Pesquisadores desenvolveram um algoritmo que analisa gravações de voz para prever a ocorrência de problemas cardíacos associados à doença arterial coronária, consequência da obstrução dos vasos sanguíneos que levam sangue ao coração.
Examinando características como frequência, amplitude, tom e cadência das gravações, a tecnologia identificou indivíduos com probabilidade 2,6 vezes maior de apresentar problemas graves associados à doença e três vezes mais suscetíveis a ter o acúmulo de placa nas artérias identificado em testes médicos.
A detecção precoce de problemas do coração faz crescer as chances de sucesso do tratamentoFonte: Shutterstock
O autor principal do estudo, Jaskanwal Deep Singh Sara, sugere que, no futuro, a tecnologia de voz pode vir a complementar o trabalho médico e os métodos já existentes de cuidados em saúde: “O fornecimento de uma amostra de voz é muito intuitivo e até agradável para os pacientes, e pode tornar-se um meio escalável para melhorarmos a gestão dos pacientes.”
Como o algoritmo foi desenvolvido?
Baseado em inteligência artificial, o algoritmo foi treinado para analisar mais de oitenta atributos das gravações de voz, como frequência e tom. Para tal, foram utilizadas mais de 10 mil amostras de voz coletadas em Israel.
Ele foi utilizado em um estudo que solicitou a 108 participantes que, utilizando um aplicativo de celular, gravassem três amostras de voz de 30 segundos cada: na primeira, lendo um texto; na segunda, descrevendo uma experiência positiva; na terceira, uma experiência negativa. Após analisar as gravações, o algoritmo classificou o usuário com uma nota entre -1 e 1.
Os participantes foram acompanhados por dois anos pelos pesquisadores, que identificaram que 58% entre aqueles com notas mais altas visitaram o hospital com dores no peito ou apresentaram síndrome coronária aguda, enquanto este foi o caso de cerca de 30% dos participantes com pontuações mais baixas.
Pesquisadores dizem que, futuramente, a análise de voz poderá ser utilizada como coadjuvante aos profissionais e serviços de diagnóstico tradicionaisFonte: Shutterstock
Sara hipotetiza que tal fenômeno seja explicado pelo sistema nervoso autônomo, que regula alguns dos mecanismos da fala e do sistema cardiovascular. Assim, a voz poderia indicar o funcionamento deste sistema e consequentemente, do sistema cardiovascular.
“Nós mesmos não conseguimos escutar estas características em particular. Esta tecnologia usa machine learning para quantificar algo que não é facilmente quantificável para nós usando nossos cérebros e ouvidos humanos”, explica Sara.
Ele sugere que, futuramente, a análise de voz auxilie na identificação de indivíduos que se beneficiariam de um monitoramento mais próximo de eventos relacionados a doenças cardíacas.
O estudo foi apresentado dia 2 de abril, na 71ª Sessão Científica anual do American College of Cardiology, e simultaneamente publicado no periódico Mayo Clinic Proceedings.
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