Muita gente aqui do Brasil ainda mal tem cobertura 4G disponível na cidade ou ainda luta para achar um sinal decente, estável e duradouro de 3G. Porém, acredite se quiser, mas o andamento das tecnologias de redes de celular já aponta para o próximo destino: a quinta geração de conectividade móvel, popularmente conhecida como 5G.
Embora as previsões ainda estejam um pouco nebulosas em termos de data, em matéria de tecnologia já temos algumas informações a respeito do que deve ser uma das grandes novidades dos dispositivos móveis para daqui a alguns anos. Os Estados Unidos, que devem ser um dos pioneiros no desenvolvimento da estrutura, já estão preparando o terreno para a evolução. Do outro lado do mundo, Japão e Coreia do Sul também já mostraram estrutura e testes.
Velocidade, diversificação e capacidade são só algumas das palavras-chave dessa novidade. Mas quais são as promessas — e em que elas podem melhorar a sua vida ou a forma com que você usa o seu smartphone? Essas são algumas das perguntas que já podem ser respondidas.
Afinal, o que vai mudar?
Na transição do 3G para o 4G, o foco estava em melhorar a taxa de transferência de dados e diminuir a latência. Desta vez, é claro que esses ganhos também estão no meio, mas o foco principal tem sido em transformar o 5G em um ecossistema completamente novo. Para cumprir os requisitos determinados, pode ser necessário aprimorar ou mudar a interface atual. Porém, tecnologias LTE-A e até WiFi podem ser aproveitadas para a garantia de bom funcionamento da nova conectividade.
Velocidade: para o alto e avante
O aumento de velocidade do 4G para o 5G promete ser bastante significativo. De acordo com a FCC, o órgão norte-americano que funciona mais ou menos de acordo com a Anatel aqui no Brasil, a próxima geração de internet sem fio deve ser tão boa quanto a tecnologia atual de fibra.
Atualmente, a velocidade de transferência do 4G LTE chega a 1 gigabit por segundo (Gbps), sendo que o consumidor normalmente não chega a ter nada perto disso. No 5G, não está claro ainda qual será a velocidade par ao consumidor, mas não seria surpresa algo acima de 10 Gbps. O padrão ideal a ser alcançado pelo 5G é o de 20 Gbps, o suficiente para baixar um filme em alta definição em 10 segundos. É claro que essa velocidade toda é mais um "teto" para a indústria se basear e desenvolver soluções. Além disso, obstáculos (como prédios ou paredes) e outros sinais e ondas interferem bastante nesse valor.Não se empolgue: obstáculos como prédios ou paredes e outros sinais e ondas interferem na velocidade.
O que podemos esperar? Em testes, a operadora japonesa DoCoMo conseguiu atingir 2 Gbps dentro de um prédio em Tóquio, e 2,5 Gbps dentro de um carro. Já o consórcio Next Generation Mobile Networks Alliance, que define padrões da indústria para a aplicação de redes, estabeleceu que o 5G deve oferecer 1 Gbps simultâneo "para diversos funcionários ao mesmo tempo em um andar de um prédio comercial", ou seja, uso individual será com certeza mais rápido.
A Samsung já atingiu 7,5 Gbps em testes, enquanto a Nokia marcou 10 Gbps. Um teste de 1 Tbps (terabits por segundo) chegou a ser registrado, mas sob condições extremamente específicas. Para efeitos de comparação, a rede atual de LTE-A chega a 300 Mbit/s.
Latência: o mínimo possível
Em computação, a latência é o tempo que um pacote de dados ou comando leva para ir de um ponto a outro. Quando você dá a ordem para entrar em um site no seu smartphone, há uma "espera", por mais rápida que seja, para que a ordem se transforme na ação propriamente dita, o navegador entenda o seu objetivo e a página carregue por completo.
No 4G, a média de tempo de latência está em 10 milissegundos (ms). Isso é muito baixo para os nossos padrões em horas ou minutos, mas está bastante defasado em termos de eletrônicos que precisam ser imediatos. Para o 5G, a ideia é ter latência extremamente baixa, na faixa de 1 ms.
Para explicar direito como isso afeta o consumidor, vamos usar o exemplo da Huawei com testes em carros autônomos. Nas redes 4G, a latência era tão alta que um veículo de 100 km/h demoraria 1,4 metro para parar o carro efetivamente ao detectar um obstáculo e enviar um comando de freio. No 5G, o automóvel se mexe por somente 2,8 cm — distância comparada ao de um sistema de freios ABS.
Banda e frequência: ampliar e expandir
Os dados nos celulares percorrem um caminho: o telefone converte a informação (voz, vídeo, áudio ou texto) em um sinal elétrico que vai parar uma torre de celular via rádio. De lá, ela passa por uma rede até chegar ao destino (um servidor ou outro telefone). As bandas responsáveis por “aguentar” a transferência de dados terão um espectro muito mais largo e de maior frequência no 5G.
A banda aumenta e a frequência fica mais alta, mas o volume de dispositivos conectados no 5G e nas outras redes móveis também só tende a disparar.
O LTE usa faixas de frequência de até 20 MHz. Já o 5G ainda não possui um padrão definido, mas deve ficar em torno de 60 GHz. Uma nova geração de rede móvel quase sempre adota uma frequência maior, já que elas normalmente não estão em uso e, até por conta disso, estão mais livres para receber novos dados. Com isso, a ideia é que as bandas de frequência mais alta garantam maior espaço para transição de dados, sem grandes interferências ou obstáculos que reduzem a velocidade.
Tudo (tudo mesmo!) conectado
O 5G deve ser um dos maiores avanços da indústria para a popularização da "Internet das Coisas", o cenário em que objetos cotidianos e dispositivos estão todos conectados entre si, incluindo na sua própria casa — sensores, eletrodomésticos, portas e mais. Eles não precisarão ficar necessariamente ligados via WiFi, ou poderão usar o 5G em caso de queda dessa conexão.
Com a nova conexão móvel, o controle autônomo do veículo deve ser imediatoOs carros autônomos ainda parecem sonhos distantes, mas o 5G pode ajudar bastante a tornar realidade os automóveis que se dirigem sozinhos. Com essa conexão móvel, o esquema de controle do veículo (com sensores que enviam ações para um centro de comando, que só então distribui para um setor do carro) deve ser imediato. É aqui que o baixo tempo de latência especialmente se destaca, já que a reação a comandos de veículos deve mesmo ser o mais imediato possível. Além disso, recursos de entretenimento (afinal, você não estará dirigindo mesmo), informação e lazer (via apps de streaming ou notícias) também devem ser cobertos pela tecnologia.
Robôs de telepresença, aqueles que permitem videoconferência com quem está longe, devem ser popularizados, já que a conexão será melhor e mais estável para chamadas em vídeo. Além disso, assistentes pessoais para a casa, como o Amazon Echo e o Google Home, também se beneficiariam dessa conexão constante.
O armazenamento em nuvem ficará mais rápido e, com isso, os serviços do tipo devem ser muito beneficiados em termos de novos usuários. Também usando o espectro de nuvem, streaming de vídeo e áudio via internet móvel também ficará rápido — ou seja, Netflix em ótima qualidade e estabilidade sem precisar de WiFi pode ser uma realidade.
O armazenamento em nuvem ficará mais rápido no 5G e os serviços do tipo devem ser muito beneficiados
A realidade virtual também tem muito a ganhar, especialmente na qualidade da imagem. Com o 5G sendo mais rápido, a resolução do conteúdo visível por você nos óculos fica bem melhor, acabando com um dos grandes defeitos da tecnologia atual. A baixa latência também faz com que os comandos fiquem mais rápidos e a experiência torne-se ainda mais imersiva.
Quando vamos ter tudo isso?
O 5G ainda deve demorar até ser uma tecnologia de conexão comercializável. Há bastante expectativa em relação ao 5G, mas é preciso respeitar os prazos, por mais longos que eles sejam. Se a ideia é de fato causar uma revolução na tecnologia móvel e mudar bastante a estrutura de banda, não adianta correr e entregar uma estrutura de menor qualidade.
A ideia é que a primeira aplicação fora dos laboratórios e em smartphones de consumidores aconteça próximo ou durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, na Coreia do Sul. Já a “estreia” oficial em planos de operadoras deve ser apenas em 2020 — lembrando que o Brasil ainda pode demorar um pouco mais para ter a cobertura completa, mesmo já contando com ótimos números na adoção do 4G.
Fontes