Antepassados humanos na pré-história podem ter criado arte rupestre enquanto experimentavam alucinações, por vontade própria. Segundo um novo estudo conduzido pela Universidade de Tel Aviv (Israel), alguns indivíduos Cro-Magnon — população primitiva de Homo sapiens — se direcionavam para cavernas profundas, estreitas e escuras em busca de efeitos ocasionados por baixos níveis de oxigênio. Sob essa condição, eles pintavam em preto e vermelho desenhos de animais, impressões de mãos e sinais abstratos geométricos.
No século 19, foram descobertas na França e Espanha uma série de cavernas datadas entre 40 mil e 14 mil anos, período que se remete ao Paleolítico Superior e final da Idade da Pedra Lascada marcado pela arte rupestre. Naquela época, humanos habitavam os ambientes fechados devido ao clima frio extremo presenciado no planeta, com áreas cobertas de gelo. Porém, a nova pesquisa apontou que nem todas as atividades estariam relacionadas à sobrevivência — como caça e desenvolvimento de ferramentas —, mas também com ações para escapar da realidade.
Além de as cavernas servirem de abrigo para as condições climáticas adversas na época, Yafit Kedar, líder do estudo, comentou em entrevista ao Live Science que elas também traziam um significado especial para civilizações antigas, vistas como “portais que se conectam ao submundo”. Nesse sentido, as descobertas sugeriram que a alteração da consciência era uma prática para “manter a conexão com entidades do mundo inferior”.
A equipe responsável pelo trabalho executou simulações de computador para analisar mudanças nas concentrações de oxigênio ao longo de diferentes caminhos nos abrigos. O grupo levou em consideração o fogo de tochas — o qual esgota quantidades do elemento — que os antigos humanos utilizavam para iluminar os interiores e a circulação de oxigênio nesses ambientes.
A equipe analisou as concentrações de oxigênio em cavernas, através de simulaçõesFonte: The Journal of Archaeology, Consciousness and Culture/Reprodução
Baseados nas simulações, eles indicaram que as concentrações de oxigênio diminuíram de 21%, observados na atmosfera, para 18% dentro das cavernas durante 15 minutos iniciais. Tais níveis poderiam induzir hipóxia no corpo, uma condição de ausência de oxigênio que pode causar falta de ar, dor de cabeça, confusão e inquietação.
Entretanto, eles destacaram que a hipóxia também aumenta dopamina no cérebro, hormônio que às vezes ocasiona em alucinações e experiências “fora do corpo”. Em espaços ainda mais estreitos, o teor de oxigênio caiu para 11%, podendo trazer sintomas mais graves para os indivíduos que buscavam induzir estados alterados de consciência.
“A hipóxia pode ser uma explicação plausível para muitos dos locais de representação, que estão longe da entrada da caverna e exigem a passagem por caminhos profundos, baixos e estreitos. Afirmamos que adentrar nessas áreas foi uma escolha consciente, motivada pela compreensão da natureza transformadora de um espaço subterrâneo sem oxigênio”, escreveram os autores.
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