Basta passear em shoppings e centro comerciais que possuam lojas de eletrônicos para encontrar uma infinidade de modelos de smartphones “genéricos” — aqueles aparelhos que possuem marcas desconhecidas e que imitam o design e as funcionalidades dos dispositivos de fabricantes famosas.
A esmagadora maioria desses celulares é produzida em outros países, especialmente a China — e por isso ficaram conhecidos como “xing lings” —, exigindo que os comerciantes e até mesmo muitos consumidores finais importem tais produtos.
Essa é uma prática relativamente antiga, mas será que ela ainda é válida hoje em dia? O custo-benefício desse trâmite vale o esforço e o dinheiro gasto? São esses questionamentos que vamos abordar neste artigo.
Diferença de qualidade
No início da popularização dos smartphones, a qualidade média dos modelos de entrada e os dispositivos considerados intermediários era inferior ao padrão dos aparelhos dessas categorias que encontramos hoje. Tal discrepância se deve tanto às tecnologias disponíveis na época quanto ao desinteresse das fabricantes em investir nesses segmentos.
Assim, a aquisição de dispositivos no exterior e de menor qualidade era muito praticada. E isso era completamente compreensível, já que as características dos produtos nacionais eram pouca coisa superiores às dos importados, os quais atraiam a atenção dos consumidores com seus preços bem mais em conta.
O que mudou?
Com o tempo e o avanço desenfreados de novas tecnologias, esse cenário foi se transformando. Rapidamente, as novidades em modelos top de linha eram superadas por recursos e componentes mais potentes ou mais úteis. Assim, tais funcionalidades e dispositivos de hardware que se tornaram “ultrapassados” foram sendo empregados em eletrônicos menos badalados em ciclos cada vez mais curtos.
Além disso, as empresas enxergaram nesses mercados um meio de conseguir alavancar um número muito maior de clientes e, consequentemente, de aumentar seus lucros. Algumas companhias perceberam também que os consumidores desses segmentos estavam a cada dia mais exigentes.
Em resposta a essas percepções, as fabricantes começaram a investir em hardwares relativamente mais poderosos, softwares mais avançados e recursos ou serviços exclusivos para esses modelos menos requintados. Não demorou e determinados dispositivos apresentaram grandes crescimentos de mercado e, de forma indireta, forçaram as concorrentes a dar mais atenção para os eletrônicos de entrada e intermediários.
Depois da equiparação de qualidade, iniciou-se então uma disputa por preços mais atraentes e acessíveis aos consumidores que não querem ou não necessitam de muito requinte em seus celulares. Um exemplo de companhia que soube aproveitar essa onda é a Motorola, que ofereceu aparelhos de bom desempenho e preços interessantes ao lançar o Moto E e o Moto G.
Comparação rápida
Para elucidar melhor esse apontamento, resolvemos comparar preço e especificações do Moto G com uma série de aparelhos genéricos. O resultado das nossas pesquisas você confere na tabela abaixo.
Negócio de risco
Assim, se analisarmos o custo contra o desempenho e os recursos oferecidos, esse novo panorama da relação custo-benefício dos aparelhos xing ling mudou consideravelmente. Com a diferença de preços reduzida e o aumento da disparidade de qualidade, hoje em dia as pessoas estão mais propensas a gastar com equipamentos produzidos e comercializados por aqui.
Mas essa motivação ainda é reforçada por outros fatores intrínsecos à importação de um smartphone. A primeira coisa a ser observada é que, geralmente, o comprador perde qualquer tipo de garantia oferecida pela fabricante por estar levando o produto a um mercado que não possui cobertura de assistência técnica.
Além disso, é preciso levar em conta o tempo de entrega do dispositivo. Os serviços mais baratos de envio, somados à burocracia de inspeção e liberação pelas autoridades brasileiras, fazem com que encomendas levem meses para serem entregues. Mais do que o tempo, quanto maior for a viagem, maiores são os riscos de avarias ou extravio do eletrônico.
Como se tudo isso não bastasse, comprando um equipamento de baixa qualidade e sem as devidas certificações internacionais, você está correndo o risco de tê-lo inutilizado pela Agência Nacional de Telecomunicações. O órgão já colocou em funcionamento, embora ele ainda não esteja completamente ativo, o Sistema Integrado de Gestão de Aparelhos (Siga).
Trata-se de uma ferramenta para bloquear aparelhos eletrônicos piratas ou que não sejam homologados pela Anatel. O recurso ainda está em fase experimental, sendo usado inicialmente para analisar os dispositivos conectados à rede atualmente com o intuito de identificar quais poderão e deverão ser desativados. Para saber mais detalhes desse sistema, não deixe de ler este artigo e esta notícia.
Ainda existem boas alternativas lá fora
É importante deixar bem claro que um aparelho não é obrigatoriamente de menor qualidade por ser de origem asiática. Atualmente, podemos ver companhias da outra extremidade do globo terrestre, além das tradicionais sul-coreanas Samsung e LG, ganhando espaço em outros mercados, incluindo o brasileiro, com produtos de entrada, intermediários e os chamados “premium”.
Se pararmos para averiguar as capacidades técnicas e funcionais de muitos modelos desenvolvidos e fabricados na China, Taiwan e outros países da região, podemos ter gratas surpresas e devemos rever nossos conceitos sobre os rotulados xing lings. Um exemplo disso foi o Meizu MX, que já em 2011 chamou atenção de fãs da tecnologia em todo o mundo.
Meizu MX, o smartphone que fez muita gente mudar seu conceito sobre os "xing lings".
Asus, Xiaomi, Huawei, HTC, One Plus e Oppo são as principais companhias da Ásia que aos poucos se difundem por todos os continentes e ajudam a desmitificar esse paradigma de que os produtos feitos por lá são piores.
Assim, de maneira objetiva, não estamos dizendo que os consumidores brasileiros não devem procurar ou importar produtos chineses. Contudo, é importante ter cuidado na hora de escolher o smartphone e a sua origem de venda. Se você está decidido a comprar um modelo de fora, não deixe de ler nossas dicas desta matéria.