Tiny Tina's Wonderlands: uma das melhores aventuras da franquia
A franquia Borderlands não é desconhecida para jogadores de games de tiro em primeira pessoa. Após o sucesso inesperado do primeiro jogo, de 2009, outros 3 games chegaram ao mercado, vendendo 45 milhões de unidades e acumulando fãs ao redor do mundo. Todos esses títulos receberam conteúdos adicionais, mas uma DLC de Borderlands 2 acabou se destacando dentre todas as outras.
Tiny Tina's Assault on Dragon Keep, que simula uma partida de RPG de mesa, foi aclamada pelos fãs por sua ideia inovadora e seu desenrolar extremamente cômico. 9 anos após seu lançamento, chega ao mercado Tiny Tina's Wonderlands, novo jogo da Gearbox que promete expandir esse conceito enquanto explora tudo o que fez de melhor nos últimos anos. Veja na análise a seguir se esse objetivo foi alcançado com sucesso.
Não se mexe em time que está ganhando
Ainda que não pareça inicialmente, há muito o que falar sobre Tiny Tina’s Wonderlands. Essa frase pode soar estranha para alguns, mas qualquer pessoa que jogou Borderlands 3 e olhar rapidamente uma gameplay deste jogo pensará que é mais do mesmo, só com skins diferentes. Essa afirmação não está totalmente errada, Wonderlands realmente é bem parecido com seu antecessor, contudo, apresentarei algumas ressalvas para defender minha tese de que este é o melhor jogo da franquia desde Borderlands 2.
A começar pela principal mecânica do game, o tiroteio. Na minha visão, não há desenvolvedora que faça um gunplay melhor que a Gearbox. Há centenas de milhares de armas espalhadas pelos cenários e quase todas são extremamente prazerosas de se usar. Todo o coice é sentido e o som da bala saindo do cano preenche cada canto dos ambientes, tornando a experiência de atirar em tudo o que se move um deleite. Isso é muito importante considerando que a maioria das missões, sejam as principais ou as secundárias, vão exigir que o jogador aperte o gatilho constantemente.
O tiroteio é simplesmente uma delícia do começo ao fim.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Para compensar o gasto exacerbado de munição, há uma quantidade incontável de lugares para se conseguir esses recursos. Para onde olhar, encontrará uma pequena caixinha ou um grande baú com equipamento suficiente para um exército inteiro. E eu usei a palavra “equipamento”, pois também encontramos neles armas, escudos, magias e outros itens que serão essenciais para nossa aventura. Se não quiser ficar procurando, é só matar algum adversário para pegar novos itens uteis, a final eles não vão mais precisar.
Isso não é nem um pouco novidade para quem é fã da franquia, mas é importante ressaltar que Tiny Tina’s Wonderlands, mesmo tendo um nome diferente, é tão Borderlands quanto qualquer outro. A Gearbox não quis mudar a receita, mas se esforçou para entregar um dos melhores bolos que a confeitaria já fez, colocando muito recheio e uma cobertura de unicórnio.
Uma trama magicamente hilária
Falando em unicórnio, a história foi um grande acerto da desenvolvedora. Mesmo sem camadas de profundidade, grandes conflitos ou coisa do tipo, a trama é muito satisfatória e hilária. Acredito que uma questão levantada na sua sessão final não foi tão trabalhada, mas isso não tira o brilho do enredo leve e cheio de referências.
Os personagens principais são incríveis e cheios de personalidade.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Jogamos como o Chefe do Destino, um principiante no RPG de mesa Bunkers e Bambambãs que terá como primeira aventura derrotar o Senhor dos Dragões (Will Arnett) após suas malvadezas contra a rainha Rabo de Cavalo. Mesmo sozinhos, estaremos acompanhados de dois jogadores experientes que serão nossos conselheiros, Valentine (Andy Samberg) e Frette (Wanda Sykes), com tudo sendo comandado pela jovem maluca e explosiva Tiny Tina (Ashly Burch), chamada Tininha em português.
Como tudo está sendo narrado na hora, as coisas mudam constantemente, as discussões sobre regras são incessantes e o inesperado se torna comum, além disso, grande parte dos personagens secundários são cativantes e conseguem tirar pelo menos uma pequena risadinha do player.
Todo o elenco está espetacular. As flutuadas emocionais de Tina a transformam em alguém imprevisível, Valentine é pura e completamente Andy Samberg (o que é um elogio), Frette tenta ser pé no chão ainda que tenha alguns desvios morais relacionados a matar e roubar o loot e Senhor dos Dragões tenta ser ameaçador o tempo todo, incluindo quebrando regras do universo e conversando diretamente conosco sem que os outros escutem.
Don't you forget about me (não me esquece)
Toda a criatividade, piadas de referências e atuações incríveis não conseguem maquiar as excessivas repetições de falas que ouvimos. O nosso personagem constantemente faz piadinhas e comentários durante as batalhas, mas é cansativo ouvir as mesmas exatas falas toda hora.
Eu estou ouvindo vozes, cadê minha legenda?Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Como se não bastasse ter que lidar com este disco arranhado, algumas falas em momentos cruciais não estão legendadas. Isso é um problema comum e infeliz, principalmente por não haver dublagem em português. Logo nas primeiras horas, duas cutscenes principais não acompanhavam tradução, assim como grande parte das falas do Senhor dos Dragões na última sessão do jogo. Com certeza problema afetará a compreensão da história para diversas pessoas que não dominam a língua inglesa e torço para que o patch de lançamento corrija isso.
Um caminhão de novidades mágicas
Outro aspecto comum quando falamos na franquia Borderlands são os protagonistas. Em vez de escolher um dos quatro Caça-Arcas disponíveis, que implicam não só na aparência mas também na classe, em Tiny Tina’s Wonderlands temos uma personalização bem extensa do nosso personagem.
O editor permite modificarmos o rosto completamente, escolhermos as cores das nossas roupas e até a voz, com oito disponíveis divididas entre masculinas e femininas. Há uma boa variedade de opções logo no início e muitas outras podem ser desbloqueadas pegando itens durante a aventura. Se durante sua jogatina você quiser dar uma repaginada total, é só ir à taverna do Casco Cintilante, a cidade principal do mapa.
Conheça o herói da nossa história: Joselito.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Além da aparência, o jogador pode escolher qual das 6 classes quer usar, cada uma com habilidades e abordagens próprias. Eu pude testar três delas durante minha jogatina e não senti uma grande diferença, coisa que é mais perceptível nos games anteriores. Não só isso, mas cada uma só tem uma árvore de upgrades em vez de três. A desenvolvedora compensou isso com três novidades: capricho do destino, atributos e multiclasse.
Vamos em ordem. Os caprichos do destino são como as origens dos personagens, definindo características ele terá mais proficiência e qual terá inaptidão e isso está diretamente associado com os atributos. Sempre que subir de nível, o player poderá gastar um ponto de talento para melhorar uma habilidade de classe e um ponto heroico para melhorar um desses seis: força, destreza, inteligência, sabedoria, constituição e harmonização. Isso aproxima ainda mais o título dos RPGs de mesa, mostrando o compromisso da Gearbox com a premissa.
Para fechar, o sistema de multiclasse é desbloqueado ao alcançar o nível 20 e, como o nome já diz, permite o jogador escolher uma segunda classe, desbloqueando uma nova árvore habilidade. Com isso, é possível complementar a build que estava criando até aquele momento ou diferenciar totalmente, criando um personagem que usa diversos ataques corpo-a-corpo enquanto lança magias para drenar a vida dos adversários.
A build de critical damage estava afiada, devo dizer.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Uma coisa interessante é que após terminar a história principal, o jogador pode trocar quando quiser sua classe secundária na mesma taverna em que pode mudar de aparência, recuperando os pontos gastos, permitindo testar novas combinações o quanto quiser.
Como dito anteriormente, a Gearbox realmente trabalhou muito para passar ao player a sensação de estar jogando um D&D virtual com muito tiro, porrada e loot, e ela merece os créditos pelo resultado final.
E as novidades não param por aí, pois é hora de falar do Mapa da Mesa. Em vez de entrar em um portal ou usar o fast travel para chegar em uma nova área, aqui o jogador controlará uma versão em miniatura de seu personagem e deve andar até onde quer chegar. Essa peregrinação é recompensada com missões, dungeons, segredos e até encontros aleatórios no maior estilo Pokémon.
Eu JURO que não tenho nada a ver com a morte desse cara.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Você pode procurar peças de santuários que vão te dar passivas, como mais velocidade de movimento, ajudar uma jovem que quer esculturas suas espalhadas pela região, buscar ingredientes para um alquimista amador e procurar colecionáveis escondidos, como dados de 20 lados e folhas de poemas. Ele instiga sua investigação e sua curiosidade, o fazendo entrar em batalhas teoricamente inúteis, mas que podem render ótimos frutos em forma de loot.
Essa é uma das melhores novidades do título, pois foge de tudo o que já foi visto na franquia e até do que foi apresentado em trabalhos anteriores da desenvolvedora, além de facilitar a localização de determinadas áreas e ter uma função narrativa bem interessante.
De explor os olhos (não literalmente, Tina)
Não sei vocês, mas eu estou apaixonado por essa paisagem.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
O Mapa da Mesa também deixa claro o incrível trabalho de arte colocado no game. Há uma variedade bem grande de biomas, visuais e inimigos, como deserto, planícies de gelo, fundo do mar e muitos outros. A Gearbox usou todo o contexto fantasioso medieval que a premissa oferece para entregar alguns dos melhores visuais de toda a franquia.
Os esqueletos são adversários comuns, por conta do vilão principal ser um necromante, mas confrontamos piratas, elfos, ogros, tubarões que andam na terra e serpes em nossa jornada mitologicamente cômica.
Eu tenho quase certeza que te conheço de algum lugar...Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
É quase intrínseco em minhas análises falar do desempenho logo após falar dos visuais de um jogo e aqui não será diferente. A experiência que tive foi no mínimo curiosa, ainda que melhor do que em Borderlands 3. Usando algumas configurações no alto e outras no médio, eu tive satisfatórios 80 quadros por segundo com a RTX 2060 renderizando tudo a 1080p, mas fui afetado por uma queda brusca de quadros, abaixo de 40% do normal, logo no começo de algumas sessões. Às vezes, reabrir o jogo resolvia, em outras foi necessário reiniciar o computador inteiro.
Outra coisa que me deixou um pouco incomodado foi a falta de suporte à tecnologia DLSS da NVIDA e FidelityFX Super Resolution da AMD, que sem dúvida teriam ajudado muito as jogatinas com configurações mais altas sem comprometer a fluidez que um FPS como Tiny Tina’s Wonderlands merece.
Quanto mais conteúdo, melhor!
Antes de fechar, vale ressaltar que esse jogo traz uma quantidade gigantesca de conteúdo. Se jogar a campanha, dividia em 10 capítulos, e mais um punhado de missões secundárias, facilmente acalçará 20 horas de jogatina. Caso busque fazer tudo o que está disponível, passará de 50 horas.
Cuidado, é o ciclope gigante que raptou a nossa princesa!Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Ainda que seja uma benção trazer tantas atividades secundárias de qualidade, ela traz como maldição o desinteresse momentâneo pela história principal. Isso não quer dizer que a jornada está pouco divertida, mas o mundo chama o jogador para seus mais obscuros cantos a ponto de fazê-lo esquecer quais foram seus últimos passos dentro de sua trajetória principal.
E se engana quem pensa que para por aí. Logo após terminar a campanha, é aberto um modo chamado Câmara do Caos, que é parecido com um roguelike. O jogador enfrentará diversos desafios, no mesmo formato dos encontros aleatórios do Mapa da Mesa, em que confronta adversários cada vez mais difíceis para conseguir equipamentos melhores.
Há upgrades e desafios que podem ser escolhidos para facilitar e complicar, respectivamente, o trajeto. Sem dúvidas, é uma boa pedida quem quiser acabou absolutamente tudo o que há no jogo e quer mais ou mesmo aqueles que preferem só atirar, sem tempo para papo.
Brick, você está diferente. Prefiro assim.Fonte: Francesco Casagrande / Voxel
Vale a pena?
Como dito nos créditos, o desenvolvimento de Tiny Tina’s Wonderlands foi feito em sua maioria de casa por conta da pandemia da COVID-19 e muito amor foi colocado no projeto. A história é divertida, o humor é pontual, o tiroteio prazeroso e o loot aos montes, como todo fã Borderlands gosta.
Além de apresentar novidades, como personalização de personagem, sistema de multiclasse e o maravilhoso Mapa da Mesa, a desenvolvedora se focou em acertar onde errou em seu antecessor enquanto manteve o que estava certo, criando assim o melhor jogo da franquia desde Borderlands 2.
Ainda assim, ele não é um acerto completo. A repetição de frases incomoda muito, mas não mais que os constantes problemas nas legendas que estão presentes até em momentos cruciais na história. Outro problema é seu desempenho que está constantemente de lua, podendo entregar metade dos quadros por segundo do comum sem motivo aparente.
É uma recomendação certa e absoluta para quem é gosta da série enquanto para novatos seja melhor jogar games anteriores e ver se o estilo o agrada, já que Tiny Tina’s Wonderlands não é muito diferente daquilo, para o bem e para o mal.
Tiny Tina's Wonderlands foi cedido gentilmente pela 2K para a realização desta análise.
Categorias
- História divertida lotada de personagens cativantes e referências cômicas
- Quantidade gigantesca de conteúdo secundário
- Gunplay continua maravilhoso
- Diversas novidades que casam com a premissa e tornam a jogatina ainda mais divertida
- O Mapa da Mesa é uma das melhores inovações feitas pela Gearbox na franquia em muito tempo
- Problemas constantes na legenda, principalmente em momentos cruciais da trama
- Repetição constante de algumas frases
- Desempenho inconstante, necessitando até reiniciar a plataforma para voltar ao normal
- São tantas missões secundárias que tiram a atenção do player da campanha
Nota do Voxel