John Fletcher é considerado um dos dramaturgos mais talentosos e influentes da literatura inglesa. A suspeita de que ele e Shakespeare haviam trabalhado juntos (pelo menos na tragédia Henrique VIII) surgiu em 1850 através do trabalho de James Spedding, escritor e editor da maior parte das obras de Francis Bacon.
Ele (e outros, posteriormente) estudou as características da escrita de cada um e notou que algumas manias de Fletcher (como usar determinadas palavras em detrimento de outras) também apareciam em Henrique VIII. Exatamente o que cada um escreveu sempre foi um assunto controverso (sabe-se que outras duas peças foram resultado de parceria: Os dois nobres parentes e Cardenio – esta, considerada perdida).
Inteligência artificial já é usada para identificar padrões distintos na forma como os autores escrevem (inclusive no Manuscrito Voynich). Agora, o pesquisador Petr Plechác, da Academia Tcheca de Ciências de Praga, usou rede neural para identificar, analisando os aspectos qualitativos e quantitativos da peça, quem escreveu o que em Henrique VIII.
Para reconhecer é preciso ler
Para treinar o algoritmo, Plechác usou as peças de Shakespeare Coriolano, Cimbelino, O Conto do Inverno e A Tempestade – obras da mesma época de Henrique VIII. O mesmo ele fez em relação às obras de Fletcher (Valentinian, Monsieur Thomas, Woman's Prize e Bonduca). Depois de aprender o estilo de um autor, o algoritmo pode reconhecê-lo em textos que nunca analisou.
Quando finalmente o algoritmo leu Henrique VIII, foi capaz de reconhecer que partes são de autoria de Shakespeare e quais são as linhas escritas por Fletcher.
A inteligência artificial chegou quase ao mesmo resultado que a análise de Spedding: Fletcher escreveu cenas inteiras de quase metade da peça (e ainda mudou o fim de cenas anteriores, de autoria de Shakespeare – em outras palavras, reescreveu as “deixas”). “Henrique VIII é, com grande confiabilidade, o resultado da colaboração entre William Shakespeare e John Fletcher”, concluiu Plechác.
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