A falta de saneamento e o descarte inadequado de remédios e outras substâncias, como o café que tomamos diariamente, pode estar prejudicando a biodiversidade no Rio Amazonas. Pesquisadores identificaram diversos componentes químicos prejudiciais para a vida aquática ao logo do rio e refletem sobre os potenciais riscos desse achado.
A descoberta foi feita por pesquisadores do projeto Silent Amazon, que agrupa equipes do Brasil, Espanha, Itália e Noruega. Como o nome do grupo pode sugerir, eles fazem investigações de problemas aparentemente silenciosos, mas que podem trazer consequências graves para o meio ambiente – e para nós, seres humanos.
A divulgação da pesquisa foi realizada por meio do Repórter Unicamp, programa da universidade paulista.
O que foi encontrado no rio?
Mais de 50 componentes químicos diferentes foram identificados (Fonte: Pexels)Fonte: Pexels
Os componentes encontrados nessa campanha – considerada a maior de monitoramento químico na região –, surpreendem pela quantidade e variedade. De acordo com os pesquisadores, ao menos 50 compostos diferentes foram identificados, entre eles:
- Cafeína
- Nicotina
- Paracetamol
- Hormônios
- Antibióticos
- Analgésicos
- Psicoestimulantes
- Pesticidas
- Agrotóxicos
Diversas áreas do rio – considerado o maior rio do mundo tanto em extensão como em volume de água – foram monitoradas. Em todas elas esses compostos químicos foram encontrados, o que levanta a bandeira vermelha sobre os riscos que a falta de saneamento básico e descarte inadequado tem causado para a vida ribeirinha e biodiversidade.
Mesmo os melhores sistemas de tratamento de esgoto do mundo não conseguem neutralizar completamente as substâncias que ingerimos e, depois, o corpo despeja naturalmente no vaso sanitário.
Quais são os riscos desses componentes no rio?
Essa poluição traz riscos para a diversidade e vida dos animais do rio amazônico (Fonte: Pexels)Fonte: Pexels
Andrea Waichman, professora da Universidade Federal da Amazônia (UFAM), destacou algumas consequências para esse problema identificado. Dependendo da concentração dos elementos químicos encontrados, a biodiversidade da vida aquática pode ficar comprometida, levando ao desaparecimento de algumas espécies.
Waichman destaca que mesmo o desaparecimento de uma pequena espécie do rio pode causar um efeito em cascata que prejudica outros animais dentro da cadeia alimentar. Até mesmo o ser humano pode sofrer consequências, uma vez que também nos aproveitamos dessa rede de diversidade biológica oferecida pelo rio.
Há ainda o risco para a saúde representado pelo contato direto com essas substâncias, já que a água do rio e seus afluentes também é usada para consumo em diversas comunidades ribeirinhas.
Rhaul de Oliveira, pós-doutorando da Faculdade de Tecnologia da Unicamp, também reforça os impactos negativos que a poluição pode ter na vida aquática da região.
A presença de hormônios na água, como o estrogênio e a progesterona presentes em pílulas anticoncepcionais e excretados pelo corpo humano, pode estimular o desenvolvimento de características femininas em alguns peixes (o que é chamado de reversão sexual). Isso impede a reprodução dessas espécies, dizimando populações inteiras e causando um desiquilíbrio para o ecossistema.
O que podemos fazer para evitar esse problema?
O saneamento básico é a principal medida para combater esse problema da poluição do rio (Fonte: Pixabay)Fonte: Pixabay
A dimensão do impacto real desse problema para a vida aquática e biodiversidade das espécies do Rio Amazonas ainda é muito difícil de mensurar. Porém, há casos bem documentados de como a falta de saneamento básico pode trazer prejuízos irreversíveis para o ser humano – como o caso mencionado por Oliveira.
Mas como impedir que esses compostos cheguem às águas?
Os cientistas apontam que o investimento em saneamento básico é essencial. Estudos revelam que a rede de atendimento cobre apenas 10% da população na região amazônica.
Além disso, o desenvolvimento de soluções tecnológicas para a limpeza dos rios também pode ajudar a reverter o problema. “É essencial que a gente encare esse desafio do desenvolvimento de tecnologias locais baseadas no conhecimento, valores e realidade da biodiversidade amazônica”, completa o pesquisador da Unicamp.
Se você quer saber mais sobre os resultados dessa pesquisa e como o grupo Silent Amazon tem trabalhado para conscientizar a população sobre os nossos impactos no rio amazônico, visite este link.
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