Caro leitor, esta é fácil (e a resposta é até óbvia): porque no Brasil há um monte de oportunidade.
Recentemente, um amigo lituano comparou as oportunidades da cena fintech brasileira com "pegar um avião que está voando para o destino certo: tanto faz se você está na primeira classe ou na última fileira, todos vão chegar ao mesmo destino". O mundo inteiro hoje olha com admiração para o que estamos construindo, e obviamente tem bastante gente que almeja buscar um lugar ao sol.
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E por que isso acontece?
As razões são variadas.
Banco Central faz um excelente trabalho
Vou contar uma experiência pessoal. Minha primeira visita ao Banco Central ocorreu em 2015, quando apresentei uma das primeiras fintechs para a diretoria da instituição. Estava nervoso e não tinha certeza do que esperar. Para minha surpresa (e alívio), a reação do BC foi mais ou menos na linha de: "As fintechs são um fenômeno global, vão acontecer no Brasil, e nosso papel é criar as regras do jogo para que elas floresçam da melhor maneira possível".
Dito e feito. O papel do BC, comparado com os principais reguladores mundiais, tem sido impecável e elogiado globalmente. Isso traz segurança, previsibilidade e competição.
Bons empreendedores
As fintechs têm sido lugar de destino para os principais nomes do empreendedorismo nacional. Isso envolve fundadores, pessoas que querem trabalhar na área, engenheiros e fundos de investimento. Até o Jorge Paulo Lemann disse que se tivesse 30 e poucos anos montaria uma fintech.
Ausência de competição
Cerca de 80% do mercado financeiro estão concentrados em apenas 5 bancos: 2 são públicos, 1 é laranja, 2 são vermelhos. Falta cor nessa paleta, por isso existe um monte de oportunidade.
O mercado pode crescer
Dados de 2019 do Banco Mundial mostram que o mercado de crédito no Brasil corresponde a uns 60% do Produto Interno Bruto (PIB), que tem caído durante a pandemia. Em economias mais maduras, como a dos Estados Unidos, esse número é 190% — isso mesmo, o mercado é quase o dobro do PIB, então aqui ainda há um monte de espaço para crescer.
Disseminação de smartphones e internet
O Brasil é um dos países com maior adoção de celulares. Existem mais aparelhos do que brasileiros desde 2012 — e somos mais de 220 milhões de pessoas.
Toda a infraestrutura dos bancos foi desenhada no modelo de agência e relacionamento offline. Quando os brasileiros perceberam que era possível, mais fácil, conveniente e seguro realizar operações pelo smartphone, um monte de oportunidades surgiu, já que os bancos estão investindo em outra matriz.
Bancos são caros
Bancos adoram letra miúda, spread e taxas altas. Como quase não havia competição, essas instituições cobravam o que queriam; e, sem lugar para correr, os clientes pagavam. Quando a competição aumentou, a maré mudou e os consumidores perceberam que dava para ter a mesma (ou melhor) qualidade por um preço muito melhor.
Bancos custam caro
O mercado financeiro tradicional foi construído com base em grandes bônus, sindicatos, mainframe, servidores físicos, agências com mármore, portas giratórias, anúncios na televisão. Tudo isso pode ser traduzido em duas palavras: custos e legado. As fintechs não precisam gastar com esse tipo de coisa e podem investir mais em serviços e produtos que atendam às reais necessidades dos clientes.
Modelo de negócio permite a entrada de novos players
Um efeito colateral das fintechs foi a transformação de players tradicionais em fintechs. Toda grande empresa pensou: "Tenho caixa, tenho cliente, e ele precisa de um serviço financeiro; se fulano com 20 e poucos anos criou um peer-to-peer, eu também posso criar" e pronto: diversos novos players entraram na disputa.
Devem existir mais uns tantos motivos para explicar esse fenômeno intenso e importante, por isso compartilhe nos comentários se você se lembrar de algo.
E quem ganha com toda essa competição é você, caro leitor, que pode escolher e decidir o que é melhor para você e para suas necessidades.
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Paulo David, colunista quinzenal do TecMundo, é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; e sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer-to-peer do Brasil, que foi adquirida pelo PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou no time do Pinheiro Neto Advogados e na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor-anjo em fintechs no Brasil e na Europa.