Cerca de 3,3 milhões de crianças em todo o mundo perderam pelo menos um dos pais por mortes relacionadas à covid-19 durante a pandemia, segundo uma estimativa publicada na revista The Lancet Child & Adolescent Health no fim de fevereiro. No Brasil, quase 170 mil crianças foram afetadas pela morte de um dos pais, de acordo com o estudo.
Usando dados de mortalidade causada pelo coronavírus em 20 países para calcular a estimativa global, os pesquisadores analisaram o período de março de 2020 até outubro de 2021, e também levaram em consideração as mortes relacionadas indiretamente à covid-19, como aquelas causadas pelo acesso reduzido aos serviços de saúde devido à pandemia.
Além daqueles que perderam um dos pais, outras 1,8 milhões de crianças sofreram a perda de um familiar responsável que morava em sua casa devido ao coronavírus. No total, 5,2 milhões de crianças foram afetadas pela morte de um dos pais ou responsáveis, um número que superou a contagem de mortes por covid-19 no mesmo período, que até então era de 5 milhões.
Os pesquisadores também descobriram que os adolescentes entre 10 e 17 anos foram os mais afetados, correspondendo a quase duas em cada três crianças que perderam um dos pais. Também era mais comum que as crianças tivessem perdido um pai do que uma mãe, com os órfãos paternos representando 76,5% da estimativa.
Número de crianças afetadas pode ser ainda maior
Pesquisadores dizem que políticas de apoio às crianças afetadas precisam ser incluídas nos planos de controle da pandemia (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
De acordo com o artigo, o impacto real pode ter sido ainda maior, já que a análise ainda não incluiu a última onda da variante Ômicron.
Uma das autoras do estudo, Juliette Unwin, disse em comunicado que é provável que os números da estimativa aumentem conforme mais dados de mortalidade são disponibilizados. "Por exemplo, a OMS estima que dados concretos sobre mortes de covid-19 na África são limitados, e que é provável que eles sejam 10 vezes maiores do que os atualmente relatados", disse a pesquisadora.
Segundo os autores, políticas de apoio às crianças afetadas precisam ser incluídas nos planos globais e nacionais de controle da pandemia, já que a perda dos pais ou dos responsáveis está relacionada a um maior risco de problemas de saúde mental, gravidez na adolescência, violência sexual e doenças crônicas e infecciosas.
ARTIGO The Lancet: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(22)00005-0
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