Surto de Covid-19 na Índia: nova variante não é única responsável

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Imagem: Indianos durante o festival religioso Kumbh Mela. Fonte: Pixabay

A Índia está em colapso. Com a maior média diária de casos registrada no mundo até o momento – 300 mil –, o país se tornou potencialmente perigoso para todo o planeta, pois pode se tornar berço de novas cepas do coronavírus. Mas a nova variante não é a única responsável pelo surto de Covid-19 que vêm matando aproximadamente 2,5 mil pessoas por dia no país – número divulgado pela Universidade Johns Hopkins.

O problema da Índia

A Índia tem quase 1,4 bilhão de habitantes. Em termos comparativos com o Brasil, são 6,5 vezes mais pessoas em um território de menos da metade do nosso. Essa densidade populacional, combinada com a baixa vacinação – apenas 10% da população foi vacinada – e baixa capacidade hospitalar, levou o país asiático ao caos, com falta de oxigênio, leitos e medicamentos.

No início do ano, a média de novos casos de coronavírus na Índia estava abaixo de 20 mil por dia. A situação de relativa calma levou autoridades a liberarem atividades como grandes encontros religiosos às margens do Rio Ganges. O aumento exponencial dos casos e mortes foi visto a partir da segunda metade de março: atualmente são 13 vezes mais casos por dia.

O festival Kumbh Mela reúne milhões de pessoas na Índia.O festival Kumbh Mela reúne milhões de pessoas na Índia.Fonte:  Pixabay 

De início, a suspeita pelo aumento de casos foi a variante encontrada pela primeira vez no país, a B. 1.617. Descoberta em outubro de 2020, a B. 1.617 tem uma mutação dupla, ou seja: duas alterações no vírus original. Isso a princípio pareceu chocante para leigos, mas se provou bastante comum na evolução de um vírus.

Segundo cientistas ouvidos recentemente pelo Financial Times, não há como saber se a variante é responsável pelo novo surto de coronavírus, já que a Índia realizou poucos sequenciamentos de genoma em relação ao tamanho de sua população, o que seria a única maneira de rastrear a evolução da cepa.

A variante da Índia é mais perigosa?

“Apesar do aumento de casos nessa segunda onda indiana, simplesmente não há evidências suficientes para culpar as variantes” disse Nancy Jaser, infectologista da GlobalData, companhia que acompanha e analisa mutações no vírus.

A extensão do envolvimento da variante B. 1.617 no surto indiano segue desconhecida, embora seja responsável por cerca de dois terços dos poucos genomas enviados pelo país ao banco de dados global GISAID.

Índia sequenciou poucos genomas.Índia sequenciou poucos genomas.Fonte:  Pixabay 

Jeffrey Barrett, diretor da Iniciativa Genômica Covid-19, de Cambridge, apontou que a Índia está lidando com diversas variantes ao mesmo tempo, como a britânica B.1.1.7 – que cientistas concluíram ser mais transmissível. “Há algumas evidências de várias epidemias sobrepostas acontecendo na Índia, ao invés de um surto monolítico”, afirmou Barrett. “O que faz sentido, já que é um país enorme e heterogêneo”, disse.

Há ainda os dados genômicos obtidos no Reino Unido: “O fato da variante originada na Índia não ter se espalhado pelo Reino Unido, mesmo estando no território desde fevereiro, sugere que ela não é tão transmissível quanto a B.1.1.7”, explicou Barrett.

O que pode ter causado o surto de Covid-19 na Índia?

Além das variantes presentes no país, da capacidade limitada dos hospitais e das baixas taxas de vacinação, decisões de líderes como o primeiro-ministro Narendra Modi, que permitiu grandes eventos religiosos e políticos, podem ter influenciado.

Foto de Ketut Subiyanto, pedindo para que indianos fiquem em casa.Foto de Ketut Subiyanto, pedindo para que indianos fiquem em casa.Fonte:  Pexels 

Para Michael Head, pesquisador sênior de saúde global na Universidade Southampton, no Reino Unido, “é a mistura de populações suscetíveis que leva à transmissão de infecções respiratórias”.

Head apontou como possíveis responsáveis pelo surto os encontros em massa na Índia em março e abril, decorrentes das campanhas políticas, partidas de cricket entre Índia e Inglaterra – com estádios lotados e poucos usando máscaras – e festivais religiosos como o Kumbh Mela, que reuniu milhões de pessoas.


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