É inegável que, quando se fala em desenvolvimento de inteligência artificial e criação de sistemas automatizados, um questionamento surja na cabeça das pessoas: “Perderei meu emprego e serei substituído por uma máquina?” Cerca de 32% dos adultos residentes dos Estados Unidos temem que isso ocorra, de acordo com pesquisa da Blue Fountain Media. Agora, será que realmente chegaremos a um cenário no qual a mão de obra humana será completamente dispensada? E mais: quantos robôs substituíram trabalhadores nas últimas décadas? O economista Daron Acemoglu, professor do MIT, participou de um estudo a respeito do cenário e traz algumas respostas.
Segundo ele, os números levantados mostram que a entrada da robotização causou um impacto significativo na disponibilidade de empregos – ainda que varie de acordo com setores industriais e regiões dos EUA. Não são necessárias grandes preocupações quanto à substituição massiva de trabalhadores, mas ela não pode ser descartada.
Robôs não devem substituir mão de obra humana completamente.Fonte: Pixabay
Vamos aos dados: de 1990 a 2007, a pesquisa mostra que a inserção de uma máquina a cada mil trabalhadores reduziu a oferta de vagas nacionais em 0,2%, com margem de erro, claro. Ou seja, cada robô substituiu cerca de 3,3 pessoas no país. E o impacto não se reduziu à mão de obra: houve uma redução de salários de 0,4% no mesmo período.
“Existem efeitos negativos. Os trabalhadores realmente estão tendo prejuízos nas áreas mais afetadas, já que robôs são ótimos competidores”, afirma Daron.
Domínio de robôs
Dados de 19 setores industriais foram utilizados para conduzir o estudo, todos computados pela Federação Internacional de Robótica, que mantém estatísticas detalhadas relacionadas ao emprego de robôs no mundo todo. Então, os cientistas combinaram tais informações com aquelas que dizem respeito à população, e à oferta de empregos, negócios e salários nos EUA – divulgadas por órgãos estatais, como o Departamento do Censo, o de Comércio e a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas.
A partir disso, o emprego de robôs no país norte-americano foi comparado ao de outros lugares – o que mostrou que a Europa está na frente nessa prática, com a média de 1,6 robô a cada mil trabalhadores. “Ainda que a economia dos EUA seja tecnologicamente muito avançada, quando se fala em produção, uso e inovação de robôs, está atrás de muitas outras”, conta o pesquisador.
Por incrível que pareça, os EUA estão atrás de outras economias na questão da automação de tarefas.Fonte: Unsplash
Sobre a diversificação de aplicação dessas máquinas, Daron apontou que 70% dos robôs estão concentrados em quatro indústrias de manufatura. Enquanto 38% fazem parte da indústria automotiva, 15% pertencem ao setor de eletrônicos, 10% se encontram em indústrias químicas e de plástico e 7% nas metalúrgicas. A intensidade da presença deles em 722 zonas do país, essencialmente metropolitanas, demonstra uma variação geográfica considerável.
“Indústrias diferentes deixam marcas diferentes em locais igualmente diferentes. Detroit é onde o impacto de robôs é mais evidente. O que quer que aconteça com a indústria automotiva afeta muito mais a economia local”. A consideração diz respeito ao fato de que, quanto menos emprego de mão de obra humana ou variação de atuação, mais sujeito o local está às flutuações do mercado por depender fundamentalmente desses rendimentos. Nesses casos, estatisticamente, robôs substituem cerca de 6,6 humanos.
O lado bom das máquinas
Ainda que robôs influenciem diretamente na desigualdade de renda – afinal, as tarefas realizadas por eles eliminam funções que podem ser exercidas por trabalhadores sem tantas opções de atuação, baixando ainda mais seus salários –, outras indústrias e locais sem a presença forte da automação se beneficiam com redução do custo de materiais. Levando em conta todos esses fatores, os pesquisadores, finalmente, chegaram à resposta final: um robô substitui 3,3 pessoas nos EUA.
Trabalhadores da indústria manufatureira sofrem os maiores impactos com a adoção de robôs.Fonte: Pixabay
“O fardo recai sobre trabalhadores com menor qualificação. A automação exerceu um papel muito maior no aumento da desigualdade nos últimos 30 anos no país. Não acreditamos que robôs vão assumir todos os empregos da humanidade, mas isso não quer dizer que devamos ignorar os reais impactos que eles podem trazer à sociedade”, finaliza o pesquisador. O estudo foi publicado no periódico Journal of Political Economy.
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