Fragmentos coletados de um computador analógico do século 1 a.C. (Fonte da imagem: Reprodução/Wired)
Não há dúvidas de que algumas civilizações antigas se destacaram no campo das ciências. Matemática, medicina e astronomia são apenas alguns dos exemplos que nos vêm à mente em um primeiro momento. Mas houve também muita inovação tecnológica realizada pelos povos de milênios atrás. Isso é o que garantem alguns arqueólogos que, hoje, recorrem até mesmo à computação gráfica para tentar reconstruir alguns dos mecanismos daquela época.
Obviamente, não é fácil deduzir como funcionavam as “tataravós” de muitas das tecnologias que usamos hoje. Por mais que pesquisadores se dediquem à tarefa de decifrar essas máquinas antigas, muitas permanecem em mistério ainda hoje, sem sabermos ao certo como elas funcionavam. Mesmo assim, há casos muito curiosos de invenções que surpreendem pela época em que foram criadas. Confira!
1. Garrafa de vinho com refil automático
Há um nome que aparecerá com frequência nesta lista: Heron de Alexandria. Esse matemático e mecânico grego foi um dos homens mais sábios do início do século I d.C. e foi o inventor de mecanismos muito impressionantes. Para começar, há registros arqueológicos de que Heron havia construído uma taça cujo vinho nunca acabava, recompletando automaticamente o espaço vazio à medida que alguém enchia a cara.
Que tal uma taça cujo vinho nunca acaba? (Fonte da imagem: Reprodução/Mick Stephenson/Wikipedia)
O cálice era conectado a um reservatório por meio de um tubo. Quando alguém bebia o vinho, o nível do reservatório diminuía e liberava a saída de líquido por um tampão. Assim que o nível era restabelecido, o tampão voltava a bloquear essa passagem. Ainda hoje, muitos estudantes de engenharia foram incapazes de recriar esse dispositivo e, aparentemente, os boêmios da época tinham que tomar vinho de “canudinho” para que tudo funcionasse corretamente.
2. Motor a vapor
A eolípila é uma máquina projetada por Heron de Alexandria e que, para muitos, é considerada como sendo o primeiro motor a vapor documentado da História. O aparelho era composto por uma câmara com tubos curvados, por onde o vapor da água aquecida seria expelido, fazendo com que a câmara girasse.
A invenção era mais uma prova de conceito do que uma ferramenta útil, mas não deixa de ser impressionante. Heron chegou a adaptar esse conceito em máquinas mais úteis posteriormente, como uma forma de automatizar o levantar e baixar das cortinas de um teatro. No vídeo acima é possível conferir uma eolípila em ação.
3. Vending machine de água-benta
Quem acompanha o Mega Curioso já sabe dessa invenção de Heron de Alexandria. No artigo em que listamos 10 vending machines completamente malucas, contamos que Heron de Alexandria também foi o inventor da primeira máquina de venda da História, que entregava água-benta para os fiéis que depositavam uma moeda no mecanismo.
Herond e Alexandria e esquema técnico de seu invento (Fonte da imagem: Reprodução/Neatorama)
É claro que, naquela época, a máquina era mais rudimentar. A moeda depositada caía sobre uma alavanca e, à medida que a água-benta enchia um recipiente, a moeda se deslocava da alavanca, fazendo com que apenas a quantidade correta de água fosse vendida. Tudo isso para que os fiéis não pegassem mais do que precisavam.
4. Pistão de ação dupla
Também conhecido como o pai da pneumática, o matemático e engenheiro grego Ctesíbio ficou famoso historicamente pela utilização de ar comprimido na realização de seus trabalhos. Uma de suas invenções de maior sucesso é, sem dúvida, o pistão de ação dupla. Enquanto um pistão se levanta e deixa a água entrar, outro abaixa e empurra o líquido para fora de uma câmara, provocando um fluxo constante de água.
Bomba romana de combate a incêndios usa ideias de Ctesíbio (Fonte da imagem: Reprodução/100 Falcons)
Com isso, Ctesíbio, que viveu entre 285 e 222 a.C., acabou proporcionando a base para a invenção posterior do motor moderno e da bomba de incêndio, que foi inclusive utilizada pelos romanos para combater o fogo.
5. Porta automática
Quando você passar por uma dessas portas que se abrem sozinhas, agradeça ao grande Heron de Alexandria. Apesar de o professor de Estudos Gregos e Romanos da Universidade de Calgary, John Humphrey, ter declarado à Smithsonian Magazine que dificilmente alguém teria construído uma porta dessas naquela época, é do século I d.C. o primeiro registro que temos da ideia.
Basta ler a síntese do funcionamento do mecanismo pensado por Heron para ter uma ideia da dificuldade de implementá-lo. Um sacerdote acenderia o fogo em uma parte específica do altar do templo. Com isso, o ar se aqueceria e aumentaria de volume. Esse ar mais pesado faria com que um contêiner cheio de água derramasse o líquido em um balde. À medida que o balde enchesse, uma série de polias e engrenagens ajudaria a levantar a porta do templo.
6. Computador analógico
Por mais incrível que pareça, os gregos do século I a.C. também possuíam computadores. Eles não podiam jogar fazendinha, mas a Máquina de Anticítera era uma espécie de computador analógico capaz de calcular posições astronômicas. As primeiras peças desse mecanismo foram encontradas em 1900, quando mergulhadores exploravam o local de um naufrágio que ocorreu mais de 2 mil anos atrás.
Fragmento da Máquina de Anticítera exposto em museu (Fonte da imagem: Reprodução/Smithsonian Magazine)
Com o passar do tempo, o esforço de muitos estudiosos e a ajuda da computação gráfica, foi descoberto que as engrenagens coletadas no fundo mar faziam parte de um grande computador, uma espécie de relógio astronômico que só viria a reaparecer na humanidade 15 séculos mais tarde. Hoje, a Máquina de Anticítera está exposta no Museu Arqueológico Nacional de Atenas, junto com uma reconstrução do computador.
Réplica em exposição da Máquina de Anticítera (Fonte da imagem: Reprodução/Wired)
7. Bateria de Bagdá
Como se não bastasse o computador analógico dos gregos, há indícios arqueológicos de que baterias haviam sido construídas no Oriente Médio por volta do ano 200 a.C. Descobertas em 1938, pelo alemão Wilhelm Konig, as Baterias de Bagdá são, na verdade, cinco vasos de argila com cerca de 13 centímetros de altura, que contêm um cilindro de cobre que protege uma barra de ferro e uma tampa de betume.
Baterias de Bagdá poderiam ser usadas para galvanizar superfícies (Fonte da imagem: Reprodução/Oddx)
Os vasos encontrados apresentavam sinais de corrosão, e testes revelaram a presença de agentes ácidos, como vinagre ou vinho. Muitos arqueólogos acreditam que esses objetos funcionavam mesmo como baterias, mas poucos têm certeza da aplicação que os iranianos faziam na época da dinastia arsácida. A hipótese mais provável é a de que essa invenção era usada para galvanizar superfícies, ou seja, recobrir algo com uma camada metálica.
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