Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Relógio inteligente, você tem um? Se tem provavelmente já observou uma meta de passos diária que acompanha ele de fábrica: 10 mil passos. Diversas marcas e modelos não somente de smartwatches, mas também de smartphones tem pedômetros, um dispositivo que conta nossos passos por meio de acelerômetros que estão contidos neles.
Esses acessórios fazem parte da chamada tecnologia vestível (que é acoplada ao corpo), que tem sido a tendência fitness número 1 no mundo há anos, segundo o Colégio Americano de Medicina do Esporte.
Entenda a origem da meta de 10 mil passos/dia
Um dispositivo chamado “Manpo-kei” foi lançado em 1965 pela empresa japonesa Yamasa Clock, esse nome se traduz em “medidor de 10 mil metros de passos”. A partir disso, algumas pesquisas reforçaram a crença da necessidade humana de caminhar 10 mil passos por dia, com alguns benefícios à saúde. Além disso, a marca 10 mil, é facilmente lembrada. Mas será que esse número é necessário? O que a ciência nos diz?
Contagem de passos é uma das funções dos smartwatches.Fonte: Getty Images
Precisamos de 10 mil passos por dia para saúde?
A verdade é que a meta de 10 mil passos tem mais a ver com marketing do que com dados científicos, por isso não fique frustrado caso não bater a meta estipulada.
Comece entendendo na prática: Uma média de passos indicada na literatura é de 100 passos por minuto. Faça um teste: caminhe 1 minuto e conte seus passos. Conte manualmente e compare com seus dispositivos: celular ou se tiver o relógio. Três mil passos em 30 minutos é uma meta recomendada mundialmente, correspondendo às recomendações de atividade física para saúde (que é de 150 minutos de atividade física moderada por semana).
Nessa conta, 1 hora de caminhada seria o correspondente a 6 mil passos, alguns dispositivos até já atualizaram a meta para esse número. A meta original de 10 mil passos (em torno de 8 km) implicaria em caminhar mais de uma hora e meia por dia, algo que pode ser inviável para muitas pessoas.
Foi criada uma classificação, para fins de pesquisa, para as pessoas de acordo com o número de passos:
- Sedentário: menos que 5 mil passos por dia;
- Baixo nível de atividade: entre 5 e 7,5 mil passos;
- Pouco ativo: de 7,5 até 10 mil passos;
- Ativo: de 10 a 12 mil passos;
- Altamente ativo: Acima de 12 mil passos.
Nossa intuição parece indicar para quanto mais passos melhor, não é mesmo? A ciência mais atual mostra que pode não ser exatamente assim. A necessidade de dar 10 mil passos por dia para saúde é mito.
A meta de 10 mil passos/dia tem mais a ver com marketing do que com dados científicosFonte: Getty Images
Uma pesquisa da Escola de Medicina de Harvard mostrou que o risco de morte pode ser reduzido significativamente com cerca de 4,4 mil passos por dia. Mulheres que deram 4,4 mil passos tiveram taxa de mortalidade mais baixa comparada às mulheres que deram 2,7 mil passos. Com mais passos, a taxa de mortalidade diminuiu em pessoas que andaram até 7,5 mil passos. Mas dar mais passos ainda não resultou em benefícios adicionais.
Outro estudo também confirmou que 10 mil passos por dia não são um requisito para viver mais. Pessoas que caminhavam cerca de 8 mil passos por dia tinham metade da probabilidade de morrer prematuramente de doenças cardíacas ou qualquer outra causa do que aquelas que acumulavam 4 mil passos por dia. Os benefícios estatísticos de passos adicionais foram pequenos, o que significa que não prejudicou as pessoas acumular mais passos diários, até e além da marca de 10 mil passos.
- Leia também: 6 modelos de smartwatch para monitorar sono e saúde
“Cada movimento conta” é o mais atual slogan da Organização Mundial de Saúde, visto a pandemia de inatividade física que o mundo vive. Caminhar talvez seja a forma mais simples de atividade física e exercícios. De fato, é importante que você aumente o número de passos por dia quando conseguir, porém o que pode te gerar prazer e mais benefícios físicos como aumento da força, é o exercício físico – sessões de musculação, CrossFit, corrida, Pilates, Yoga, esportes ou outros. A orientação é de que você tente aumentar suas atividades físicas durante o dia, se mexa o máximo que puder, mas saiba que maiores benefícios podem vir a partir de treinos regulares. Para isso é importante fazer algo que goste, pois a constância é mais importante que a intensidade, e lhe trará resultados.
***
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.
Fontes