Cientistas conseguiram pela primeira vez gerar filhotes de camundongos a partir de um óvulo não-fertilizado. A partenogênese, nascimento de animais somente a partir do DNA da mãe, é comum na natureza, mas é inédito em mamíferos.
Filhotes de rato foram gerado apenas com o DNA da mãe (Fonte: Yanchang Wei/reproduçãoFonte: Yanchang Wei
Peixes, répteis, aracnídeos, insetos, todos esses bichos podem nascer exclusivamente de um ovo não fecundado. Nos mamíferos, entretanto, uma nova vida é gerada a partir da fecundação, isto é, combinação entre o material genético masculino e feminino.
Esse processo é importante porque gera variabilidade genética: carregamos códigos de DNA diferentes de nossos progenitores e isso pode nos ajudar, como espécie, a ser mais resistentes a doenças, por exemplo.
Entretanto, não é todo gene que se expressa. Mais interessante ainda, pesquisas anteriores haviam descoberto que apesar da maioria das células expressarem ambas cópias de DNA, em mamíferos, algumas não. Nessas apenas o material genético do pai ou da mãe eram transcritos em características reais.
Driblando o imprinting genômico
Foram essas exceções que estimularam os especialistas na realização da partenogênese dos camundongos. Um obstáculo, porém, era o imprinting genômico: os alelos maternos e paternos ativam e desativam a expressão de genes específicos, alguns deles determinantes para a formação da nova vida.
Para driblar o problema, os pesquisadores usaram CRISPR para editar o DNA dos óvulos. Através dessa técnica foi possível ativar os mesmos pontos do código genético que os alelos teriam alterado.
E finalmente os óvulos puderam ser implantados no útero das fêmeas e se tornar em um feto. Todos os filhotes sobreviveram ao parto, mas apenas um deles chegou à idade adulta — o sortudo pode até produzir seus próprios descendentes.
Os resultados do estudo mostram que a partenogênese em mamíferos é possível. O refinamento futuro que deve ocorrer no processo poderá levar a uma técnica útil para a aplicação em setores como a agricultura ou o desenvolvimento de fármacos.
ARTIGO Proceedings of the National Academy of Sciences: doi.org/10.1073/pnas.2115248119
Fontes