Análises da forma de ondas sísmicas registradas em um terremoto de 2010, nas profundezas da cidade de Granada na Espanha, levaram uma equipe de pesquisadores a uma revelação surpreendente: uma placa oceânica subduzida sob o Mediterrâneo Ocidental, que ficou de cabeça para baixo.
Detalhada em um artigo publicado na revista The Seismic Record, a pesquisa projeta a imagem de uma placa tectônica empurrada para baixo da superfície terrestre, que desceu de forma anormalmente rápida para o manto terrestre. No trajeto, ela mudou sua orientação e se inverteu, fazendo com que o grande volume de água que carregava ficasse abaixo dela, no manto terrestre.
Além de relevante para a geologia, o achado amplia a compreensão dos processos tectônicos na região analisada, e dá novas pistas sobre a complexa estrutura tectônica da bacia do Mediterrâneo Ocidental. Lá, as placas da África e da Eurásia estão se movendo em direção uma à outra, levando à formação de cadeias de montanha em forma de arco, que caracteriza a região chamada Rif-Betic-Alboran.
Padrões incomuns de ondas em um terremoto antigo
Triângulos azuis marcam estações sísmicas em Espanha e Marrocos, e os vermelhos dão orientações sobre a placa invertida.Fonte: Sun & Müller
Em comunicado à imprensa, o primeiro autor do artigo, Daoyuan Sun, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, afirma que o objetivo inicial da pesquisa era só "compreender melhor os mecanismos profundos dos terremotos, já que vários estudos anteriores estudaram bem a fonte. Nossa intenção era apenas traçar as formas de onda por curiosidade", confessou o geólogo.
Porém, durante a análise dos dados das ondas sísmicas, os pesquisadores identificaram alguns padrões incomuns, como uma "longa coda [parte prolongada das ondas sísmicas após um terremoto] e uma fase extra". Essa fase adicional não ocorre em padrões usuais de atividades sísmicas.
Lajes subduzidas mostram geralmente uma camada de baixa velocidade em sua superfície, devido à quantidade de água que carregam, mas no atual estudo os pesquisadores detectaram a camada de baixa velocidade debaixo da placa, inclinando-se na direção nordeste. Dessa forma, este estudo é o primeiro a concluir que a laje está de ponta-cabeça, em vez de ficar na vertical ou inclinada.
Explicando terremotos profundos da Espanha
A placa tectônica sob a Cordilheira Bética formou o estreito de Gibraltar.Fonte: Getty Images
A posição dessa camada de baixa velocidade fornece uma possível explicação para os terremotos profundos da Espanha: a presença de silicatos de magnésio hidratados, minerais que, ao perder água, tornam-se quebradiços, dando origem a movimentos sísmicos em grandes profundidades.
A ocorrência de silicatos hidratados também fornece pistas seguras sobre a velocidade da subducção das placas naquela região.
Levando-se em conta uma idade relativamente jovem das profundezas do Mediterrâneo Ocidental para que a laje permaneça fria, diz Sun, "a velocidade de subducção deve ser bastante rápida, tal como uma velocidade moderada de cerca de 70 milímetros por ano", conclui.
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