Yakuza 6 é uma ótima despedida para o Dragão de Dojima
Primeiro game da série a chegar exclusivamente ao PlayStation 4, Yakuza 6: The Song of Life apresenta o final da história de Kiryu Kazuma, personagem conhecido como “O Dragão de Dojima”. No entanto, ao mesmo tempo em que ele representa um ponto final, ele também é uma ótima porta de entrada para quem nunca se aventurou antes pela série.
Isso se deve tanto ao fato de que você pode conferir um resumo de tudo o que aconteceu no passado antes de começar a se aventurar, quanto pela história fechada e que não depende muito do que veio antes para funcionar. O resultado é um game que consegue dar continuidade a um trabalho passado sem ser confuso para quem está chegando agora — uma tarefa e tanto para um game com o número 6.
Na trama, Kiryu retorna para o orfanato que ajudou a fundar somente para descobrir que sua protegida Haruka desapareceu do lugar e foi vista pela última vez na cidade de Kamurocho. Chegando lá, ele descobre que ela foi vítima de um atropelamento e estava acompanhada de uma criança — agora, cabe ao protagonista descobrir quem é o pai do bebê e o que Haruka estava fazendo na cidade (e se o seu atropelamento foi ou não um acidente).
Familiar, mas novo
Mesmo usando a cidade de Kamurocho — uma das marcas da série — como seu cenário de fundo, Yakuza 6: The Song of Life ainda assim consegue passar a sensação de que estamos em um local novo. Nos três anos em que Kiryu passou na cadeia o local passou por uma série de mudanças tanto em sua geografia quanto em sua dinâmica de poder.
Parte da cidade agora é dominada pela Tríade, que iniciou uma guerra com a família Tojo (que o protagonista chegou a liderar no passado) e dominou a área central. Aproveitando a mudança no equilíbrio de poderes, membros da máfia coreana também voltaram a agir e um novo grupo conhecido como JUSTIS também está atuando de forma a estabelecer seu poder.
Kiryu até tenta ficar longe disso tudo, afirmando que agora é um civil que nada tem a ver com a Yakuza ou com o mundo do crime. Mas é claro que, assim que surge a oportunidade, ele já está usando seus punhos para derrotar seus adversários e corrigir as injustiças que surgem em sua frente — o que geralmente só faz com que ele se envolva ainda mais nesse universo.
A estrutura é familiar para quem já é fã da série
A estrutura é familiar para quem já é fã da série: nos momentos de história, o game adota um tom bastante sério e que leva sempre em consideração questões como honra e dedicação, mostrando a violência como somente o último recurso. Já nas missões secundárias, o humor toma conta, gerando um efeito cômico bastante interessante graças ao contraste que os NPCs fazem com a posição estoica como o protagonista se comporta.
Novos horizontes
Além de Kamurocho, Yakuza 6: The Song of Life também nos transporte até Onomichi, uma cidade litorânea na qual boa parte da trama se desenrola. É esse local que nos apresenta a maioria do elenco de coadjuvantes, que consegue ser tão marcante e interessante quanto figuras como Goro Majima foi no passado.
Caso você esteja interessado em encarar a trama, esteja preparado para ler bastante (em inglês, já que não há legendas em português) e para acompanhar cenas com um ritmo lento. O game gosta de tomar seu tempo para desenvolver personagens e relações e, se isso pode ser frustrante em um primeiro momento, geralmente o resultado final acaba sendo uma trama mais rica e fácil de compreender.
Do ponto de vista mecânico, o novo game simplifica bastante os conceitos vistos em Yakuza 0 e Kiwami. Agora Kiryu conta somente com um único estilo de luta, que mistura os elementos de ação, esquiva e agarrões do passado, algo que acaba resultando em um jogo menos variado em suas táticas de combate.
Do ponto de vista mecânico, o novo game simplifica bastante os conceitos vistos em Yakuza 0 e Kiwami
Da mesma forma, você não gasta mais dinheiro para aprimorar suas habilidades: cada atividade que você faz rende pontos em áreas diferentes do personagem, e cabe a você decidir se gasta eles com melhorias de status ou com o destravamento de novos golpes. Em geral, a dinâmica me pareceu mais agradável e lógica do que no passado, sem parecer excessivamente fácil por exigir menos sacrifícios e escolhas (em contrapartida, o preço dos acessórios aumentou consideravelmente).
Outras novidades ficam por conta de certas comodidades: não é preciso mais usar cabines telefônicas para salvar (o que acontece de forma automática em alguns checkpoints ou manualmente usando um smartphone) e não há mais nenhum loading ao entrar em lojas. A engine do game também foi atualizada e apresenta cenários e modelos ainda mais bonitos, embora ainda permaneça uma grande disparidade entre os detalhes dos personagens principais e os NPCs secundários.
Diversos games em um só
Ao contrário do que acontece em outros games, que apostam em cenários cada vez maiores a cada sequência, Yakuza 6 é um game bastante “compacto” em sua área de exploração. No entanto, aquilo que o game perde em tamanho ganha em densidade de coisas a fazer: tanto Kamurocho quanto Onomichi estão recheadas de atividades paralelas.
Enquanto você não está socando mafiosos ou conversando com alguém importante, pode aproveitar para passar algum tempo jogando baseball, batendo papo com a hostess de algum clube, cantando karaokê ou jogando dardos. Como se isso não fosse suficiente, também é possível dedicar seu tempo a jogar clássicos da SEGA como Outrun e Puyo Puyo ou uma versão completa de Virtua Fighter 5: Final Showdown.
Yakuza 6: The Song of Life não sofreu qualquer espécie de censura em sua adaptação, o que acabou provocando um dos momentos mais constrangedores de minha jogatina. Digamos simplesmente que você não vai querer estar acompanhado quando, ao visitar uma das salas de chat do jogo, se deparar com modelos reais que fazem streaptease e ficam somente de biquíni.
tanto Kamurocho quanto Onomichi estão recheadas de atividades paralelas
Somando tudo isso às dezenas de missões secundárias que o game oferece, Yakuza 6 é um título recheado de conteúdos que você pode jogar durante muito tempo mesmo que não decida seguir a missão principal. Para completar, o jogo também tem um novo sistema de criação de clans que permite dedicar dezenas de horas ao recrutamento de membros poderosos para sua gangue.
Um ótimo desfecho e um excelente começo
Yakuza 6: The Song of Life é uma despedida excelente para Kiryu Kazuma do mundo dos games, apresentando uma trama que, ao mesmo tempo em que fecha pontas soltas do passado, mostra um novo caminho para a franquia. Tudo isso ao mesmo tempo em que apresenta sistemas e um roteiro bastante convidativos para quem nunca se aventurou pela série — algo que, convenhamos, não é fácil de fazer em uma franquia com tantos capítulos anteriores.
O ritmo da história nem sempre é o ideal e o combate simplificado não ajuda muito o game a se destacar, mas o conjunto geral da obra é bastante positivo. Seja em seus confrontos contra mafiosos estilosos, seu estilo de humor fora do convencional ou na maneira como apresenta missões secundárias, o jogo consegue ter uma identidade única em um universo recheado de jogos de mundo aberto.
Yakuza 6: The Song of Life é um game que não tem vergonha de ter personalidade própria, o que acaba fazendo com que algumas arestas fiquem evidentes. No entanto, é graças a essas pequenas imperfeições (e uma grande quantidade de qualidades) que esse se torna um título bastante valoroso — caso você goste do Japão e de uma boa história, há motivos de sobra para conferir o novo trabalho da SEGA.
Categorias
- História bem desenvolvida e envolvente
- Personagens carismáticos
- Um mundo repleto de coisas a fazer
- Oferece jogos clássicos da SEGA completos
- Combate simplificado demais em relação a antecessores
- Qualidade gráfica inconsistente
Nota do Voxel