Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Os meses finais de um ano são marcados pelo aumento da procura por métodos de transformação corporal. A influência da possível exposição dos nossos corpos nos meses de verão tem até nome: projeto verão.
Nesse período, é notável o intenso esforço das pessoas em mudar comportamentos visando melhorar o corpo e ter mais saúde, incluindo praticar exercícios físicos. Porém, muitos de nós se frustram pela dificuldade no processo. A ciência mostra os principais erros e possíveis caminhos para mudança.
Comece por meio de um projeto, mas mude permanentemente
Começar a mudança de comportamento mediante uma data especial, como o Ano-novo, aniversário ou início do verão, não é um problema, pode funcionar e os estudiosos chamam isso de “efeito de recomeço”. É a tendência humana de considerar mudar em datas marcantes.
“Quando recomeçamos, esse momento nos proporciona uma espécie de lifting psicológico, pois esquecemos os fracassos anteriores e nos sentimos pessoas diferentes”.
Portanto, o verão ou Ano-novo podem ser o início, porém, é fundamental que a mudança seja mantida, ou seja, o estilo de vida seja alterado permanentemente. Para que os exercícios gerem benefícios, precisam ser praticados constantemente, bem como uma dieta saudável.
A dica é simples: sem radicalismos que não possam ser mantidos. Equilíbrio é a chave, por meio de mudanças progressivas e graduais.
Cuidado com a “força de vontade”
No dia a dia, superestimamos o potencial de nossa força de vontade. Acreditamos que conseguiremos tomar decisões em prol da nossa saúde no futuro, mas nem sempre isso é feito. De fato, sucumbimos às tentações imediatas disponíveis exageradamente em nosso ambiente, pois gastamos nosso autocontrole (o nome científico da força de vontade) ao longo do dia.
Tal desgaste é conhecido como depleção do ego e piora nossas decisões diárias. Na prática, fica difícil decidir ir para a academia após um longo dia de trabalho, quando é possível ficar no sofá assistindo séries ou no celular nas redes sociais.
Para resolver esse problema, sugere-se algumas medidas como relaxamento e a implementação de intenções. Para moderar o autocontrole, podemos adotar o planejamento “se-então”, no sentido de “se acontecer isso, faço aquilo”.
É um plano para economizar o gasto de autocontrole, mas funciona melhor se formos específicos, como: “Se chover hoje, em vez de correr na rua, pego o ônibus depois do trabalho direto para a academia, para correr em esteira”. Tenha planos: A, B e até o C.
Mudar a expectativa de um treino
Como somos vítimas do viés do presente, pois escolhemos fazer coisas gratificantes no momento, ao invés de coisas que geram recompensas no futuro, é preciso mudar a mentalidade para praticar exercícios. Objetivos distantes como saúde, hipertrofia e emagrecimento não nos motivam no aqui e agora.
Dessa forma, procure visualizar o que você ganhará durante e logo após uma única sessão de exercícios físicos. Se você estiver atento, pode perceber muitos ganhos imediatos: distração, bem-estar, melhora do humor, prazer, socialização e diversão são benefícios obtidos enquanto praticamos, mas também somos recompensados após os exercícios com relaxamento, prazer, sensação de energia, maior foco e concentração.
São essas recompensas que podem mudar nossa relação com exercícios: do sentir que deve para o querer praticar.
Autenticidade na modalidade
Embora modas e tendências prevaleçam no universo fitness e naturalmente sofremos influência delas, devido à necessidade universal de sermos aceitos socialmente, é preciso casar nossas preferências e necessidades individuais com uma modalidade de exercício ou esporte, de maneira autêntica.
Entenda se você prefere exercícios mais repetitivos, como corrida, natação ou musculação, ou se variações são importantes para você.
Nesse caso, o CrossFit, Yoga e Pilates podem ser opções. Os esportes coletivos são práticas que unem diversão, distração e pertencimento a um grupo, além da competição. Uma das vantagens do crescimento do mercado fitness é a variedade nas modalidades de exercício, portanto, experimente e aproveite.
Logo maduro, logo podre
Apesar do desejo de logo entrar em forma, aumentar força e resistência, a maioria dos resultados leva tempo, portanto, paciência. Um praticante iniciante, ao adotar intensidades de exercício elevadas ou máximas, pode responder negativamente nos âmbitos físico e afetivo, sentindo desprazer e dor muscular tardia em excesso.
Aspectos que são inimigos da aderência. A constância importa mais do que a intensidade na jornada de exercícios físicos.
Procrastinação
Ao sofrer com procrastinação para praticar exercícios, a cientista Katherine Milkman inventou uma solução: assistir séries (atividade prazerosa) somente enquanto se exercitava (atividade valiosa). Milkman chamou de agrupamento de tentações e testou a estratégia cientificamente, mostrando aumento de exercícios em quem agrupou o que queremos fazer com o que devemos fazer. É a, Netflix enquanto pedala em casa ou na esteira da academia.
Rotina fixa ou variável para exercícios
Somos aconselhados a praticar exercícios sempre na mesma hora ou período do dia com a ideia de construir um hábito. Porém, a ciência atual não confirma essa hipótese. A inflexibilidade parece ser inimiga da repetição do comportamento – algo crucial para construir e fortalecer hábitos.
Se fazemos algo somente no ambiente e condições perfeitas, nos tornamos pouco adaptativos. Considerando o ambiente que o mundo atual proporciona, é preciso ter a capacidade de mudar, independente do período e hora do dia. Encontre o que se ajusta à sua rotina.
- Descubra: Existe uma melhor hora para treinar?
As dicas para um projeto verão que culmine em mudança no estilo de vida permanentemente se resumem a: ter planos para um possível enfraquecimento da força de vontade, sentir os resultados imediatos do exercício, driblar a procrastinação, escolher autenticamente uma modalidade de exercícios e adotar uma rotina que funcione melhor para você, em vez de seguir dicas genéricas ou radicalismos das redes sociais.
***
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.
Fontes