A sombra do que poderia ter sido
Confesso que tinha grandes expectativas para Valkyria Revolution, mesmo que as primeiras imagens do game revelassem que o jogo nunca se propôs a ser uma sequência de Valkyria Chronicles. E a SEGA deixou isso claro desde o primeiro: se trata somente de um spinoff da antiga série — o que significa que, embora tenha alguns elementos em comum com ela, sua identidade geral é própria.
Infelizmente, a tentativa da empresa de estabelecer um novo caminho, apresentando-a a uma nova geração de jogadores, falha em quase tudo o que tenta. E muito disso parece que se deve a uma série de indecisões da equipe de produção, que tenta acertar em diversos quesitos, mas, por não seguir uma direção bem definida, falha em desenvolver bem qualquer um deles.
Seja pelo sistema de batalha “cru” ou por uma apresentação que é segurada por uma plataforma portátil, o título não consegue escapar de ser somente mediano. O que é uma pena, especialmente em um ano marcado por uma série de produções japonesas que mostram que o país ainda tem muito a oferecer ao mundo dos games.
Revolução industrial
Conforme o nome do jogo faz referência, a história tem como cenário um continente de Europa que está passando por uma incrível revolução industrial. A descoberta de um mineral conhecido como ragnite permitiu a criação de máquinas elaboradas capazes de encurtar distâncias e facilitar a vida urbana — ou servir como ferramenta de guerra.
Tirando proveito disso, o Império Ruzi expandiu rapidamente suas fronteiras e domina quase todo o continente junto a seus aliados próximos. Um dos poucos países que resistem a isso é Jutland que, justamente por sua atitude, se vê isolada por um bloqueio comercial que condenou sua população à pobreza.
Controlando uma pequena força de elite conhecida como “Vanguard”, o jogador tem papel importante nesse cenário ao iniciar a guerra que vai livrar Jutland de sua situação. Durante seu progresso, você cumpre uma série de missões que expandem o território do país e ajudam a livrar o mundo do domínio da opressão.
O game é bem-sucedido em mostrar que as forças 'do bem' não são assim tão generosas
O game é bem-sucedido em mostrar que as forças “do bem” não são assim tão generosas e que boa parte das motivações da guerra atendem a desejos pessoais. No entanto, ela peca por apostar demais em cenas expositivas com uma quantidade generosa de loadings e por nem sempre representar bem suas ideias — em nenhum momento há a impressão de que a população do país está realmente sofrendo como consequência do bloqueio comercial, por exemplo.
Valkyria Revolution também peca por não trazer personagens muito marcantes — o que era uma das principais forças de Valkyria Chronicles. A maioria dos membros de seu grupo atende a clichês conhecidos do mundo dos animes, e mesmo figuras que recebem mais destaque (como Amleth e a princesa Ophelia) são muito mais desenvolvidos na maior parte do tempo.
Combate indeciso
O que mais prejudica o game é seu sistema de combate, justamente aquilo que ocupa o jogador durante a maior parte de sua experiência. Enquanto os personagens se movem de maneira livre pelos ambientes (tal qual um musou no estilo Dragon Quest Heroes), suas ações são limitadas por uma barra de ação que determina um ritmo mais lento do que o esperado.
Também há algumas mecânicas de cobertura e furtividade que surgem de maneira estranha e parecem estar lá somente para que os desenvolvedores possam dizer que há alguma referência à série Chronicles. Na maior parte do tempo, você provavelmente vai ignorar esses recursos ou até mesmo achá-los uma parte inconveniente das mecânicas de jogo.
A melhor tática acaba sendo correr em direção aos inimigos e atacá-los com golpes de espada
Como o game é fácil mesmo em sua dificuldade mais intensa (o nível normal, para quem inicia a aventura pela primeira vez), a melhor tática acaba sendo correr em direção aos inimigos e atacá-los com golpes de espada ou habilidades especiais. Você até pode usar armas de fogo e granadas para terminar o trabalho, mas eles são muito menos eficientes.
As batalhas contra chefes até tentam mudar um pouco a fórmula, mas elas acabam sendo mais uma das fraquezas do RPG. Não somente eles são verdadeiras esponjas de dano sem qualquer desafio real, como é preciso enfrentar alguns deles várias vezes — sem uma mudança substancial na fórmula do primeiro encontro.
Como resultado, confrontos que deveriam ser emocionantes acabam se transformando em meros testes para a sua paciência. Alguns dos inimigos até conseguem derrotar sua equipe com certa facilidade, mas a possibilidade de reviver personagens com bastante facilidade faz com que só seja chato ter que ficar 20 minutos batendo no mesmo adversário.
Também não ajuda muito o fato de que o game reaproveita muitos mapas e estruturas de missão ao ponto de esses elementos se tornarem previsíveis. Em certo ponto, confesso que deixei de participar de missões secundárias, porque elas se assemelhavam mais a obstáculos para o avanço da trama do que algo que me dava alguma espécie de recompensa.
Segurado pelo Vita
Em matéria de apresentação, o único elemento que realmente redime Valkyria Revolution é a incrível trilha sonora, obra de Yasunori Mitsuda. Caso esse nome não lhe seja familiar, basta dizer que foi ele o responsável por dar vida às músicas que ajudam a tornar Chrono Trigger um RPG clássico.
No entanto, essa é a única parte em que, tecnicamente, o jogo chama atenção de maneira positiva. Fica claro que o game foi “segurado” pela versão do PlayStation Vita, o que resultou em gráficos com animações simplistas e com um estilo visual que não agrada muito.
Mesmo que o jogo adote cores estilizadas tal qual Valkyria Chronicles, isso não consegue torná-lo visualmente interessante — quem acompanha o mundo dos animes já viu designs semelhantes dezenas de vezes. É triste dizer isso, mas até mesmo o remake de Valkyria Chronicles para PlayStation 4 consegue ser mais bonito (e, possivelmente, até a versão de PS3 lançada em 2008 consegue esse feito).
Nada mais do que mediano
Valkyria Revolution é um caso clássico de game que passa por uma crise de identidade — ou, no mínimo, por um desenvolvimento atribulado. Ao mesmo tempo que o game não abraça de vez sua herança, os desenvolvedores não tiveram a confiança necessária para desenvolver totalmente suas ideias novas ou investir em uma história apresentada de maneira mais interessante.
Há um ou outro relance de uma trama mais grandiosa e de conceitos que poderiam ter rendido algo impressionante, mas a execução falha torna fácil prestar mais atenção aos problemas da aventura. Nem mesmo a excelente trilha sonora de Yasunori Mitsuda é capaz de esconder que, no fim das contas, o jogo não consegue escapar de sua mediocridade.
Em resumo, Valkyria Revolution é um daqueles games que só deve agradar quem realmente é fanático pela interpretação japonesa do gênero RPG. Em um ano marcado por títulos de renome como Persona 5, Torment: Tides of Numenera e Fire Emblem Echoes, é difícil explicar por que alguém iria preferir o RPG da SEGA a eles — uma triste notícia para quem se acostumou com a alta qualidade que havia se tornado a marca da série Chronicles.
Categorias
- Trilha sonora absurdamente boa
- Alguns momentos da trama são genuinamente interessantes
- Loadings frequentes entre cada cena
- Sistema de batalha indeciso
- Personagens pouco carismáticos
- Ritmo lento da trama
Nota do Voxel