Todo mundo sabe que uma lesão na medula espinhal resulta na perda permanente de força, sensibilidade e funções abaixo do local atingido. Embora aparelhos de reabilitação e tratamentos auxiliem na redução dos sintomas e uma cirurgia possa estabilizar o quadro, ainda não há uma maneira de reverter situações que já se prolongam em longo prazo.
Eis que a tecnologia pode ajudar a mudar isso: engenheiros e médicos da Universidade de Minnesota desenvolveram uma espécie de impressora 3D capaz de criar células para reposição nas áreas afetadas. Um guia produzido em 3D, feito de silicone, pode ser implantado na região lesada e serviria como “ponte” entre as células vivas acima e abaixo da lesão. A esperança é de que isso alivie as dores e possa recuperar algumas funções, a exemplo do controle dos músculos, do intestino e da bexiga.
Dispositivo imprimindo o guia da célula neural
"Esta é a primeira vez que alguém consegue imprimir células-tronco neurais em 3D diretamente derivadas de células humanas adultas, em um guia impresso em 3D, e fazer com que as células se diferenciem em células nervosas ativas no laboratório", explica Michael McAlpine, coautor do estudo.
Como funciona o processo?
No novo processo desenvolvido pela Universidade de Minnesota nesses 2 últimos anos, os pesquisadores começaram com uma célula adulta qualquer, como a da pele ou do sangue. Em seguida, usaram técnicas de bioengenharia e foram capazes de reprogramar as células em células-tronco neurais.
Os engenheiros imprimiram essas células em um guia de silicone com uma tecnologia de impressão 3D exclusiva, na qual o mesmo dispositivo é usado para imprimir as células e o guia, que as mantém vivas e permite que elas se transformem em neurônios. Depois, a equipe desenvolveu um protótipo de guia que pode ser implantado cirurgicamente na parte danificada da medula espinhal e ajudar a conectar as células vivas de cada lado da lesão.
Existem atualmente cerca de 285 mil pessoas com esse problema nos Estados Unidos, e 17 mil novos casos são registrados a cada ano
“Conseguimos usar as mais recentes técnicas de bioengenharia de células desenvolvidas nos últimos anos e combiná-las com técnicas de impressão 3D de ponta”, afirma Ann Parr, outra coautora do estudo. McAlpine destaca que, mesmo com alta tecnologia, desenvolver os protótipos das guias não foi fácil. “A impressão 3D de células tão delicadas é muito difícil, principalmente a parte de mantê-las vivas. Testamos várias ‘receitas’ no processo de impressão. O fato de conseguirmos manter 75% das células vivas durante o processo de impressão 3D e transformá-las em neurônios saudáveis é incrível.”
Existem atualmente cerca de 285 mil pessoas com esse problema nos Estados Unidos, e 17 mil novos casos são registrados a cada ano. No Japão esses números são de 200 mil e 5 mil, respectivamente. Já no Brasil, são 10 mil novos por temporada. Para se ter uma ideia, com os atuais procedimentos manuais, os técnicos podem cultivar células-tronco suficientes para tratar apenas 100 pacientes por ano, segundo dados do StemCorp.
"Descobrimos que transmitir quaisquer sinais através da lesão poderia melhorar as funções dos pacientes", disse Ann. “Há uma ideia de que as pessoas com lesões na medula espinhal só ficarão felizes se puderem andar novamente. Na realidade, a maioria quer coisas simples, como controle da bexiga, ou impedir movimentos incontroláveis de suas pernas. Essas soluções podem melhorar muito suas vidas.”