Quase todo mundo que permanece bastante tempo conectado conhece o Slenderman: um personagem que ganhou vida online e trouxe para a web as lendas urbanas, aquelas que a cada vez que são contadas ganham uma pitada a mais de mistério. O homem alto, albino e sem rosto, que se teleporta e adora atacar criancinhas, foi levado a sério demais por duas adolescentes, detidas por tentar matar uma amiga. “Cuidado com o Slenderman”, drama e documentário original da HBO, foi lançado nesta semana e analisa o caso como um fenômeno de internet com poder de interferir na vida real.
Payton "Bella" Leutner levou 19 facadas e ficou à beira da morte
Tudo começou com o interesse — aparentemente inocente — de Anissa Weier e de Morgan Geyser, ambas de 12 anos, pelo mítico Slenderman, nascido a partir de um meme que rapidamente se espalhou pela rede em 2009. As garotas, que não eram assim tão populares na escola, sofriam bullying e reforçaram os laços de amizade por meio da curiosidade em comum pelo assunto.
Depois de vasculhar histórias em várias páginas, a dupla passou a nutrir um misto de medo e adoração pela figura, que é cultuada em inúmeros sites. O interesse virou obsessão e as duas planejaram o assassinato de Payton “Bella” Leutner, na época também com 12 anos, como uma forma de “oferenda” ao vilão. Bella levou 19 facadas no dia 31 de maio de 2014 e sobreviveu por muito pouco. Já as autoras confessaram o crime e serão julgadas como adultos.
O poder da tecnologia
O documentário reúne vários vídeos de depoimentos dos pais de Anissa e Morgan, assim como das próprias meninas durante suas conversas com a polícia. Especialistas também foram convocados para avaliar como uma história — parecida com centenas de outras que habitam a web — pôde influenciar as adolescentes ao ponto de elas planejarem e tentarem realizar um assassinato.
Entre várias sequências interessantes estão questionamentos sobre quanto o ambiente virtual em que elas viviam potencializou seu problemas pessoais e mentais e a respeito das lendas urbanas e figuras de contos assustadores que migraram para a web. Outro destaque é a avaliação da influência da internet, que, mesmo oferecendo centenas de formas de interação social, pode ser hostil para quem já vive sozinho durante uma das fases mais difíceis da vida.
Vale a pena?
Um dos grandes méritos da diretora Irene Taylor Brodsky — cineasta por trás de outros documentário bem recebidos pela crítica e pela audiência, a exemplo de “Hear and Now” (2007) e “One Last Hug: Three Days at Grief Camp” (2014) — foi o de tentar ao máximo manter um olhar neutro sobre o ocorrido, sem tomar partido, e de relatar tudo de uma forma racional.
Não há passagens piegas e os pais das culpadas até mesmo falam com muita sobriedade sobre o problema das filhas. As cenas evitam o sensacionalismo ou uma desnecessária invasão de privacidade de todas as menores de idade e direcionam a discussão para algo maior: os temas solidão, poder da web, saúde mental e percepção são recorrentes durante os 114 minutos de exibição.
O longa pode ser encontrado na programação da HBO ou via streaming nos serviços HBO Now e HBO Go. Confira o trailer:
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