Foi dada a largada para a Campus Party 2016. Até o próximo domingo (31), milhares de fãs de empreendedorismo, inovação e cultura digital se juntarão no Centro de Exposições do Anhembi, em São Paulo para prestigiar um dos maiores encontros de tecnologia do mundo.
A feira, que completou nove anos no Brasil, comemora a data com o tema "Feel the Future" (Sinta o Futuro, em tradução livre), que tem como seu objetivo inspirar e preparar o público para os grandes desafios e mudanças que a humanidade vai enfrentar daqui para frente.
Durante a coletiva de abertura, na manhã desta terça-feira, Paco Ragageles, CEO e cofundador da Campus Party anunciou que o tema do evento em 2016 foi pensado após a publicação de diversos estudos que indicam que em um futuro próximo vários empregos que conhecemos hoje deixarão de existir.
Paco Ragageles, CEO e cofundador da Campus Party
"As mudanças serão tão grandes que devemos começar a pensar em uma sociedade sem empregos. Quase tudo será feito por máquinas. Stephen Hawking já afirmou que daqui uns 100 anos a inteligência artificial vai ultrapassar a humana. Por isso, criamos o tema 'Feel the Future', devemos dar início a uma nova forma de civilização desde já", afirmou o CEO.
CP em números
A Campus Party está sendo realizada no Centro de Exposições do Anhembi e ocupa uma área de 77,7 mil metros quadrados. Cerca de oito mil campuseiros de todo o país estão chegando em São Paulo para aproveitar os seis dias da feira. A organização do evento espera que mais de 120 mil visitantes passem pelo espaço até domingo.
Internet? Claro que tem! O fornecedor do serviço desta vez é a Telebras. A companhia disponibilizou uma conexão com velocidade de 40 GBps para todos que quiserem ligar suas máquinas aos cabos de rede espalhados por todo o pavilhão.
A Lei Rouanet
Para quem não sabe, a Campus Party sempre contou com uma forcinha da Lei Rouanet. Entretanto, este ano esse benefício foi negado aos organizadores, o que acarretou alguns problemas. Sendo assim, a diretoria do evento publicou uma carta aberta ao Ministério da Cultura.
No documento, Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party, afirma que o Ministério alegou que o incentivo foi negado por conta de o evento se tratar de uma feira de "tecnologia". Ele indaga que negar a cultura digital não é só negar o presente, mas, é também, excluir o futuro. Leia abaixo a carta na íntegra:
CARTA ABERTA AO MINISTRO DA CULTURA
Prezado Ministro da Cultura,
Sr. Juca Ferreira
Ao contrário do ocorrido em anos anteriores, o Ministério da Cultura negou o incentivo da Lei Rouanet à Campus Party. A motivação, expressada por altos funcionários do Ministério, foi de que a Campus Party é um evento de “tecnologia”. Gostaria de expressar aqui alguns conceitos para evitar esse mal entendido.
Negar incentivo à cultura digital não sé é negar o presente, é excluir do futuro milhões de jovens de todo o Brasil.
Entender que cultura é só música erudita, música folclórica e livros, além de injusto, é ter uma visão conservadora da cultura.
Os criadores de vídeo e arte digitais, designers, músicos digitais, criadores de jogos, blogueiros, modding, e tantos outros são expressões de arte e cultura atual.
Pensar que cultura é só pintura e não o modding, que cultura é só o cinema e não os vídeos independentes, que os e-books não são literatura, é uma visão arcaica e limitada.
Não se pode alegar ignorância, já que desde que a Campus Party existe, os Ministros da Cultura sempre estiveram presentes, desde Gilberto Gil, Marta Suplicy e você mesmo, Sr. Ministro.
http://www.cultura.gov.br/banner-2/-/asset_publisher/0u320bDyUU6Y/content/cultura- do-seculo-21-tem-muito-a-ver-com-a-campus-party-diz-ministro/10883
https://www.youtube.com/watch?v=BnLcCztCGaI
Não entendemos a incoerência do Ministério que nega o benefício da lei de incentivo ao maior acontecimento que existe no mundo nesse âmbito, que é a Campus Party, sendo a de São Paulo a maior edição dentre todos os países onde o evento opera.
No Ministério da Cultura talvez desconheçam que hoje a cultura digital tira dezenas de milhares de jovens do narcotráfico, dando oportunidades àqueles excluídos das universidades e até escolas. Eles hoje encontram a oportunidade de expressar-se com os FabLabs, que distintos prefeitos estão instalando nas periferias das mais importantes cidades brasileiras, gerando a maior revolução cultural que se possa imaginar.
Negar a cultura digital é como pensar que só se pode comunicar com jornais e não com um blog, que só existe o desenho pintado e não em 3D.
Obter a lei de incentivo não significa nenhum presente. Se é aplicada e utilizada como se deve, há ainda que convencer empresas de que o projeto é interessante. No Ministério da Cultura sabem que negar a lei de incentivo é, na prática, excluir as grandes empresas do Estado dos potenciais patrocinadores, já que elas estão obrigadas a participar, em primeira instância, por meio da Lei Rouanet. Negar esse incentivo em um momento de crise significa comprometer muitas iniciativas digitais. Subestimar as comunidades de cultura digital não é apenas injusto, é um grande erro político.
Tomo a liberdade de informar ao Sr. Ministro que está em curso uma mudança de paradigma cultural: é a primeira vez na história da humanidade que os filhos ensinam aos pais.
Considerar que o encontro de dezenas de milhares de jovens inteligentes, ativos, empreendededores que se movem em torno da cultura digital é uma atividade de tecnologia, é como pensar que um encontro de pintores é uma atividade relativa a pincéis e pinturas.
Hoje a tecnologia digital é transversal a todas as atividades humanas. Negá-la como eixo cultural é como negar a evolução da humanidade.
Não pouparemos esforços para demonstrar ao Ministério da Cultura que está equivocado, sobretudo quando discrimina a cultura digital.
Com o critério atualmente vigente no Ministério da Cultura, ficaríamos presos ao significado etimológico da palavra cultura, que se referia a cuidar das plantas e do gado, e não a cuidar do espírito, como logo evoluiu.
Sr. Ministro, seu Ministério negou não apenas uma lei de incentivo, negou a uma geração a oportunidade de cuidar de seu espírito com as modernas ferramentas que o mundo oferece.
Com todo meu respeito e admiração,
Francesco Farruggia Presidente
Instituto Campus Party
Contudo, durante a coletiva, Farruggia fez questão de deixar bem claro que sabe que o Ministro compartilha da mesma visão sobre a relevância da cultura digital. Entretanto, o processo de aprovação do incentivo é feito por uma comissão. "É problema do mecanismo pelo qual se concede o incentivo da Lei Rouanet e não do Ministro" afirmou.
Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party
A capital do país também vai receber a Campus Party
Durante o papo com os jornalistas, antes do início da feira, Farruggia também anunciou que Brasília receberá, em 2017, uma edição especial da Campus Party. A feira deverá acontecer no segundo semestre do próximo ano e trará um tema que deveria ser um padrão do local: "Dados Abertos e Transparência".
O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, compareceu ao Anhembi para prestigiar o evento. Além da capital federal, outras cidades também devem receber edições especiais da feira. Esses locais devem ser anunciados em breve.
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