WWE 2K17 vence por contagem, mas não consegue empolgar o público
WWE 2K17 é um game que eu queria poder gostar mais. Mais uma vez, a desenvolvedora Yuke teve a oportunidade de oferecer nos video games uma experiência que mistura todos os elementos do esporte/show de entretenimento que o tornam único, mas acabou deixando a bola cair devido a algumas escolhas que não funcionaram muito bem.
Por um lado, a empresa consegue capturar (na maior parte do tempo) o espírito daquilo que costumamos ver na televisão, com lutadores abusando de apresentações chamativas e golpes claramente combinados. Por outro, ela aposta em um sistema de luta desengonçado, incorpora novidades de maneira incompleta e ainda deixa de lado uma das modalidades mais interessantes do jogo lançado em 2015.
Tudo isso resulta em uma experiência que, se não é exatamente quebrada, só consegue apelar para os fãs do WWE que desejam a oportunidade de assumir controle sobre personalidades como Seth Rollins, The Rock, Roman Reigns e Dean Ambrose, entre outros. No entanto, mesmo os maiores fãs desse grande show devem admitir que já está na hora da Yuke repensar seu processo de desenvolvimento.
Melhor e pior ao mesmo tempo
Vamos começar pela principal mudança de WWE 2K17: a remoção do modo 2K Showcase, uma das opções mais legais da iteração anterior. Embora você ainda possa recriar algumas das lutas mais simbólicas da história da WWE, não há aqui mais um modo dedicado a contextualizar esses conflitos e a apresentá-los de forma mais envolvente.
O que temos como forma de “compensar” surge na forma de melhorias ao modo MyCarrer, no qual você cria um lutador e deve guiá-lo pelos bastidores até que ele se transforme em um grande lutador. O importante nesse caso não é exatamente ganhar as lutas, mas sim conseguir fazer o melhor show possível — o que inclui desde saber o momento certo para bater em seu oponente até saber quando é melhor apanhar um pouco.
Entre as novidades apresentadas está a possibilidade de fazer a “promoção” de sua superestrela: todo aquele processo de elogiar ou provocar a galera e, assim, aumentar sua fama como heel ou face. Embora a ideia em si seja legal, ela peca por problemas de execução: você nunca sabe direito qual tipo de atuação o público de um local prefere, e a falta de um trabalho de voz nessa parte faz com que o efeito final seja um pouco estranho.
Conforme você avança em sua carreira, ganha pontos que ajudam a desbloquear uma vasta seleção de lutadores — tanto do presente quanto do passado — e mais possibilidades de personalização. Esse é um dos pontos mais positivos do jogo: você pode gastar horas e horas no editor de personagens criando figuras que imitam quase perfeitamente lutadores reais ou que parecem seres bizarros.
O MyCarreer peca por ser um pouco repetitivo, algo que se torna especialmente evidente quando a história de seu lutador já está mais avançada. No entanto, isso é compensado pela oportunidade de ver mais detalhes da academia de lutadores da WWE, por mais que canse um pouco o discurso de que o pessoal está ali para criar “atletas de verdade” — o que não é mentira, mas acaba deixando um pouco o lado performático que torna as lutas da vida reais tão interessantes.
Dentro dos ringues
WWE 2K17 tem melhorias claras em seu sistema de luta em relação a seu antecessor, o que não quer dizer que ele ofereça uma experiência que vá além do competente. A Yuke continua dando uma cara mais de “simulação” para o jogo, priorizando a ocorrência de movimentos como os vistos na televisão do que o controle do jogador.
Devido a isso, é fácil sentir como se você não tivesse controle do que acontece em grande parte da luta: até você entender como funciona o sistema de contra-ataques, prepare-se para ser dominado facilmente por seu adversário. Infelizmente, o processo de aprendizado não é dos melhores: se nos games anteriores você podia ficar apertando o R2 sem parar, agora é preciso fazer isso em uma janela de tempo bastante restrita.
Com isso, muitas vezes você vai ter a certeza de que apertou o botão somente para se deparar com a mensagem de que fez isso tarde demais. A única maneira de evitar que isso ocorra é decorando parte das animações usadas por seus oponentes e lembrando o tempo certo para apertar o botão — se o jogador depender estritamente do que é exibido na tela, é garantido que ele vai sair frustrado.
Apesar de ainda ser um pouco desengonçado em seus comandos e nem sempre deixar claro o que você pode fazer (é difícil entender porque você pode rolar para fora do ringue em algumas horas e em outras não), WWE 2K17 se torna bastante divertido a partir do momento que você aceita que não é possível dominar totalmente o que acontece. Quando você passa a se focar não em ganhar, mas sim em fazer o melhor show possível, o título passa a ser mais divertido.
Para aumentar ainda mais o aspecto “show” da experiência, agora é possível levar conflitos para o meio da galera ou para os bastidores. As opções disponíveis nesses contextos ainda são limitadas, mas é divertido ver essas características das apresentações reais sendo levada para o contexto virtual.
Também houve melhorias no sistema de mira durante lutas em equipe: como padrão, a escolha de seus alvos agora passa a ser feita de forma manual. Embora isso nem sempre funcione como o esperado, os confrontos se desenrolam de forma muito mais prazerosa do que no passado.
Infelizmente, nem mesmo essas melhorias compensam a sensação de que estamos jogando um game essencialmente velho. Parece que a Yuke estacionou no tempo e está oferecendo somente melhorias pontuais em um sistema de lutas que claramente já atingiu seus limites e que continua marcado pela má resposta — não raras vezes, você vai se frustrar porque o game simplesmente não respondeu a seus comandos.
Apresentação boa, mas que podia melhorar
Enquanto dentro dos ringues WWE 2K17 ainda tem muito a melhorar, é elogiável o trabalho que a desenvolvedora fez ao recriar a “experiência WWE”. Os lutadores, especialmente os mais famosos, são recriados de forma assustadoramente fiel — e a maneira como a física dos cabelos se comporta deveria servir como lição para a EA e a Konami na hora de elas criarem seus jogos de futebol.
Embora o jogo não recrie com total fidelidade as apresentações dos superstars e divas, ele se aproxima o suficiente da realidade para você sentir como se realmente estivesse lá. Também ajuda bastante o fato de que vários dos personagens contam com roupas e cortes de cabelo que refletem diferentes fases de suas carreiras, embora a maneira como você os desbloqueie seja meio chata.
Essa atenção aos detalhes anda de mãos dadas com alguns bugs que prejudicam um pouco a experiência: não raras vezes, capas jogadas no chão se transformam em massas disformes de polígonos que somem de uma hora para outra. Da mesma forma, algumas animações têm aspecto robótico e em nada ajudam a recriar a sensação de que estamos vendo movimentos tirados diretamente da WWE.
No entanto, o aspecto que mais irrita na apresentação são os comentários: somente disponíveis em inglês, eles são marcados por frases genéricas que nem sempre acompanham a ação vista em tela. Para não se irritar com eles depois de um tempo, recomendo simplesmente desligá-los ou, se possível, jogar acompanhando algum podcast ou deixando suas músicas favoritas rolando no fundo.
Vale a pena?
Conforme já falei anteriormente, WWE 2K17 é aquele tipo de jogo que os fãs do esporte/show/drama com certeza vão querer comprar, mas que não faz justiça à paixão que o wrestling desperta em muitas pessoas. A diversão existe, mas esse não é exatamente aquele tipo de game que você vai deixar dentro do console durante meses, dedicando a ele várias horas diárias.
O título está mais para aquele jogo que preenche bem a tarde de um sábado parado ou que você vai tirar da prateleira quando um amigo também fã de WWE aparecer. Em outras palavras, ele é uma experiência “OK”, do tipo que mostra ter bastante potencial para ser explorado, mas que, devido a limitações mecânicas e controles desengonçados, não consegue ir além disso.
Caso você seja um fã de wrestling e acompanhe a série publicada pela 2K Games, vale a pena conferir o que a edição deste ano tem a oferecer — mesmo sem o modo showcase, ela está melhor do que o que foi oferecido em 2015. No entanto, isso não é o suficiente para dizer que o trabalho da Yuke consegue ir além do mediano, por mais que a desenvolvedora claramente tenha se esforçado para sair disso.
- Boa seleção de superstars e divas
- Sabe capturar bem o espírito da WWE
- Possibilidade de lutar em meio ao público e nos bastidores
- Opções de criação bastante variadas
- Sistema de combate pouco responsivo
- Remoção do modo Showcase
- Diversos bugs
- O modo carreira se torna repetitivo rapidamente
Nota do Voxel