Trabalhando em uma extensa e perigosa área marítima com 1,13 mil quilômetros que se estende do norte da Califórnia nos EUA até a Colúmbia Britânica no Canadá, um grupo de cientistas desenvolveu uma pesquisa titânica. Trata-se do primeiro levantamento da chamada Zona de Subducção de Cascádia, uma das maiores megathrusts da Terra.
Megathrust é um termo técnico para definir um tipo específico de falha geológica que, no caso de Cascádia, é uma placa tectônica no fundo do Oceano Pacífico que mergulha lentamente para leste, se enfiando sob a América do Norte. Nesse movimento, as placas eventualmente travam e criam tensões que, quando liberadas, produzem um choque capaz de provocar os maiores terremotos do mundo e tsunamis superiores a 30 metros de altura.
- Saiba também: Cientistas afirmam que uma zona de subducção poderia formar um "Anel de Fogo" capaz de engolir o Oceano Atlântico inteiro
Publicado recentemente na revista Science Advances, o estudo foi realizado a bordo de um navio de investigação que transportou alguns dos mais modernos instrumentos geofísicos para investigar a geologia das complexas estruturas submarinas de Cascádia. A pesquisa envolveu tanto a geometria da placa oceânica subduzida como a composição da placa norte-americana superior.
Como os cientistas estão tentando prever os terremotos de Cascádia?
Nesse esquema da Zona de Subducção de Cascádia, a placa do fundo do oceano (em cinza-claro) se move. Fonte: U.S. Geological Survey
Como na prática é impossível prever um terremoto de forma exata, o que os cientistas fazem é tentar compreender as estruturas e a mecânica da geologia subterrânea envolvida. O trabalho consiste em prever probabilidades de cenários, e auxiliar autoridades a criar códigos de construção e, no caso de um evento sísmico iminente, implantar sistemas de alarme.
No entanto, “os modelos atualmente utilizados pelas agências públicas baseavam-se em um conjunto limitado de dados antigos e de baixa qualidade da década de 1980”, afirmou em comunicado a líder do estudo, Suzanne Carbotte, da Universidade de Columbia. Segundo a geofísica marinha, o estudo atual "fornece uma nova estrutura para avaliação de riscos de terremotos e tsunamis", pois a geometria de Cascádia é muito mais complexa.
Para isso, durante os 41 dias do cruzeiro de investigação realizado em 2021, os pesquisadores foram literalmente fundo no oceano, para realizar a chamada sísmica de reflexão, na qual emitem poderosos pulsos sonoros (que atravessam as rochas) e analisam o tempo que os ecos levam para retornar. Essas informações são transformadas em imagens tridimensionais, como se fossem uma gigantesca ultrassonografia.
Conclusões do estudo da zona de subducção de Cascádia
Navio de pesquisa R/V Marcus Langseth, usado no levantamento de dados de Cascádia.Fonte: Office of Marine Operations, LDEO
Um dos principais achados da pesquisa é que a megathrust não é somente uma estrutura única, mas está, na verdade, segmentada em quatro seções, cada uma delas potencialmente protegida do movimento das outras. Isso acontece porque os diferentes segmentos estão separados por características geológicas enterradas, incluindo outras falhas que acabam funcionando como um amortecedor do movimento principal de Cascádia.
- Descubra: Por que cientistas da NASA estão preocupados com o crescimento de uma anomalia magnética no Brasil?
No geral, as topografias subterrâneas se mostram acidentadas, com a ocorrência de falhas e montes subduzidos, se esfregando e erodindo a placa superior, o que limita a distância para propagação de terremotos. Em contraste, a seção Vancouver-Washington, por ser mais tranquila, pode se romper de uma só vez ao longo de todo o seu comprimento, o que a torna a mais perigosa de Cascádia.
Com relação aos riscos de tsunami, o assunto fará parte de "um trabalho em andamento", que está a cargo do pesquisador Kelin Wang, do Serviço Geológico do Canadá, cuja equipe já está modelando o fundo do mar a leste da ilha de Vancouver. Os tsunamis ocorrem quando o leito marinho se desloca para cima ou para baixo durante um terremoto, enviando ondas gigantes para a superfície.
Ficou com alguma dúvida? Conte para gente em nossas redes sociais e não esqueça de compartilhar a matéria com os seus amigos. Se desejar aproveite para entender como a cada 2,4 milhões de anos Marte aumenta a circulação dos oceanos na Terra.
Fontes