*Por Francisco Forbes
As ciclovias, originalmente criadas para oferecer um espaço seguro aos ciclistas, estão se tornando áreas de risco, onde corredores e motos elétricas vêm transformando essas vias em zonas de conflito e acidentes. O que deveria ser um ambiente dedicado à mobilidade sustentável e ágil tem se tornado palco de perigos crescentes, devido à falta de fiscalização e ao uso inadequado desses espaços.
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Correr nas ciclovias pode parecer inofensivo, mas a realidade é muito diferente. Com ciclistas atingindo velocidades médias de 20 a 25 km/h, enquanto corredores se mantêm entre 8 e 15 km/h, o descompasso entre as velocidades é um fator importante de risco.
Desvios bruscos, mudanças inesperadas de direção e a diferença de ritmo podem facilmente levar a colisões. Estudos recentes em São Paulo mostram que cerca de 20% dos acidentes relatados nas ciclovias envolvem corredores ou pedestres que invadem essas vias.
Além dos corredores, o uso de motos elétricas nas ciclovias é outro fator alarmante. O Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), por meio da resolução nº 996/2023, estabelece que apenas bicicletas, patinetes e bicicletas elétricas com velocidade limitada a 20 km/h podem circular nas ciclovias.
No entanto, o que se vê na prática é a presença de motos elétricas, que ultrapassam esse limite de velocidade, dividindo o espaço com ciclistas, o que agrava o risco de colisões. Esses veículos não deveriam estar nessas vias, mas a fiscalização praticamente inexistente em muitas cidades permite que essa prática perigosa continue.
Cidades como Curitiba e Recife também enfrentam os mesmos desafios. Em Curitiba, onde as ciclovias são parte de um sistema bem desenvolvido de mobilidade urbana, o uso indevido de veículos motorizados e corredores tem causado problemas constantes. Já em Recife, as campanhas de conscientização sobre o uso adequado das ciclovias têm sido frequentes, mas ainda insuficientes para conter os acidentes.
Ambiente dedicado à mobilidade sustentável tem se tornado palco de perigos crescentes nas cidades.
Em países como a Alemanha e a Holanda, o uso das ciclovias é estritamente regulamentado. Em Amsterdã, considerada uma das cidades mais amigáveis para ciclistas no mundo, corredores e motos elétricas são proibidos de circular nas ciclovias, e a fiscalização é rigorosa, com multas severas para os infratores.
Na Alemanha, bicicletas e patinetes podem usar a ciclovia; motos elétricas e corredores são completamente proibidos. Essas políticas visam garantir a segurança dos ciclistas e reduzir o número de acidentes nas ciclovias.
No Brasil, a realidade é outra. Embora o CONTRAN regule o uso de patinetes e bicicletas elétricas nas ciclovias, a falta de fiscalização efetiva permite que motos elétricas continuem utilizando essas vias de maneira irregular. Mesmo corredores, que não são diretamente regulados, acabam utilizando as ciclovias por acreditarem que são mais seguras e menos congestionadas do que as calçadas. No entanto, essa prática não só coloca em risco os próprios corredores, como também afeta diretamente a segurança dos ciclistas.
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Em São Paulo, onde a malha cicloviária se expandiu para mais de 680 km, os acidentes envolvendo patinetes e motos elétricas aumentaram em 25% nos últimos dois anos. No Rio, a combinação de corredores e motos elétricas nas ciclovias da orla de Copacabana tornou essa área uma das mais perigosas para ciclistas. A falta de fiscalização é uma constante nas grandes cidades brasileiras, o que resulta em um aumento crescente de colisões e incidentes graves.
Os corredores, embora acreditem estar usando um espaço mais adequado, não percebem o perigo que representam para os ciclistas. Ciclovias são projetadas para o tráfego rápido e contínuo de bicicletas, e a presença de pedestres ou corredores interrompe essa dinâmica, aumentando as chances de acidentes. Ciclistas precisam desviar bruscamente ou reduzir a velocidade, o que pode resultar em colisões, especialmente em vias mais estreitas e congestionadas.
A situação piora com a presença de motos elétricas, que muitas vezes ultrapassam os limites de velocidade estabelecidos e competem diretamente com bicicletas nas ciclovias. A diferença de peso e potência entre esses veículos e as bicicletas coloca os ciclistas em desvantagem, e a falta de controle das autoridades contribui para esse cenário de insegurança.
Soluções devem ser inclusivas
Campanhas educativas são importantes, mas é essencial que sejam acompanhadas de medidas mais rigorosas de fiscalização e aplicação de multas para quem utiliza as ciclovias de maneira indevida, sejam corredores, sejam condutores de motos elétricas.
As ciclovias no Brasil são uma grande conquista para a mobilidade urbana, mas sem regras claras e uma fiscalização eficiente, correm o risco de perder sua função principal.
O momento de agir é agora, antes que mais acidentes transformem as ciclovias em áreas de perigo constante para todos os que dependem delas para se locomover de forma segura e sustentável.
Fica aqui a reflexão: deveríamos proibir corredores e veículos elétricos nas ciclovias ou buscar soluções mais inclusivas, como a criação de faixas dedicadas para esses modais?
Afinal, tanto corredores quanto motos elétricas representam exemplos claros de mobilidade sustentável. O problema não está em sua presença nas cidades, mas na falta de um espaço adequado para que todos possam coexistir de maneira segura.
Assim como as bicicletas conquistaram seu lugar nas últimas décadas, talvez seja hora de repensar o planejamento urbano e considerar a duplicação de ciclovias ou a criação de faixas adicionais.
Em cidades com um trânsito já saturado de veículos a combustão, a expansão dessas áreas exclusivas para mobilidade sustentável poderia também incluir restrições mais rígidas à circulação de carros, especialmente em zonas centrais.
Essa abordagem não só aumentaria a segurança, como também contribuiria para um modelo de transporte mais verde e eficiente.
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Francisco Forbes é CEO da Whoosh BR, multinacional líder em micromobilidade que promete restabelecer as patinetes elétricas como um meio de transporte no país. Fundador da Infracommerce e Seed Digital. Foi diretor da Hyperloop Transportation Technologies (US), é investidor e professor.
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