Uma pesquisa internacional divulgada recentemente fez uma descoberta que contraria o modelo padrão da cosmologia atual: a primeira evidência de uma galáxia massiva sem matéria escura. Publicado na revista Astronomy and Astrophysics, o estudo analisa a galáxia NGC 1277, detectada pelo Telescópio Espacial Hubble em 2018 e localizada a 240 milhões de anos-luz de distância.
A matéria escura está presente em cerca de 85% da matéria do universo, sendo fundamental na formação e evolução de galáxias individuais e dos gigantescos aglomerados galácticos. Como se trata de uma matéria que não interage com a luz ou outras formas de radiação eletromagnética, ela não pode ser observada diretamente, mas apenas detectada através do seu efeito gravitacional no universo.
A NGC 1277 não é pequena: sua massa estelar é estimada em cerca de 150 bilhões de vezes a massa do Sol. Classificada como "galáxia-relíquia", isso significa que ela não mudou muito nos últimos 12 bilhões de anos. Por isso, entre 10% e 70% da sua massa deveriam ser constituídos de matéria escura. Mas as observações revelaram menos de 5% desse componente, sendo consistentes até com a sua completa ausência.
Como o estudo explica o "desaparecimento" da matéria escura?
Comparação artística entre NGC 1277 e uma galáxia elíptica comum com matéria escura.Fonte: Gabriel Pérez Díaz/IAC
Para esclarecer a ausência de matéria escura em NGC 1277, a coautora do estudo, Anna Ferré-Mateu, propõe em comunicado do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) que "a interação gravitacional com o meio circundante dentro do aglomerado de galáxias em que esta galáxia está situada despojou a matéria escura”.
Outra interpretação, diz a astrofísica, "é que a matéria escura foi expulsa do sistema quando a galáxia se formou pela fusão de fragmentos protogalácticos, que deu origem à galáxia-relíquia”. Esses fragmentos são enormes objetos de gás e poeira em processo de colapso.
Um desafio ao modelo padrão?
A galáxia-relíquia NGC 1277, livre de matéria escura.Fonte: NASA; ESA; M. Beasley/IAC
Apesar de plausíveis, as duas explicações apresentadas são rejeitadas pelos próprios autores que as consideram insatisfatórias. No release do IAC, o primeiro autor do estudo, Sebastién Comerón, afirma que o mistério de como uma galáxia massiva consegue se formar sem a matéria escura "continua sendo um quebra-cabeça”.
Paradoxalmente, a falta de matéria escura em uma galáxia traz uma encrenca séria para o modelo padrão de cosmologia, mas causa outro problema, ainda maior, para os defensores das teorias alternativas. “Embora a matéria escura em uma galáxia específica possa ser perdida", diz o coautor Ignacio Trujillo, a gravidade jamais poderá ser modificada.
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