Ondas gravitacionais desencadeadas por grandes tempestades de poeira podem causar o escape de gases atmosféricos de Marte para o espaço sideral, e isso não é bom sinal para assentamentos humanos, revelam dados da primeira pesquisa observacional realizada no Planeta Vermelho publicados pela Geophysical Letters.
Detectados a partir de uma análise da densidade do dióxido de carbono no ambiente conduzida a bordo de equipamentos da NASA, tais fatores representam complicações adicionais para uma possível transferência da civilização da Terra.
Erdal Yigit, professor associado de física na George Mason University, explica que, a cada ano que passa, a região "abre mão" de um material que ajudaria a aquecer o território extremamente frio, resultando, inclusive, na perda de seu campo magnético e de grande parte de sua atmosfera, algo que ocorre há pelo menos 4 bilhões de anos – um processo que, a princípio, não pode ser revertido. O problema, entretanto, não para por aqui.
"A atmosfera de Marte não pode sustentar água líquida em escalas e quantidades com as quais estamos familiarizados na Terra", explicou Yigit. "Se o planeta é tão seco e tão frio, então é muito difícil para a vida se formar; se formada, não dura muito." Além disso, complementa, as tempestades citadas não facilitam as coisas.
Chegar lá é difícil. Permanecer, então...Fonte: Reprodução
Capazes de cobrir enormes áreas de superfície, se ocorressem na Terra, apenas um dos eventos já observados afetaria os espaços da América do Norte à Ásia e da Antártica ao Polo Norte. E mais: eles também podem ser longos, durando entre dois e quatro meses, e são amplamente imprevisíveis. Isso "prenderia" colonizadores potenciais em cápsulas por lá e os impediria de atuar fora delas.
"Nosso estudo gerou mais perguntas que respostas", conta Erdal. "Se quisermos imaginar Marte como uma segunda casa, teríamos de lidar com esse problema [de fuga atmosférica]. O planeta estaria perdendo gás continuamente no espaço. Podemos parar o fenômeno?", questiona.
Ninguém disse que seria fácil, mas...
A pesquisa fez parte da Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN (MAVEN), missão do programa Mars Scout da NASA, que visa entender se existe ou pode haver vida no Planeta Vermelho, e seus resultados aparecem justamente no momento em que diversas outras incursões estão em andamento no local.
Exemplificando o transtorno de tais tempestades, Yigit indica: "Nas imagens, você pode ver que, se houver uma tempestade de areia, o planeta ficará completamente laranja, muito laranja. Se não houver, você verá a superfície [de Marte] pelos telescópios espaciais." Imagine, então, estar no meio disso tudo.
Eventos podem durar meses, o que não é uma boa coisa.Fonte: Reprodução
Ainda de acordo com o especialista, pesquisas adicionais podem confirmar a ideia de que tempestades de poeira, ondas gravitacionais e fuga atmosférica estão conectadas, criando, assim, uma referência para explorarmos ainda mais a sugestão de humanos residindo em Marte. Esta é uma tarefa à qual ele pretende se dedicar.
Por exemplo, geogenharia, em tese, é um dos métodos considerados para se alterar artificialmente o clima ou a atmosfera nada convidativos, mas ela só se tornaria uma aliada promissora com os devidos estudos.
De todo modo, se o objetivo for tornar Marte um lar para milhões de pessoas ou mais, existe um pré-requisito indispensável para que isso se concretize, destaca Yigit. É preciso que a região se torne habitável, o que, ao que parece, não está perto de acontecer.
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