Há algumas semanas, esse tweet de uma enfermeira chamou a atenção para o quão inexato pode ser o prognóstico de recuperação para pacientes que contraíram a gripe causada pelo novo coronavírus.
No caso da covid-19, “recuperação” não expressa bem o estado de saúde dos pacientes que não têm mais o vírus no corpo. Muitos dos pacientes que recebem alta continuam a sofrer dos sintomas causados pelo Sars-CoV-2.
“Se já existem muitos que se recuperaram da covid-19, também há relatos de pacientes que continuam a sentir efeitos colaterais duradouros decorrentes da infecção”, diz o imunologista William Petri, da Virginia University , em um artigo publicado no site The Conversation.
Doentes, mesmo curados
Um estudo restrito feito na Itália e publicado agora é um dos primeiros a confirmar o que médicos e pacientes do mundo inteiro relatam: os sintomas permanecem por mais de 2 meses depois de o vírus não ser mais detectado no organismo. O trabalho rastreou 143 pacientes (com idades entre 19 e 85 anos) de hospitais em Roma e, em média, o tempo de permanência na internação foi de 13 dias, com cerca de 20% deles entubados.
Dois meses depois de terem testado negativo para o vírus, somente 18 pessoas (12,6%) não apresentavam mais sintomas da gripe; 32% apresentavam até dois sintomas, enquanto 55% sofria com três ou mais sintomas típicos da doença — fadiga (53,1%), dificuldade em respirar (43,4%), dor nas articulações (27,3%) e no peito (21,7%). A tosse ainda atormentava mais de 10% dos recuperados; a mesma proporção de pacientes ainda não tinha olfato. Para 44,1% dos pacientes, a qualidade de vida piorou depois da doença.
A fadiga é o sintoma mais persistente depois da cura.Fonte: JAMA Network/Angelo Carfi
Essas são consequências que podem ser tratadas em casa e que trazem, mais do que tudo, desconforto. Outras afetam diretamente em como aqueles que se recuperaram da infecção por Sars-CoV-2 vão viver.
Cansaço e confusão mental
“Pacientes que foram levados para Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) têm risco substancial de delirium — estado caracterizado por confusão, dificuldade em prestar atenção, pela pouca consciência de si mesmo, do seu ambiente e do tempo, e até mesmo pela inabilidade de interagir com os outros. Essa não é uma complicação específica da covid-19, mas sim do tratamento em UTI”, explica Petri.
Segundo ele, essa confusão mental pode permanecer pelos meses seguintes em até 75% dos pacientes tratados. Pior que o delirium, porém, é a fadiga, que pode afetar a saúde mental daqueles que foram contaminados pelo novo coronavírus.
“Embora seja muito cedo para termos certeza disso, no caso da epidemia de Sars, em 2003, metade dos sobreviventes entrevistados se queixava de fadiga depois de mais de 3 anos. Isso significa que são importantes as intervenções na saúde mental dos sobreviventes da covid-19, para ajudá-los a lidar com uma convalescença prolongada”, diz o médico.
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