clarke, as vendas de filmes experimentaram uma queda de 96% desde 2006 — passando de 3,8 bilhões de metros anuais para apenas 136,9 milhões de metros em 2014.
Clarke lembrou ao referido veículo que havia tentado organizar um esforço colaborativo entre grandes estúdios, a fim de reerguer o setor do atoleiro e impedir o desaparecimento do formato analógico — proposta que acabou não vingando. A coisa apenas começou a ganhar força conforme vários cineastas famosos passaram a advogar a causa da Kodak — incluindo J.J. Abrams, que atualmente filma “Star Wars Episódio VII” inteiramente com películas de filme.
Bob Weinstein, da Weinstein Company, reconhece que se trata, em última análise, de um comprometimento de interesses econômicos — embora deva existir algo mais. “É um comprometimento financeiro, sem dúvida”, disse ele ao The Wall Street Journal. “Mas eu não acho que nós poderíamos olhar os nossos diretores nos olhos se não fizéssemos isso.”
“A morte do cinema como nós o conhecemos”
De parte do sempre expressivo Quentin Tarantino, há, de fato, algo mais. O diretor é amplamente conhecido pela condenação pública do abraço da indústria do cinema aos formatos de registro digitais. “Eu acredito que o formato digital representa a morte do cinema como nós o conhecemos”, disse Tarantino enquanto discursava à plateia do Festival de Cannes. “Registrar em formato digital é como ligar a TV. Não é disso que se tratam os filmes.”
Um tanto mais diplomático, Judd Apatow, diretor de comédias como “O Virgem de 40 Anos” e “Ligeiramente Grávidos”, seria “uma tragédia se, de repente, os diretores não tivessem mais a oportunidade de filmar em películas de filme”. Para ele, “há uma mágica na granulação e nas cores, e é algo que você consegue apenas com a película”.
Apoio de estúdios e produtoras
Mas também os grandes estúdios e produtoras têm manifestado apoio ao resgate da Kodak e dos filmes analógicos. Entre os que já levantaram a bandeira do acordo, incluem-se a Time Warner, a Corporação Comcast, a Universal Pictures, a Viacom Inc., a Paramount Pictures, a Walt Disney Company e, naturalmente, também a Weinstein.
“Em uma indústria em que uma unanimidade é algo incrivelmente raro, todos têm se reunido para manter os filmes como uma opção para o futuro próximo”, afirmou o CEO da Warner Bros, Kevin Tsujihara, em entrevista ao referido site.
Embora os gastos com locações de câmeras e equipamentos sejam relativamente idênticos nos dois formatos de registro, a versatilidade da tecnologia digital tem acenado de forma tentadora para diversos cineastas — sobretudo aqueles em início de carreira. Entre as vantagens, encontram-se as facilidades da pós-produção, incluindo adições de efeitos especiais e recursos afins.
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