Yoku’s Island Express mistura metroidvania com...pinball? Sim, e é genial
Estúdios independentes têm um poder em mãos: o poder de arriscar. De adotar ideias inusitadas e quebrar protocolos em nome da inovação, diferentemente do que ocorre nos AAAs, em que alguns artistas devem trabalhar de mãos atadas em prol daquilo que (acha que) o público quer ver.
Claro que a regra não vale para todos – e que nem sempre o desconhecido se traduz em qualidade –, mas Yoku’s Island Express é um jogo que, definitivamente, abraça a ideia do pitoresco de maneira inusitada ao trazer uma sábia mistura de metroidvania e...pinball. Sim: duas coisas tão antigas e que, juntas, resultam num produto muito interessante.
Um respiro diferente – e delicioso
Respirar ares diferentes é saudável a nós, jogadores, à mídia e, é claro, à indústria. Yoku’s Island Express, assinado pelo estúdio sueco Villa Gorilla, se apoia numa narrativa simples para focar em sua proposta diferentona: Yoku é uma criaturinha que chega à ilha de Mokumana – que, na verdade, de pacata não tem nada – e, lá, se depara com figuras excêntricas. Todas, é sempre, lotadas de favores.
A recepção, portanto, é bem diferente do que se imaginava: uma antiga divindade do local está presa numa espécie de sono sem fim, e cabe a Yoku despertá-la para restaurar a trivialidade daquele paraíso tropical. A esse objetivo, diversas mecânicas incomuns são apresentadas ao jogador, que “arrasta”, consigo, um objeto circular idêntico ao que vemos em campos de golfe ou mesas de pinball. Em palavras singelas: uma bolinha branca mesmo.
O primeiro aspecto notável de Yoku’s Island Express é que, basicamente, não há um botão de pulo. O jogo confia absolutamente nessa mecânica excêntrica do pinball. Os ambientes são todos desenhados como locais “pimbólicos”; você precisa usar os gatilhos do controle para acionar os pequenos bastões que disparam a bolinha para cima, os lados e as diagonais.
Exploração funcional
Os cenários são vibrantes em cores. Yoku atravessa paisagens de encher os olhos, como praias, florestas, montanhas nevosas, cavernas e mais. Como manda a cartilha de um bom metroidvania, você deve ser um senso aguçado de exploração para brilhar, jamais se limitando ao destino que o mapa exibe para o jogador seguir.
Dizem que o melhor explorador “é aquele que vai na direção oposta ao trajeto que o jogo te indica”, e aqui não é diferente. Conforme progride, o pequeno inseto conquista novas habilidades e ganha a opção de retornar a locais visitados para acessar pontos que, antes, estavam inalcançáveis.
Mas isso tudo você faz, novamente, SEM um botão de pulo. Os diálogos com NPCs resultam em side-quests – algumas delas “fetch” quests, em que você atua como mensageiro ou transportador de um objeto –, e sempre há um bom motivo para querer mais. Os power-ups são recompensadores; todos os saltos são realizados por meio das alavanquinhas de pinball, não importa onde você esteja.
Nesses momentos, o jogo se transforma numa mesa de pinball virtual: você deve acertar pontuadores repousados em fileira horizontal na parte de cima; paredes coloridas nas laterais; enormes objetos ao centro e por aí vai. Aquele bate e rebate delicioso do pinball existe de uma maneira funcional, relaxante e, de lambuja, bonita aos olhos. Esses trechos não são “gratuitos”: eles resultam em itens que podem ser trocados por power-ups e também servem como ambientes para chefões – muitos deles ajustados ao tom épico do volume.
O combate é irritantemente simples; Yoku aciona uma “corneta” que inibe qualquer coisa ao redor e destrói objetos que dropam itens. O foco, na verdade, está na exploração à la metroidvania, com muito vai e vem, e na proposta do pinball, que quebra o protocolo desses extensos backtrackings, quase capazes de abrir um sorriso para o tédio. Quase. A jornada tem suas 8 a 10 horas de duração.
No geral, Yoku’s Island Express tem um brilho tão único que, às vezes, enquanto jogava, eu me pegava refletindo sobre o quão privilegiados todos nós somos por contemplar obras que saiam do senso comum, da zona de conforto e das tripas esvoaçantes. Yoku’s Island Express é um daqueles jogos diferentões sem ser boçal.
- Visual de encher os olhos, com inúmeras paletas de cores na tela
- Metroidvania e pinball: mistura inusitada e bem executada
- Os trechos de pinball transformam o jogo numa mesa de pinball virtual de um jeito fantástico
- Power-ups que fazem sentido dentro da proposta, nada “gratuito” ou forçado
- A ausência de um botão de pulo pode fazer alguns estranharem, apesar de ter sido uma decisão de design deliberada
- Alguns momentos de backtracking se estendem demais e dão margem ao tédio
Nota do Voxel