Caso você já se interessasse por celulares e aparelhos eletrônicos de ponta há quase dez anos, é bem provável que veja a BlackBerry como uma empresa inovadora e forte, mas que perdeu o rumo com o passar do tempo. Afinal de contas, a antiga RIM foi a companhia que praticamente fez nascer o segmento de smartphones.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Por conta dos primeiros aparelhos BlackBerry, as pessoas (principalmente executivos) puderam utilizar os seus celulares para mandar emails e acessar a internet de uma maneira dinâmica, fazendo surgir o conceito de um aparelho inteligente. Tanto que ela foi símbolo de inovação e de qualidade por alguns anos.
Contudo, mesmo com essa posição de grande vantagem dentro do mercado mobile, a BlackBerry não é mais a grande companhia que foi um dia. Muito pelo contrário. A liderança do mercado de smartphones está dividia entre Apple, Google e Samsung, sendo que a RIM está lutando para continuar ativa.
A questão é: o que deu errado no meio do caminho? Se você também tem essa curiosidade e deseja algumas respostas, basta continuar lendo este artigo.
Os problemas vieram diretamente de cima
Mike Lazaridis, um dos fundadores da BlackBerry. (Fonte da imagem: Reprodução/BlackBerryEmpire)
Assim como muita gente já deve imaginar, as dificuldades da BlackBerry começaram com a chegada da Apple ao mercado de smartphones (2007), que foi acompanhada de perto pela Google e Samsung. Com isso, novos modelos de ótimos celulares entraram na disputa por consumidores, assim como estes aparelhos passaram a ser vistos como objetos de consumo e não como acessórios de trabalho — o que simplesmente tirou o foco da BlackBerry.
Dessa maneira, a única solução era a inovação. Contudo, os CEOs que gerenciavam a companhia na época — Mike Lazaridis e Jim Balsillie, os fundadores da RIM — não estavam tão abertos a mudanças. Afinal de contas, a empresa era a responsável pelo surgimento de um segmento de mercado e ainda estava indo muito bem nele. E é claro que essa “inércia” foi bastante prejudicial no decorrer dos anos.
Criando aquela “bola de neve”...
O primeiro golpe que começou a desconstruir o império da BlackBerry foi a exigência da Índia e do Oriente Médio de utilizar uma vigilância em cima dos smartphones da companhia, com o objetivo de obter mensagens variadas e trocas de email. Com isso, colocou-se em dúvida a segurança dos dispositivos da RIM, característica que era o orgulho da empresa.
Isso aconteceu no ano de 2011, sendo que Lazaridis não soube como contornar a situação. Somando isso à relativa falta de inovação, formou-se uma “bola de neve” que gerou outras decisões erradas ao logo do tempo, fazendo com que a BlackBerry pagasse pelo caminho escolhido pelos seus dirigentes.
A aposta da virada. Mas que virada?
Quando a Apple lançou o seu primeiro iPad (em 2010) e o mercado de tablets começou a "girar", a BlackBerry viu uma oportunidade de virar o jogo e voltar a ser uma companhia realmente expressiva e líder de mercado. No entanto, ela acabou se atrasando e precisou competir com os modelos já ofertados pela Samsung.
Mesmo assim, ainda no ano de 2010, a RIM colocou no mercado o seu próprio tablet, que se chamava PlayBook. O público consumidor focado pela companhia era um tanto quanto diferente do visado pelos concorrentes, já que a intenção era oferecer um dispositivo para quem precisasse trabalhar com ele.
Os funcionários importantes que deixaram a BB em 2011. (Fonte da imagem: Reprodução/TheVerge)
Acontece que o software oferecido pela BlackBerry era especialmente fraco quando comparado com o de outros tablets — o sistema operacional não tinha nem mesmo um calendário, divisão para contatos ou serviço de email nativo, função pela qual a empresa sempre foi conhecida. Por conta disso, as vendas acabaram sendo realmente fracas, resultando em um prejuízo anual de incríveis US$ 485 milhões (o equivalente a mais de R$ 1 bilhão).
Como já era de se esperar, a RIM acabou se vendo obrigada a demitir 2 mil funcionários, diminuindo sua força de trabalho mundial em 10%. Logo depois disso, diversos executivos-chave da companhia optaram por deixar seus cargos, incluindo o vice-presidente de Marketing Digital e um dos COOs — ou seja, gente realmente importante.
A empresa no lugar em que está
(Fonte da imagem: Reprodução/Abril)
Os problemas gerados a partir do PlayBook chegaram até o ano de 2011. Neste meio tempo, mais demissões aconteceram e a BlackBerry se viu despreparada para conseguir competir com outras companhias que trabalhavam dentro do mercado de aparelhos mobile. A maior aposta era o BlackBerry 10, mas a sua entrega sofreu atrasos e ele acabou chegando de fato ao mercado somente em 2013.
Por conta disso, ainda no fim de 2011, o valor da RIM caiu em 70%. A crise foi tão grande que uma das alternativas para angariar fundos era a venda de patentes ou de uma parte da própria empresa. No entanto, essas soluções foram recusadas, sendo que o alcance de mercado da companhia continuou caindo.
Devido a todos esses problemas e aos prejuízos recorrentes, a BlackBerry acabou ficando cada vez mais longe da liderança do segmento de mercado que ela ajudou a criar. Hoje em dia, a empresa encara grandes problemas financeiros, sendo que ela chegou a cogitar novamente a sua venda e não é mais a grande organização que era há alguns anos.
Palpites para o futuro da BB
John S. Chen, o novo CEO da BlackBerry. (Fonte da imagem: Reprodução/BlackBerryEmpire)
Levando em consideração a queda de todo o império da antiga RIM, a questão que fica é: a BlackBerry vai conseguir se reerguer? A única resposta possível é que ninguém sabe. No entanto, o pessoal da empresa está trabalhando para que isso aconteça — e eles realmente acreditam que é possível, o que já um bom sinal.
Assim como já de se esperar, os CEOs da empresa mudaram algumas vezes durante esses anos. Assim, a última pessoa a assumir este cargo foi John S. Chen — e ele vai ganhar US$ 1 milhão por ano para reestruturar a BB. Ele tem experiência em salvar organizações, sendo que o seu currículo conta com o “ressurgimento” da Sybase, que praticamente faliu no final da década de 1990.
Até que a contratação de Chen fosse anunciada, acreditava-se que a BlackBerry realmente fosse vendida — havia informações de que até mesmo o Facebook poderia ser uma das compradoras, assim como a Lenovo. Contudo, esta decisão não era algo popular entre os investidores e foi descartada com a entrada do novo presidente-executivo.
Não há nada garantido
Outra solução que foi anunciada na mídia seria a repartição da empresa, algo que foi prontamente negado pela BlackBerry, por ser contra o interesse de todos os colaboradores. No entanto, diferentes empresas — Apple e Microsoft são dois bons exemplos — se interessaram em comprar patentes e outras em adquirir partes da companhia.
Mesmo assim, por enquanto a BlackBerry se mantém firme na resolução de se reerguer sozinha — tanto que os investidores injetaram alguns milhões de dólares visando a renovação da companhia. Contudo, as duas opções de ação citadas acima talvez venham a acontecer caso Chen falhe na sua missão. Desse modo, tudo o que podemos fazer é esperar e torcer para que a RIM volte a ser tudo o que foi um dia.
Categorias