Um RPG à la EarthBound que certamente ficará na sua memória
Fato: alguns jogos não recebem o destaque que merecem. Um exemplo nessa lista é EarthBound, que não atraiu um número tão grande de jogadores quando foi lançado (agora é possível se redimir desse pecado graças ao Virtual Console do Wii U). O tempo passa e esse costume ainda permanece, o que pode levar Undertale a receber o mesmo tratamento – afinal, ele aparentemente não tem, num primeiro momento, características para conquistar uma capa na página do Steam.
Porém, não se engane: apesar de estarmos diante de um título independente, com gráficos simples e a velha proposta de combates por turnos, Undertale possui diversos atributos capazes de colocá-lo como um dos melhores títulos independentes lançados em 2015, além de ser um daqueles jogos que você facilmente indicaria a um amigo (ou daria de presente a ele).
O seu pior pesadelo – ou quase isso
A história de Undertale começa falando sobre uma guerra entre monstros e humanos. Após diversos conflitos, as criaturas acabaram sendo enviadas para um mundo subterrâneo de onde não conseguiram sair. Porém, isso fez com que uma fresta ficasse aberta. Apesar de os bichos serem incapazes de fazer o caminho até a nossa terra, o contrário é algo totalmente possível.
E é dessa forma que nossa aventura começa aqui. Assim que um garoto cai nesse buraco que leva ao mundo dos monstros, ele é resgatado por uma criatura muito parecida com uma vaca. Ela acaba adotando o menino como filho e, como uma boa mãe, ensina algumas coisas que vão ajudá-lo a sobreviver nesse mundo, além de cuidar dele da melhor forma possível.
Entretanto, até mesmo o mais tapado de todos iria perceber que não pertence àquele lugar. Após passar uma noite no novo mundo, o protagonista decide voltar para casa, ainda que isso contrarie aquela que lhe deu abrigo e comida. Depois de muita insistência ela o deixa partir, mas não sem que antes ele faça um teste que deve ser vencido. Quando isso acontece, ela dá apenas um conselho ao “filhote”: corra e não olhe para trás – algo que, obviamente, não acontece.
Boas doses de humor
Assim que você deixa o abrigo seguro, fará contato com uma dupla de esqueletos que não bate muito bem. Os irmãos possuem personalidades bem distintas, mas há algo em comum nos dois: quando estão na tela, somos brindados com algumas situações engraçadas e, no mínimo, curiosas.
Aliás, não espere isso apenas da dupla, mas sim de muitas outras situações que estão no jogo. É difícil avançar pelo game sem se deparar, praticamente a cada dez minutos, com uma cena que o faça rir ou mesmo algum detalhe que chame a atenção. Isso certamente é algo que podíamos ver em EarthBound, que conduzia o jogador por diálogos mais descolados na maior parte da aventura, mas que revelava algo maior depois de um tempo.
Undertale segue pelo mesmo caminho. Porém, tenha em mente que não é sempre que o jogo acerta nessa dose de brincadeiras. Algumas piadas infelizmente soam forçadas demais (no início do game, por exemplo, há uma mais ou menos assim “Why did the skeleton want to make a friend? To not feel so BONELY!” – uma tradução não seria apropriada, pois ela só faz sentido em inglês), enquanto outras não fariam falta caso fossem excluídas. Isso nos faz lembrar que outro game que também homenageia Earthbound (Citizens of Earth) sofre do mesmo problema de pecar pelo excesso.
Igual, mas diferente
Tudo bem, o jogo consegue manter o jogador entretido com sua história, mas isso não seria a salvação do universo se as batalhas fossem chatas, não é mesmo? Felizmente, esse não é o caso de Undertale, uma vez que o seu criador (sim, praticamente tudo o que você encontra aqui foi feito por apenas uma pessoa) conseguiu algo que muitos não conseguiram: reinventar um estilo de combate.
Se a essa hora você está se perguntando como alguém pode reinventar um sistema de combate por turnos, eis a resposta: com mini games. Por mais estranho que isso possa parecer, este é um game no qual não há espaço para ficar parado durante os combates esperando o inimigo atacar. Quando o oponente tenta algo para machucá-lo, você verá um quadrado com um coração e algum dispositivo que vai lançar algo nesse espaço. É preciso mover o ícone para desviar de todas as investidas – que são bem variadas.
Apenas para citar alguns exemplos: um dos oponentes que você vai encontrar fará uma espécie de chuva de lanças contra o coração, enquanto outro vai exigir que o ícone seja usado para desviar de ossos que estão no caminho. Há até mesmo um adversário que vai atacá-lo com mísseis teleguiados, que por sinal podem ser usados contra ele caso você queira.
Outro detalhe é que cada arma utilizada pelo protagonista tem um sistema diferente de funcionamento. Todos os golpes são otimizados quando você consegue parar os cursores no ponto certo de uma janela, que funciona de maneiras variadas de acordo com o equipamento: a luva, por exemplo, exige que apenas uma barra pare no centro, e depois é preciso apertar repetidamente a tecla Z para atacar. Já os sapatos exigem três acertos, e após isso é só esperar para ver a magia acontecer. Ou seja, a última coisa que fará é ficar parado.
Um pacote completo
Somado ao que apresentamos acima, Undertale ainda conta com um estilo gráfico que, apesar de retrô, combina bem com a proposta do game, e o mesmo pode ser dito da trilha sonora. Cada canção ouvida no game é capaz de tocá-lo de uma forma diferente, além de criar a ambientação certa para cada região que você visitar.
Outro detalhe que vale a pena ser mencionado é que suas escolhas são capazes de moldar os ambientes visitados. Você não precisa levantar a mão para um monstro se quiser e terminar o jogo no nível 1 (evitando batalhas inclusive contra chefes!) ou tocar o terror e derrotar qualquer coisa. Porém, tenha em mente que qualquer uma das escolhas vai mudar o andamento de alguns eventos, o que por si só já garante duas visitas completas ao mundo dos monstros para ver o que aconteceria caso você seguisse pelo outro caminho.
Vale a pena?
Tendo em vista que estamos diante de uma aventura que pode facilmente ultrapassar a marca de cinco horas de jogatina e oferece duas jornadas em uma (derrotando todos os monstros ou mostrando o lado bondoso da humanidade a todos eles), podemos dizer que Undertale é um jogo digno de centavo investido nele.
Além disso, ele traz algumas inovações ao sistema de batalha, e dificilmente você vai olhar os games com combates por turnos da mesma forma depois de investir parte do seu tempo por aqui. Some a isso uma história divertida e capaz de prender a sua atenção (mesmo com a quantidade de piadas que não agradam tanto, verdade seja dita), uma trilha sonora competente e os gráficos charmosos e terá um pacote que vai entretê-lo por um bom tempo.
- História que certamente vai prender a sua atenção
- Sistema de batalha que mistura combates por turnos e mini games
- Trilha sonora que combina com o que está na tela
- Opção de enfrentar todos os monstros ou ficar tratá-los bem
- Algumas piadas soam forçadas ou fora do contexto
Nota do Voxel