Seja no Brasil ou no Reino Unido, músicas alegres e dançantes como Shivers, de Ed Sheeran, tendem a ser mais atraentes para pessoas extrovertidas; por outro lado, é improvável que alguém com perfil de ordem e obediência goste de músicas mais agressivas e com temas subversivos, como as da banda de rock estadunidense Rage Against the Machine.
As conclusões são de um estudo da Universidade de Cambridge, publicado no dia 8 de fevereiro no Journal of Personality and Social Psychology. Pesquisadores analisaram dados relativos à personalidade e gostos musicais de mais de 350 mil pessoas, espalhadas por 53 países e 6 continentes, e constataram que relações entre estes dois fatores se mantêm constantes ao redor do mundo.
Música Shivers, de Ed Sheeran, foi citada no texto de divulgação do estudo como exemplo de música alegre e dançante, preferência comum de pessoas extrovertidas.
Pessoas mais curiosas, imaginativas e criativas tendem a preferir músicas sofisticadas, com características complexas e intelectuais; já quem tem personalidade voltada à agradabilidade, que envolve cooperação, simpatia e confiança, pode gostar mais de canções como a romântica Shallow, cantada por Lady Gaga e Bradley Cooper no filme Nasce Uma Estrela.
Shallow, performada por Lady Gaga e Bradley Cooper no filme Nasce Uma Estrela, foi citada como exemplo de música suave, com temas sobre amor e relacionamentos.
Músicas intensas são comumente preferidas por pessoas neuróticas, o que surpreendeu os pesquisadores. “Pensamos que o neurótico provavelmente seguiria um de dois caminhos, ou preferindo música triste para expressar sua solidão, ou preferindo música alegre para mudar seu humor. Na verdade, em média, eles parecem preferir estilos musicais mais intensos, o que talvez reflita raiva e frustração interior”, explica o autor principal do estudo, David Greenberg.
O neuroticismo foi associado à preferência por músicas mais aceleradas e ousadas, como Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, e à tendência a não gostar de músicas suaves. Os cientistas supõem que isto se deve aos diferentes usos que as pessoas fazem da música, como para fins de catarse ou de mudança de humor, e pretendem se aprofundar no assunto nas próximas etapas da pesquisa.
Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, é um exemplo de música intensa preferida por pessoas neuróticas.
Gênero e localização também afetam preferências
Homens preferiram músicas intensas; mulheres priorizaram as suaves. A localização também impactou os resultados, com a associação entre ser extrovertido e gostar de músicas contemporâneas, alegres e dançantes, mais forte ao redor do Equador, especialmente na América Central e do Sul.
Mas, independentemente do país analisado, as relações entre gostos musicais e personalidade se mantiveram constantes. “As pessoas podem estar divididas por geografia, língua e cultura, mas se um introvertido em uma parte do mundo gosta da mesma música que um introvertido em outro lugar, isso sugere que a música pode ser uma ponte muito poderosa. A música ajuda as pessoas a se entenderem umas às outras e a encontrarem pontos em comum", afirma Greenberg.
O estudo tem limitações: a baixa participação de países africanos; todos os participantes serem falantes de língua inglesa; os dados serem referentes apenas a pessoas com acesso à internet, já que a pesquisa estava disponível online; os estilos musicais analisados serem provenientes predominantemente de culturas ocidentais; e o fato da exposição anterior a músicas influenciar preferências — apesar de o estudo ter usado músicas desconhecidas, todas ainda estavam no âmbito de gêneros e estilos musicais ocidentais.
Além disso, preferências musicais mudam, e a personalidade não é tão limitada. Greenberg destaca que o estudo serve como ponto de partida a novas descobertas: “As preferências musicais mudam e se transformam, não são estabelecidas em pedra. E não estamos sugerindo que alguém seja apenas extrovertido ou apenas aberto, todos nós temos combinações de traços de personalidade e combinações de preferências musicais de diferentes pontos fortes. Nossas descobertas são baseadas em médias e temos que iniciar em algum lugar para começar a ver e entender as conexões”, conclui o pesquisador.
Confira mais detalhes no artigo completo, disponível neste link.
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