Em setembro de 2000, dois cadernos que pertenceram ao naturalista britânico Charles Darwin foram tirados do cofre da sala de Coleções Especiais da Biblioteca da Universidade de Cambridge (Reino Unido) para uma sessão de fotografia, e só retornaram agora, 22 anos depois.
Darwin foi um dos mais importantes cientistas da era moderna, que propôs com grande ineditismo a teoria da evolução, um dos pilares da biologia.
Os cadernos foram devolvidos embalados e em ótimas condições (Fonte: University of Cambridge/reprodução)Fonte: University of Cambridge
Os bloquinhos usados pelo cientista são pequenos, do tamanho de livros de bolso. Eles foram levados para a sessão de fotografias e, consta nos registros, foram devolvidos em sequência. Porém durante uma conferência de rotina, em 2001, constatou-se que estavam desaparecidos.
A equipe da biblioteca, no primeiro momento, acreditou que alguma confusão poderia ter sido feita, e que os cadernos estivessem guardados em outro lugar. O problema é que a Biblioteca da Universidade de Cambridge tem mais de dez milhões de itens.
Encontrar os blocos de anotação em meio a tantos livros, mapas, manuscritos e outros objetivos era, portanto, uma tarefa hercúlea. Após décadas de buscas infrutíferas, a bibliotecária Jéssica Gardner resolveu organizar uma força tarefa definitiva.
Busca e devolução
Após uma investigação sistemática, ela concluiu finalmente que os livros haviam sido retirados da biblioteca. Uma campanha foi lançada mundialmente com um apelo para que o material fosse devolvido.
No ínterim, a segurança da instituição foi reforçada quase completamente. Novas medidas foram implantadas, houve a instalação de novas salas fortes, e os funcionários foram classificados segundo diferentes níveis de acesso.
Em março de 2022, os cadernos foram misteriosamente devolvidos ao local de origem. Eles foram deixados no saguão da biblioteca dentro de suas caixas de proteção. O material foi colocado em um envelope dentro de uma sacola rosa brilhante.
Os itens estavam intactos, sem sinais de manuseio e com nenhum dano aparente. No envelope havia os dizeres: "Bibliotecário, Feliz Páscoa, X". Foi instaurada uma investigação policial, que segue em andamento.
"Meu sentimento de alívio pelo retorno seguro dos cadernos é profundo e quase impossível de expressar adequadamente", declara em nota a doutora Gardner. Para comemorar a devolução do material, eles serão colocados em exibição para o público na exposição Darwin in Conversation, a partir de 9 de julho.
Importância histórica
Segundo o vice-chanceler da universidade, professor Stephen Toope, materiais como esses são importantes para compreender a história de humanidade.
Os cadernos passaram por três semanas de testes para assegurar a legitimidade do material, antes que a biblioteca anunciasse sua recuperação.
Eles fazem parte de uma coleção batizada Transmutation Notebooks: série de publicações nas quais Darwin expôs, pela primeira vez, suas ideias sobre as transformações sofridas pelas espécies ao longo do tempo.
Jessica Gardner com um dos cadernos retornados (Fonte: University of Cambridge/reprodução)Fonte: University of Cambridge
Os livros recuperados levavam os rótulos B e C, por se tratar da segunda e terceira parte do conjunto. Eles foram escritos em 1837, quando o cientista tinha 28 anos e havia retornado da famosa viagem ao redor do mundo a bordo do HMS Beagle
Um dos blocos devolvidos contém o icônico esboço da Árvore da Vida de Darwin, desenhado na época do nascimento da teoria da evolução. Sobre a ilustração, o cientista cunhou a frase "Eu penso".
Muitas perguntas ainda continuam sem resposta. Onde os livros estiveram? Sob posse de quem? E quem os devolveu? A polícia pede que qualquer pessoa com informações entre em contato. As imagens das câmeras de segurança também serão analisadas.
Mas Jessica Gardner já está mais aliviada. "Fiquei com o coração partido ao saber da perda deles e minha alegria pelo retorno deles é imensa", afirma em entrevista para a BBC.