Pouca gente sabe, mas o Brasil possui uma base de lançamentos de foguetes espaciais que está em umas das localizações geográficas mais privilegiadas do planeta.
O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) está localizado no estado do Maranhão, na região da cidade de Alcântara, a cerca de 30 quilômetros de São Luís, capital do estado. A base de lançamentos celebra hoje, no primeiro dia de março, seus 40 anos de história.
Plataforma do Veículo Lançador de Satélites (VLS) no Centro de Lançamento de Alcântara, em foto de 2013Fonte: Força Aérea Brasileira
Pertencente à Agência Espacial Brasileira (AEB), o local é atualmente operado pela Força Aérea Brasileira (FAB). A base de Alcântara teve sua construção iniciada em 1982 e inaugurou suas operações de logística um ano mais tarde, em 1983.
Voltada para o lançamento de veículos espaciais para fora da atmosfera terrestre, incluindo foguetes, sondas e satélites, a base de Alcântara tornou-se inteiramente operacional em 1989, com o primeiro envio sendo feito em 1990, quando o foguete Sonda 2 XV-53 realizou os primeiros experimentos científicos em uma missão sub-orbital.
Região estratégica
O CLA foi instalado em uma região estratégica que é uma das melhores do mundo para se lançar foguetes ao espaço: está muito próximo à linha do Equador, a uma distância equivalente a apenas dois graus de latitude, e isso é importante por diversas razões.
A primeira delas é que a velocidade de rotação da Terra na altura do Equador favorece a propulsão dos veículos lançadores, contribuindo para uma economia significativa dos combustíveis propelentes utilizados nos foguetes, diminuindo gastos em até 30%. Isso se deve também ao fato de que, como a Terra é um esferoide oblato (isto é, achata-se à medida que as latitudes se aproximam dos polos), a linha do Equador está mais próxima do espaço e mais distante do centro da Terra, diminuindo tanto o percurso de ida quanto a força da gravidade que precisa ser vencida para tirar algo do chão.
Vista aérea do Centro de Lançamento de Alcântara, localizado no MaranhãoFonte: Força Aérea Brasileira
Além disso, a base de Alcântara possibilita lançamentos para todos os tipos de órbita; as horizontais, que seguem as faixas equatoriais, e as verticais, que seguem as faixas polares. A região de Alcântara possui ainda duas outras grandes vantagens: um baixo fluxo de tráfego aéreo e marítimo, que aumenta a segurança nas áreas de impacto que foguetes de múltiplos estágios necessitam, e as condições climáticas do Nordeste brasileiro possibilitam um clima estável, com ventos em índices aceitáveis e chuvas bem definidas que permitem lançamentos em praticamente qualquer época do ano.
Acidente
Em agosto de 2003, a base foi palco de uma das piores tragédias da história da ciência e tecnologia brasileira: três dias antes do lançamento do primeiro satélite de fabricação nacional, o foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS), que faria a viagem ao espaço, explodiu, matando 21 pessoas entre técnicos, cientistas e engenheiros.
O VLS passava por ajustes finais da Torre Móvel de Integração (TMI) quando uma ignição acidental de um dos motores resultou na explosão do protótipo. Esse acidente atrasou o funcionamento e o uso eficiente do CLA por meses, não apenas por conta dos danos estruturais, mas sobretudo pelas perdas humanas que compunham boa parte dos principais especialistas do país à época.
Diversos projetos e acordos nacionais e internacionais têm sido implementados nos últimos anos com objetivo de garantir, além de parcerias comerciais com outras empresas espaciais governamentais e privadas, uma evolução constante desta base que possui, sem dúvidas, um potencial gigantesco para ser um dos principais centros de lançamento espacial do mundo.
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