Armas nucleares, quem diria, poderão salvar a vida dos terráqueos (Fonte da imagem: ShutterStock)
O tema é comum nas produções de Hollywood: um meteoro enorme se aproxima da Terra e os humanos serão extintos, como foram os dinossauros, milhões de anos atrás. A partir dessa premissa, sucessos como “Armagedom” e “Impacto Profundo” abusam dos dramas pessoais das personagens até o momento em que a ameaça (ou o planeta) é destruída.
Porém, o que poucos sabem é que, aqui na Terra, há pessoas cujos trabalhos envolvem encontrar a solução para uma situação semelhante na vida real. Em outras palavras, estamos falando não de cientistas que catalogam asteroides, mas que tentam encontrar maneiras de nos salvar deles.
Um desses profissionais é Robert Weaver, do Laboratório Nacional de Los Alamos (LANL). E como o disparo de mísseis e o lançamento de espaçonaves não são triviais, que podem ser feitos cotidianamente, o trabalho de Weaver consiste em simular ― no supercomputador Cielo ― como seria a aniquilação de um asteroide por meio de armas nucleares de 1 megaton, o que equivale a 50 vezes o poder de destruição das bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial.
Solução de acordo com o contexto
Em entrevista para a Popular Science, Weaver afirma que existe mais de uma maneira de afastar um asteroide para longe do nosso mundo. Uma delas seria a possibilidade de enviarmos uma espaçonave até a enorme pedra espacial e, então, tirar o corpo celeste da rota de colisão. Nessa ocasião, um laser também poderia ser usado em um dos lados da rocha para esquentá-la a ponto de alterar suas características orbitais e seu percurso.
Porém, essa seria a solução para casos em que a humanidade teria tempo suficiente de planejar o lançamento e eliminar a ameaça no espaço profundo, bem longe da querida Terra. Se um asteroide surgir “do nada” e o tempo para desviá-lo seja de apenas poucos meses, os responsáveis teriam que salvar os terráqueos com algo que foi feito para matá-los: armas nucleares.
Interceptação de asteroides
Asteroide Itokawa fotografado pela sonda Hayabusa (Fonte da imagem: JAXA)
Para suas simulações, Weaver conduziu um estudo que aceitava diversas variáveis, como a composição, porosidade e tamanho das rochas que compõem o asteroide. Mas, para começar, ele teve que optar por um escopo mais limitado e, por isso, escolheu o Itokawa, asteroide visitado, em 2005, pela sonda japonesa Hayabusa. Na ocasião, a nave não tripulada chegou a coletar amostras do corpo celeste e trazê-las de volta para a Terra, em 2010.
O trabalho de Weaver não leva em consideração como seria o transporte das armas nucleares até o asteroide, mas, além de haver pessoas que já estudam esse assunto, é comum entre a comunidade científica a ideia de que a humanidade possui todos os recursos necessários para chegar até um asteroide, e prova disso é o pouso da sonda Hayabusa sobre o Itokawa. Há também outros casos mais recentes, como a Dawn, da NASA, que atualmente orbita o 4 Vesta em meio ao cinturão de asteroides.
Como se não bastasse, a missão Deep Impact, também da NASA, fez com que uma sonda se chocasse contra um cometa em pleno espaço. Em outras palavras, se um asteroide estiver próximo o suficiente para nos ameaçar, nós certamente conseguiremos chegar até ele.
Como explodir uma rocha no espaço
Em branco, na imagem acima, o cinturão de asteroides do nosso Sistema Solar (Fonte da imagem: Wikipedia)
Até o momento, as simulações de Weaver renderam pelo menos uma boa notícia para a Terra: caso um asteroide de meio quilômetro de extensão se aproxime demais do Planeta Água, não precisaremos bancar o Bruce Willis e perfurá-lo antes de explodi-lo. Pelo menos essa é a solução para as rochas no formato oblongo, ou seja, de forma alongada, quase oval.
Ainda em depoimento para a Popular Science, Weaver fez questão de ressaltar que o centro do asteroide seria o local mais efetivo para a detonação, acabando com a rocha toda. Mas uma explosão na superfície seria efetiva o suficiente em qualquer um dos lados do asteroide. Porém, seria mais eficaz no lado curto.
Desde que descobriu isso, Weaver tem focado seus estudos nas explosões na superfície, já que essa seria uma missão muito mais simples. Como se não bastasse, é provável que a maioria dos asteroides não seja uma única pedra enorme e sólida, mas sim um conglomerado de pequenas rochas cobertas por uma camada de poeira conhecida como regolito. Dessa forma, um projétil poderia penetrar um pouco no interior do asteroide antes de explodir, aproveitando os benefícios de liberar a energia nuclear no interior do corpo celeste.
Há perigo após a explosão
O asteroide Ida, fotografado pela sonda Galileu, possui uma lua que o orbita (Fonte da imagem: NASA)
Os pais de vocês já devem ter ensinado sobre os perigos de se brincar com fogo, certo? Pois os cientistas também têm conhecimento de que armas nucleares podem piorar a situação. É possível, por exemplo, que, ao detonar um asteroide, ele possa se dividir em muitos pedaços grandes o suficiente para que ainda representem uma ameaça. Isso poderia duplicar ou triplicar as zonas de impacto, como no caso do filme “Impacto Profundo”.
Além disso, acreditava-se que, dependendo da explosão, os muitos pedaços de um asteroide poderiam se reagrupar novamente, formando uma nova ameaça. Mas, de acordo com as simulações de Weaver, as chances de isso acontecer são praticamente nulas, já que a bomba faria com que os pedaços do corpo celeste fossem disparados a uma velocidade muito grande, fazendo com que eles ficassem separados por distâncias que impediriam a ocorrência desse fenômeno.
Tudo isso, obviamente, foi descoberto com simulações que, de preferência, nunca precisarão ser colocadas em prática. Mas, como todos sabemos, um cientista prevenido vale por dois e, por isso, Weaver ainda tem muito trabalho a fazer. Por enquanto, ele começa a planejar a adição de novas variáveis aos seus estudos, como a simulação com rochas cada vez maiores, com cerca de 10 quilômetros de expansão.
Graças ao trabalho de Weaver e ao monitoramento constante dos objetos com riscos potenciais contra a Terra, podemos ficar mais tranquilos e saber que, se for necessário, temos alguma chance de evitar que tenhamos o mesmo fim dos dinossauros. Quer dizer, pelo menos em teoria.
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