Um dos mistérios da floresta amazônica, a chamada Terra Preta do Índio, foi objeto de um estudo recente de pesquisadores brasileiros e norte-americanos, liderados pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). A grande questão foi saber como um solo extensivamente lixiviado como o amazônico apresenta “terras escuras” inexplicavelmente férteis.
Essas manchas de fertilidade, ricas em componentes vitais como carbono, fósforo e potássio, têm sido detectadas por arqueólogos dentro e nos arredores de assentamentos humanos que datam de centenas a milhares de anos, mas também em aldeias modernas.
Para determinar se esse tipo de solo foi deliberadamente cultivado pelos povos originários, ou se trata apenas de um subproduto acidental de práticas agrícolas, os autores do estudo viajaram até o Território Indígena Kuikuro, na Amazônia brasileira, onde foram encontradas amostras de "terra preta de índio" atuais e outras de cerca de 5 mil anos.
Buscando amostras de terra preta de índio na floresta
A terra escura se concentra no meio da aldeia e também nas bordas.Fonte: Joshua Toney (coautor)
Logo ao chegar no assentamento Kuikuro II, os pesquisadores notaram que os moradores locais tinham como hábito acumular grandes monturos de resíduos orgânicos ricos em nutrientes derivados da pesca e da agricultura de mandioca.
Esse material é compostado após alguns anos, explicaram os aldeões, para fazer a terra escura, que é empregada em culturas que demandam nutrientes, pois não prosperam em solos amazônicos comuns.
Para testar a hipótese de que essas práticas atuais seriam as mesmas utilizadas num passado distante, os autores compararam a terra tratada de Kuikuro II com amostras retiradas de diversos sítios arqueológicos próximos, incluindo aldeias abandonadas da própria etnia atual.
Principais conclusões sobre a terra preta da Amazônia
Poço de teste em depósito de terra escura no sítio arqueológico de Ngokugu.Fonte: Schmidt et al.
As análises revelaram que a disposição espacial da terra escura antiga é a mesma do assentamento Kuikuro II atual. Em ambas, a disposição do material se encontra no centro da aldeia, com outras ocorrências para fora, até as bordas, como “raios de uma roda”. A composição também se mostrou idêntica, com concentrações dez vezes maiores de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, manganês e zinco em comparação aos solos não modificados.
O estudo conclui que os povos amazônicos vêm criando terra escura durante milhares de anos de forma deliberada e que “estas práticas de gestão do solo promoveram a produção de alimentos em solos de baixa fertilidade”. Além disso, “os antigos amazônicos colocaram muito carbono no solo, e muito disso ainda existe hoje”, destaca o coautor Samuel Goldberg.
Para o pós-doutorando do MIT, essa forma eficiente de armazenar grandes quantidades de carbono no solo é exatamente o "que queremos para os esforços de mitigação das alterações climáticas”. Ele propõe a adaptação das estratégias indígenas em uma escala maior, para reter carbono de forma duradoura para nossas futuras gerações.
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