O atual presidente da Uganda, Yoweri Museveni, bloqueou as operações do Facebook no país "até segunda ordem". A decisão foi tomada poucos dias após a rede social remover contas falsas vinculadas a seu governo e logo antes de uma eleição fortemente contestada acontecer por lá, marcada para amanhã (14).
"O canal sobre o qual vocês estão falando, se quiser funcionar por aqui, deve ser utilizado de maneira igualitária por todos aqueles que desejarem. Não podemos tolerar essa arrogância de qualquer um que tente decidir por nós quem é bom e quem é mau", declarou Museveni.
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Repressão à oposição política, assédio a jornalistas e protestos por toda a região marcaram o período eleitoral em questão, resultando em ao menos 54 mortes e centenas de prisões, de acordo com autoridades.
Yoweri Museveni, atual presidente da Uganda.Fonte: Reprodução
Com 76 anos e concorrendo pelo sexto mandato, Yoweri enfrenta 10 outros candidatos, incluindo Robert Kyagulanyi ("Bobi Wine"), que, na semana passada, apresentou uma queixa ao Tribunal Criminal Internacional e acusou o presidente e outros de sancionarem uma onda de violência e violações dos direitos humanos.
Durante a campanha, Robert foi espancado, agredido com gás lacrimogêneo e acusado pelos tribunais de desrespeitar as regras de prevenção ao coronavírus.
Robert Kyagulanyi, candidato ao cargo.Fonte: Reprodução
"Gabinete do Ódio"
Em sua defesa, o Facebook alega que a rede de contas derrubada apresentava "comportamento inautêntico coordenado" com o objetivo de manipular o debate público em torno das eleições, algo semelhante ao executado pelo "Gabinete do Ódio", no Brasil. Além disso, estaria ligada ao Centro de Interação com Cidadãos do Governo, uma iniciativa que faz parte do Ministério de Tecnologia da Informação, Comunicação e Orientação Nacional de Uganda.
Contas falsas e duplicadas, se passando por reais e responsáveis por gerenciamento de páginas, comentários em perfis de outras pessoas e compartilhamentos de conteúdos, compunham o esquema, fazendo com que materiais parecessem mais populares do que realmente eram – descobertas após uma pesquisa do Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council, iniciada após suspeitas de promoção e críticas à oposição inadequadas de Yoweri Museveni e seu partido.
Museveni estaria ligado à rede derrubada.Fonte: Reprodução
WhatsApp, Instagram e Twitter, por sua vez, também foram afetados, segundo o grupo de direitos digitais NetBlocks – e a maior empresa de telecomunicações de Uganda confirmou o recebimento das ordens de suspensão de uso dessas plataformas e acesso a elas até segunda ordem.
Museveni teria ignorado pedidos de diversas e entidades para que isso não fosse adiante. "Sinto muito pela inconveniência", se limitou a dizer.
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