Imagem de Wolfenstein Youngblood
Imagem de Wolfenstein Youngblood

Wolfenstein Youngblood

Nota do Voxel
69

Wolfenstein Youngblood traz matança desenfreada, mas destoa dos anteriores

Lançado apenas dois anos após o brilhante Wolfenstein 2: The New Colossus, Wolfenstein Youngblood, primeiramente visto como uma mera expansão em formato de spin-off, deve ser, na verdade, tratado como um novo Wolfenstein, diferentemente de Old Blood, o ótimo stand-alone do primeiro jogo.

Para isso, a Bethesda fez algumas apostas ousadas, desde o ritmo da narrativa, incluindo troca de protagonista, até mudanças drásticas na estrutura do jogo, que se propõe a oferecer uma jornada cooperativa, algo inédito na franquia.

Mas essa decisão estrutural não acrescenta apenas o componente cooperativo à série: ela coloca a palavra Wolfenstein perto de nomes como Destiny ou The Division e dá uma pincelada em Borderlands, pai dos loot shooters. De que forma, você pergunta? Foi a questão que girou em órbita na minha cabeça por algum tempo, até a ficha cair. E completamente respondida após o último crédito rolar na tela.

Confira a videoanálise abaixo:

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O legado Blazkowicz em gráficos exuberantes

Ambientado no comecinho dos anos 80, Wolfenstein Youngblood consegue usar essa roupagem com a competência que a década merece: new wave, disco, neon, cores quentes, walkman e sintetizadores criam uma atmosfera recheada de clichês, colocados ali de propósito. Alguns colecionáveis fazem grandes referências a isso também. Não à toa, é minha favorita, e nunca escondo esse preciosismo. Quem contemplou Far Cry 3: Blood Dragon, a genial expansão avulsa de Far Cry 3, se sentirá em casa aqui.

B. J. Blazkowicz, o protagonista dos títulos anteriores, sai de cena e entrega o bastão às duas filhas gêmeas, Jess e Soph. Depois do desaparecimento do pai, as irmãs vão até Paris seguindo uma pista do paradeiro do homem, com toda a pompa europeia que também sofria a opressão de um regime nazista. A mudança de cenário oferece um saudável contraste em relação ao que vimos anteriormente. O visual do game, aliás, é um refresco aos olhos, graficamente falando.

Você sempre está acompanhado; as irmãs nunca ficam sozinhas. Se serve de consolo, a inteligência artificial da irmã que você não controla até que é decente

As duas são idênticas em habilidades, arsenal de armas e movimentação. Cada uma começa com um trabuco diferente, mas tudo pode ser desbloqueado ao longo da aventura. A quem for lobo solitário, como este que vos escreve, é possível jogar sozinho também, mas pode tirar seu cavalinho da chuva: Wolfenstein Youngblood foi visivelmente desenhado para o coop e perde grande parte de sua magia quando a outra irmã é controlada pelo computador. Você sempre está acompanhado; as irmãs nunca ficam sozinhas. Se serve de consolo, a inteligência artificial da irmã que você não controla até que é decente.

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Narrativa ofegante - e colocada em segundo plano

A MachineGames fez um grande trabalho nos dois primeiros Wolfenstein e nesse aqui contou com a ajuda do pessoal da Arkane, que assina Prey e Dishonored. Youngblood, aliás, bebe um pouquinho da fonte desses jogos. Há mais foco em stealth e os objetos ficam mais realçados na tela, facilitando o loot, bem ao estilo Dishonored mesmo. Ou, se você quiser estender a sua imaginação, os trechos escuros podem te dar lampejos de Bioshock.

Essas são referências que qualquer Wolfenstein poderia ter. Os jogos citados são especialmente focados em narrativa, um pilar que New OrderThe New Colossus sustentaram com boa profundidade. Já nomes como...The Division e Destiny poderiam ser associados à franquia da Bethesda?

Pois bem, acredite: Wolfenstein Youngblood belisca o “loot and shoot” que esses jogos têm e abre mão de uma trama mais densa, com personagens bem desenvolvidos, aquilo que estamos acostumados a ver num Wolfenstein. A ideia existe faz tempo, mas estes termos, unidos para constituir um gênero próprio, são recentes: "loot and shoot", "shoot and loot", "loot shooter" ou simplesmente "loot shoot".

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Mudança drástica na estrutura de missões

Não espere densidade na narrativa aqui: o pano de fundo serve como pretexto para apresentar uma mudança drástica na estrutura de jogo e no sistema de progressão. Mais íntimo de elementos de RPG, Youngblood tem nível, árvore de habilidades muito maior que nos dois primeiros e customização profunda de armas, desde o cano até a mira, o carregador, a empunhadura e mais.

Isoladamente, isso é legal, principalmente para deixar você com a sensação de estar mais potente no meio daquela pauleira incessante de tiroteio.

Não há uma progressão tão orgânica quanto nos dois primeiros títulos, em que você percorre fase a fase, trecho a trecho, em perfeita harmonia com o andamento da história

Ao contrário dos jogos anteriores, a jornada de Soph e Jess, até para fazer mais sentido em sua abordagem cooperativa, não é linear: a dinâmica de iniciar missões acontece a partir de um hub central, conceito que foi introduzido na segunda metade de Wolfenstein 2. Existem até eventos diários e semanais que oferecem recompensas valiosas.

O problema é que Youngblood não é nada criativo no design das missões. Você vai retornar a pontos visitados várias vezes e, em todas as ocasiões, os inimigos renascem, como manda a cartilha do looting/grinding/farming. Não há uma progressão tão orgânica quanto nos dois primeiros títulos, em que você percorre fase a fase, trecho a trecho, em perfeita harmonia com o andamento da história. Aqui, a progressão é mais mecânica.

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Objetivos reciclados e bug de doer os ouvidos

Wolfenstein Youngblood oferece, em última instância, um parque de diversões sem muita criatividade, obrigando-o a ir e voltar e revisitar atrações que já conheceu. E você deve resolver objetivos simplórios, repetitivos, que se reciclam e fazem o jogador de bobo em alguns momentos. Pleno 2019 e devemos que coletar um fusível para abrir uma porta?

Youngblood tem várias missões leva-e-traz, mas com um design pouco inteligente: ao terminar algumas tarefas, por exemplo, o NPC te dá outra quest no mesmíssimo local para você fazer algo muito parecido. É disfuncional e disforme. Então, o jogador precisa voltar a um lugar de onde acabou de sair para resolver uma questão insossa. Faz pouco sentido em 2019, não? Especialmente para uma franquia do quilate de Wolfenstein, reconstruída com tanto esmero desde o reboot de 2014.

Além disso, Youngblood tem alguns bugs ocasionais, e um deles quase fez meus ouvidos sangrarem de aflição: em determinados trechos, notadamente na segunda metade do shooter, o áudio fica cortado, indo e vindo. Eu até achei que fosse algum infortúnio da conexão HDMI da minha TV ou coisa do tipo. Após fazer vários testes, detectei que se tratava de um problema do jogo mesmo, resolvido só depois de ser reiniciado – e me fisgou numa saia justa, no meio de uma missão de incursão (sim, Youngblood tem raids à la Destiny). A reinicialização, portanto, comprometeria o meu progresso naquele momento. Foi um desarranjo ensudecedor.

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Gameplay: potencialmente, o melhor dos três

O outro componente fundamental de um legítimo Wolfenstein está aqui: o gameplay. E eu não posso dizer que não me diverti, apesar dessa mudança estrutural e das questões supracitadas. Herdado dos dois primeiros e refinado até a última gota, Youngblood é, sem sombra de dúvidas, o mais frenético dos três, com boas doses de DOOM pelo excesso de coisas acontecendo na tela e pelo ritmo vertiginoso dos tiroteios, que trazem enxames de inimigos em formato de ondas.

Nunca foi tão gratificante, esmagador e robusto ver tripas esvoaçantes de nazistas, com direito a embates épicos contra inimigos robóticos de porte colossal. Se é isso que você busca, esse fator, isolado, é um prato de batatas e chucrutes.

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Veredito

Wolfenstein Youngblood se vende bem: a primeira missão do jogo é legítima de um bom e velho Wolfenstein, com a adição de um coop, acompanhado de uma bela cinemática que ergue as expectativas lá pra cima. No entanto, depois que você cai no hub e percebe que o esquema é outro, mais próximo de Destiny, The Division ou um Borderlands da vida, rapidamente muda de ideia.

Até aí tudo bem. Supondo que você embarque nessa escolha, que destoa muito de qualquer Wolfenstein, a fórmula não é aplicada da maneira mais inteligente possível, com objetivos reciclados, que te obrigam a revisitar cenários várias e várias vezes para resolver problemas rasos, deixando a trama sem sal e o desenvolvimento de personagens muito abaixo dos dois primeiros.

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Ainda assim, eu disse e reitero: o novo sistema de progressão brilha especialmente se você estiver jogando ao lado de um amigo, do jeito que a Bethesda quer. O gameplay evolui todas as mecânicas apresentadas nos jogos anteriores e introduz novidades bem-vindas nesse sentido.

Eu queria mais Wolfenstein do que Youngblood pode oferecer, mas se a ideia da Bethesda era lançar um projeto diferente, que funcione como ponte para Wolfenstein 3, quando tudo deve voltar aos eixos, eu aceito e me divirto.

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Pontos Positivos
  • Gameplay representa o ápice da franquia, reconstruída com sucesso desde o reboot de 2014
  • Visual exuberante, que conversa bem com a sanguinolência da série
  • Sistema de progressão em níveis, com suaves toques de RPG, brilha quando você aproveita o coop com um amigo
Pontos Negativos
  • Obrigatoriamente em coop, não tem o mesmo brilho quando você joga com o computador
  • Estrutura de missões repetitivas e cheias de objetivos insossos
  • Narrativa aquém dos dois anteriores
  • Bugs ocasionais – com destaque a um que interrompe o áudio