Uma equipe de químicos da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA, decidiu contestar uma regra centenária dos livros de química orgânica: a chamada regra de Bredt. Proposta pelo químico alemão, essa “lei” afirma que as ligações duplas em moléculas orgânicas são impossíveis, ou quase impossíveis.
Em um comunicado de imprensa, os autores do estudo, publicado recentemente na revista Science, dizem que o problema com esse princípio é que ele é um axioma, ou seja, vem sendo aceito apenas com base em observações práticas, não em teoria pura.
- Descubra: Você já viu um átomo?
O novo artigo não é só um convite a reescrever os livros didáticos, mas também explica como produzir moléculas que violam abertamente a regra de Bredt, abrindo caminho para que elas sejam produzidas e usadas em reações. Chamada propositalmente de olefinas antibredt (ABO na sigla em inglês), essas moléculas poderiam ser “úteis na pesquisa farmacêutica”, afirma o release.
O que é a regra de Bredt?
Exemplo de uma olefina antibredt, considerada impossível.Fonte: Neil Garg/Divulgação
A regra de Bredt foi proposta pela primeira vez em 1902, mas só codificada em 1924, e se aplica a pequenas moléculas orgânicas, ou seja, baseadas em carbono, nas quais os átomos são estruturados em um par de anéis unidos (bicíclicos). Nesse caso, cada anel se conecta ao outro por três átomos.
Mas Bredt afirma que é impossível que essas moléculas consigam ter uma ligação dupla carbono-carbono em qualquer um dos átomos "cabeça de ponte", ou seja, aquelas que funcionam como pontos de conexão entre as diferentes partes de uma estrutura.
Essas moléculas com ligações duplas "impossíveis" são chamadas de olefinas e o problema apontado por Bredt é que ligações duplas carbono-carbono exigem que os átomos compartilhem seus elétrons. No entanto, os orbitais dos átomos da cabeça de ponte (onde os elétrons são encontrados) não se aproximam facilmente.
Como o estudo propõe substituir a regra de Bredt?
Notação de uma ligação dupla de carbono por Bredt: "Gibt Nicht"significa "não existe" em alemão.Fonte: Luca McDermott et al., Science, 2024
Para invalidar de vez a regra de Bredt, os autores demonstram como é possível criar vários tipos de ABOs, que se desviam da geometria convencional das olefinas ensinadas nos cursos de química orgânica atuais. Para o coautor Kenneth N. Trueblood, esse tipo de observação deveria funcionar apenas como uma diretriz e não como regra, pois "isso destrói a criatividade", conclui.
A receita de uma autêntica ABO inclui pegar moléculas similares de haletos de silila e tratá-las com uma fonte de flúor, removendo elementos específicos dessas moléculas, o que resulta em uma ligação dupla em posição incomum.
Segundo o pesquisador sênior, professor Neil Garg, “O que este estudo mostra é que, ao contrário de cem anos de sabedoria convencional, os químicos podem fazer e usar olefinas antibredt para fazer produtos de valor agregado”.
Gostou do conteúdo? Então, fique por dentro de mais estudos como esse aqui no TecMundo e aproveite para saber também, se interpretamos errado a 1ª Lei de Isaac Newton por 300 anos. Até mais!