A China construirá uma estação espacial que vai servir de usina para captar grandes quantidades de raios solares e atender às necessidades de energia na Terra. O projeto orbital tem como proposta aproveitar o Sol como uma fonte de energia renovável e limpa, com funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana. Para isso, foi desenvolvida uma tecnologia capaz de receber e enviar do espaço um feixe de luz para converter em eletricidade.
A instalação experimental teve início em 2018, com construções preliminares na vila de Heping, distrito de Bishan, localizado no sudoeste do país. Contudo, na época, o programa nacional de energia solar estimado em 100 milhões de yuans (US$ 15,4 milhões) foi interrompido em razão de seu alto custo, viabilidade e segurança da tecnologia.
A retomada aconteceu em junho de 2021, com o objetivo do governo em se tornar neutro em matrizes de carbono até 2060 — meta que contou com o apoio do setor. O programa está previsto para ser concluído até o final do ano.
Pesquisadores já conduziram testes em um balão a 300 metros de altitude. Quando a infraestrutura estiver pronta, a expectativa é a de receber a energia coletada a mais de 20 km da superfície através de um dirigível na estratosfera que servirá de local de uso duplo, para pesquisadores e militares.
O governo espera fornecer 1 megawatt de eletricidade até 2030 e aumentar sua capacidade de forma gradual. O objetivo final é chegar a 1 gigawatt — equivalente ao maior reator nuclear atual — em 2049, ano de comemoração ao 100º aniversário da República Popular da China.
Estação na Terra receberá a energia solar captada por uma usina espacial chinesaFonte: Unsplash/Reprodução
No início do mês, o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) anunciou o financiamento de um programa semelhante, chamado Projeto de Energia Solar Baseado no Espaço (SSPP) e previsto para 2023. Tais empreitadas podem indicar uma nova fase da corrida espacial, com nações na busca pela dominância de fontes energéticas alternativas — sustentáveis e limpas — em face do debate em torno da questão ambiental.
O esforço global atrás dessa tecnologia visa também apresentar uma alternativa para usinas terrestres de energia solar, cuja eficiência depende das operações apenas durante o dia. Além disso, outro problema está no fato de a atmosfera refletir ou absorver quase metade da energia da luz solar.
Para atingir o sucesso esperado, o feixe de energia emitido da estrutura espacial precisará atingir a estação terrestre de modo mais eficiente e preciso. Essa funcionalidade ocorrerá através do disparo de uma energia concentrada e focalizada na forma de micro-ondas de alta frequência.
Um dos desafios será o de aprimorar sistemas de controle para manter a mira dos painéis solares, os quais podem sofrer pequenas vibrações. Na Terra, a usina terá uma área de 2 hectares (2 mil metros quadrados), cercada por uma zona 5 vezes maior onde os residentes locais não estarão autorizados a entrar por questões de segurança, pois os riscos da instalação não podem ser desconsiderados.
Dentre esses perigos está a radiação; estudos revelaram que pessoas não poderiam viver a menos de 5 km da estação terrestre, quando ela estiver com o máximo de sua capacidade de energia. Outros problemas potenciais seriam falhas de comunicação em transportes, pois o feixe baseado na frequência de microondas afetaria sinais de wi-fi.
Além da função principal, a tecnologia pode ser aplicada em outras áreas, como na alimentação de drones e postos militares remotos. Entretanto, críticos do projeto destacam que a novidade pode ser transferida para atividades bélicas, com o feixe de energia apontado para acompanhar e derrubar potenciais ameaças em movimento — mísseis hipersônicos ou aeronaves — ou ainda para causar um blecaute de comunicação em uma cidade inteira.