Com um pedaço de papel kraft quimicamente tratado e três eletrodos, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram criar um sensor eletroquímico que permite a detecção, em tempo real, de pesticida em frutas e verduras. Conectado a um dispositivo eletrônico, o sensor identifica, com um simples contato a presença e a quantidade de carbendazim.
O carbendazim é um fungicida de amplo espectro que teve seu uso proibido no Brasil pela RDC nº 739, de 8 de agosto de 2022, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Apesar disso, continua sendo usado. O veneno produz, segundo a agência reguladora, "toxicidade significante", "potencial de produzir danos à saúde" e "induz mutações em células germinativas de seres humanos".
A detecção desse pesticida, que demanda hoje demorados processos químicos, pode ser simplificada com o uso dos sensores vestíveis, "como o que desenvolvemos para o monitoramento contínuo da concentração de pesticidas na agricultura e na indústria de alimentos", explicou à Agência FAPESP o professor do Instituto de Física de São Carlos, Osvaldo Novais de Oliveira Junior, um dos autores do estudo.
Como funciona o detector eletroquímico de carbendazim?
De acordo com o pós-doutorando e autor correspondente do artigo, José Luiz Bott Neto, o novo dispositivo se resume a um substrato de papel kraft (escolhido por sua natureza porosa) modificado com tinta de carbono e tratado eletroquimicamente em meio ácido para fazer a detecção. O ácido ativa grupos carboxílicos COOH, que adicionam átomos de oxigênio na estrutura do eletrodo de carbono.
O papel kraft foi escolhido por ter estrutura porosa (Getty Images)
Dessa forma, "Ao entrar em contato com uma amostra contaminada com carbendazim, o sensor induz uma reação de oxidação eletroquímica que permite a detecção do fungicida. Assim, a quantidade de carbendazim é medida via corrente elétrica”, explica Bott Neto à Agência FAPESP, instituição paulista de incentivo à pesquisa que apoiou o estudo por meio de três projetos.
Publicado na revista Food Chemistry, o trabalho também procurou entender a questão das propriedades do papel na sua fabricação. Para o primeiro autor do artigo, o pós-doutorando Thiago Serafim Martins, a maleabilidade do material "amplia o seu uso em vários campos, não apenas na agricultura ou no setor alimentício, mas em outras áreas como a da saúde, por exemplo”.
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