A indústria de video games há anos segue os passos de Hollywood: ela se engendra no mercado de entretenimento, conquista as massas, barateia seus produtos e, então, movimenta trilhões de dólares por ano. Já se foi a época em que o Brasil era um país “oprimido” nesse nicho. Hoje – ainda com uma série de dificuldades, é claro –, o país está bem inserido no circuito, com produção local, desenvolvimento, alto consumo e, sobretudo, com apaixonados por games. Todos jogam games, falam sobre games, compram games.
Idealizada pelo empresário Marcelo Tavares, a Brasil Game Show nasceu no Rio de Janeiro há sete anos e hoje, em São Paulo, é o maior evento da categoria em toda a América Latina e o segundo maior do mundo em espaço ocupado, perdendo apenas para a E3 nesse quesito. Somando os altos e baixos, que balanço se pode fazer da edição de 2014, a maior até então?
Sabemos que o “custo-Brasil” não é barato e que muitas empresas desistem de montar estande no Expo Center Norte em função disso. Ainda assim, as que perseveram têm saldo positivo. Portanto, mesmo que exista um desequilíbrio, o resultado da equação é favorável ao mercado nacional e, sobretudo, aos jogadores. Afinal de contas, o país ganha projeção, importância internacional, e a tendência é que isso cresça cada vez mais.
Analisando os erros e os acertos, o BJ fez um rápido resumo do que rolou nessa BGS e pintou um possível panorama da edição de 2015. Vamos lá?
Em que pontos a BGS amadureceu?
Infraestrutura e espaço
A área da BGS é boa o suficiente para sediar um evento desse porte. A organização tomou a sábia decisão de ocupar todos os pavilhões do Expo Center Norte, na zona norte da capital paulista, para comportar os mais de 250 mil visitantes que circularam pelos corredores de cada espaço.
A circulação, portanto, se tornou mais agradável, confortável, e permitiu que os jogadores conferissem cada detalhe de perto – ainda que tivessem que encarar uma filinha de três a seis horas (The Order: 1886 foi o recordista).
As filas, aliás, não são “coisas do Brasil” não: em qualquer feira segmentada desse porte, existe a espera. Se há 500 pessoas querendo testar um jogo que oferece 30 estações de jogatina, e cada uma leva 5 minutos, faça as contas. Essa demora não é exclusividade do Brasil. E3, Gamescom e Tokyo Game Show enfrentam o mesmo impasse – a E3 talvez seja a mais branda por ser restrita à imprensa e a pessoas ligadas à indústria.
Aplicativo ninja!
Seguindo a tendência de qualquer evento grande e de porte internacional, a BGS 2014 se preparou bem com um belíssimo aplicativo disponível para todos: iOS, Android e Windows Phone.
Além das funções básicas – mapas, estandes, praça de alimentação etc. –, o app foi providencial para que usuários postassem fotos e informações diversas sobre o evento. A funcionalidase aproximou bastante do conceito de uma rede social, e o resultado foi absolutamente positivo.
Mercado nacional aquecido, perfil do jogador brasileiro: apaixonado
Os HUE BR são onipresentes, sim. Mas nem eles tiraram o brilho de ansiedade que reluzia nos olhos de cada visitante ali presente. Mesmo com filas homéricas, o sorriso estava estampado no rosto de cada pessoa, e essa felicidade se refletiu no espírito da feira: mostrar que o Brasil está no mapa mundial dos games, lado a lado de gigantes como EUA e Japão.
E isso foi ratificado por desenvolvedores e produtores que compareceram à ocasião. Personalidades como Ed Boon e Dennis Ries (de Halo: The Master Chief Collection) estiveram no país pela primeira vez e não pestanejaram em dizer que “os jogadores brasileiros são apaixonados e têm muita energia”. Sentir um mercado aquecido, que consome produtos, que fomenta a indústria, é sempre algo muito positivo, e a BGS expôs essas características.
Produtores internacionais
Conforme mencionado, Ed Boon e Dennis Ries são apenas algumas das figuras que botaram os pés no Brasil pela primeira vez. Envolvidos no desenvolvimento de Assassin’s Creed: Unity, Assassin’s Creed Rogue, The Crew, The Witcher 3, The Order: 1886, Middle-earth: Shadow of Mordor e tantos outros fizeram questão de conhecer o país só por causa da BGS e adoraram. O BJ conseguiu arrancar palavras de todos eles.
Games brasileiros e cenário indie
Toren foi um dos maiores destaques no cenário indie brasileiro. Ao lado dele, títulos que exploram as mitologias do folclore brasileiro ganharam destaque. Os jogos estavam alocados num pavilhão menos badalado da feira, mas nem por isso deixaram de dar seu tempero diferente ao evento.
A Sony continuou firme e forte em seu pelotão independente, com Chroma Squad como a estrela do evento, ao passo que a Microsoft delineou seu programa @ID Xbox, que traz títulos indies promissores para o Xbox One. Deles, cabe um asterisco para Fenix Rage, uma espécie de Super Meat Boy mais colorido (e igualmente difícil).
E em que pontos a BGS pode melhorar?
Presença de mais publishers
Gigantes como Activision, Warner Bros. e Ubisoft batem ponto na BGS. Mas o espaço poderia ser muito mais aproveitado – até porque havia muito espaço livre. Alguns “buracos” da feira poderiam ser preenchidos por Blizzard, Take-Two, Nintendo, Riot, Bethesda... Gigantes não faltam.
O “custo-Brasil”: preços abusivos para alugar espaços
Essa é uma tecla na qual batemos todo ano, e não tem jeito: os preços caros para que uma empresa tenha espaço ali assustam os executivos. Para que se tenha uma ideia, o preço do aluguel no pavilhão indie era de quase R$ 4 mil por apenas 4 metros quadrados de espaço. Para as gigantes, os valores por vezes ultrapassam os sete dígitos.
Sinalização
Placas, cartazes e balcões de informação eram atípicos na feira. Dificilmente o visitante encontrava um meio de se informar sem precisar recorrer a um membro do staff ou, quando encontrava, o funcionário nem sempre sabia responder com exatidão.
A distribuição de mapas mais setorizados e a inserção de placas – espalhadas de forma homogênea e farta – seriam algumas das soluções básicas que a organização poderia adotar para a edição do ano que vem.
Filas homéricas
Conforme mencionado, as filas existem em qualquer feira desse porte no mundo. E3, Gamescom, Tokyo Game Show, todas elas têm filas. Mas já que a BGS colocou à disposição tantos jogos quentes que ainda não saíram – Halo: The Master Chief Collection, Sunset Overdrive, The Order: 1886, Bloodborne, Until Dawn, entre tantos outros –, por que não aumentar a quantidade de displays? As filas formavam caracóis ao redor da feira.
Edição de 2015 garantida – Nintendo, cadê você?
Assim como ocorre todo ano, o BJ bateu um papo com o criador da BGS, Marcelo Tavares, no último dia da feira, e o empresário deu um panorama do evento ao mesmo tempo em que adiantou o horizonte para 2015.
Tal qual os jogadores, o empresário quer a presença da Nintendo e de mais publishers no ano que vem. A Big N tem um forte portfólio em 2015, seja para o 3DS ou para o Wii U, e a comunidade do Brasil é imprescindível para o sucesso da marca.
E você, compareceu à BGS 2014? O que achou da feira e o que espera em 2015? Não deixe de relatar sua experiência nos comentários abaixo.
Via BJ