Cianobactérias podem ser a solução ideal para a criação de sistemas de suporte à vida dedicados a astronautas que se aventurarem em viagens a Marte, aponta uma pesquisa liderada por Cyprien Verseux, astrobiólogo francês da Universidade de Bremen, Alemanha. Os organismos, indica o estudo, se reproduzem de maneira "excelente" sob as condições do Planeta Vermelho.
Avanços na área são fundamentais, uma vez que o trajeto de nove meses, exigidos por equipamentos disponíveis, apresenta empecilhos gigantescos a futuras tripulações. O tempo necessário para o envio de mantimentos, os custos envolvidos e os aspectos de segurança relacionados a transportes tornam inviável recargas constantes. Sendo assim, recursos devem ser gerados e reciclados. É aí que entram as "protagonistas".
Conhecidas principalmente como algas encontradas em lagos durante o verão, as cianobactérias estão entre os organismos vivos mais antigos do planeta e se adaptam bem a diversas condições extremas. Embora possam ser prejudiciais à saúde dos humanos em altas concentrações, todo seu potencial entra em ação em Marte.
Por exemplo, elas crescem absorvendo nitrogênio e carbono do ar. Além disso, por meio da fotossíntese, produzem oxigênio. Alimentadas por rochas e atmosfera marcianas, reduziriam a dependência das equipes da Terra, salienta Verseux.
Entretanto, antes de sua aplicação ser sugerida, foi preciso "determinar as condições atmosféricas ideais para o crescimento de cianobactérias do gênero Anabaena sp" e a "viabilidade técnica em Marte." O Atmos, desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Espacial Aplicada e Microgravidade da universidade, é que auxiliou a fornecer o ambiente em questão.
Cianobactérias encontradas em lagos podem auxiliar missões a Marte.Fonte: Reprodução
Missões sustentáveis
A atmosfera de Marte tem uma composição completamente diferente da encontrada na Terra, já que possui 95% de carbono e apenas pequenas quantidades de nitrogênio e argônio, contra 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e uma pequena quantidade de argônio e carbono presentes por aqui. Ao ajustarem o equipamento, buscando se aproximarem o máximo possível do que o Planeta Vermelho carrega, os cientistas notaram um crescimento expressivo de cianobactérias tanto em condições de gases (4% de carbono; 96% de nitrogênio) quanto de pressão atmosférica (100 hPa).
Os resultados, comemora a equipe, superaram expectativas. "Em primeiro lugar, porque a diferença de pressão entre o interior e o exterior do dispositivo seria apenas ligeira e, portanto, seriam colocadas exigências menos rigorosas sobre a construção. Em segundo lugar, porque seria possível gerar o gás necessário a partir da atmosfera local com processamento mínimo", ressalta o grupo.
"Nós demonstramos que as cianobactérias podem usar gases disponíveis na atmosfera marciana, a uma pressão total baixa, como sua fonte de carbono e nitrogênio. Nessas condições, as cianobactérias mantiveram sua capacidade de crescer em água contendo apenas poeira semelhante à de Marte e ainda poderiam ser usadas para alimentar outros micróbios. Isso poderia ajudar a tornar sustentáveis as missões de longo prazo", complementam os pesquisadores.
Sistemas de suporte à vida são fundamentais para astronautas.Fonte: Reprodução
Próximos passos
Ainda que as análises tenham revelado um futuro promissor, mais estudos são necessários, detalha Verseux. Nos próximos meses, ele e sua equipe planejam refinar o design do sistema de suporte de vida até o ponto em que possam melhorar sua capacidade de cultivar cianobactérias em Marte. Da mesma forma, eles querem aprimorar o uso, buscando produzir nutrientes para organismos biológicos em módulos subsequentes.
"Nosso biorreator não é o sistema de cultivo que usaríamos em Marte. Ele serve para testarmos, na Terra, as condições que forneceríamos lá. De todo modo, nossos resultados ajudarão a orientar o projeto de um sistema de cultivo marciano. Por exemplo, a pressão mais baixa indica que podemos desenvolver uma estrutura mais leve e mais facilmente transportável, pois não terá que aguentar grandes diferenças entre o interior e o exterior", concluiu o especialista.
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