Finais felizes são coisas de contos feitos para crianças
Após meses de expectativa e ansiedade, finalmente chegamos ao último capítulo de The Wolf Among Us. Se em In Sheep’s Clothing a Telltale já começava a dar os primeiros pontos finais em sua trama, Cry Wolf adota um ritmo acelerado desde seu começo, tratando de encaixar todas as peças do quebra-cabeça formado pela trama dos episódios anteriores — bom, pelo menos a maioria delas.
Deixando um pouco de lado os momentos de exploração e investigação vistos anteriormente, o título possui doses generosas de ação e apresenta alguns dos diálogos mais intrigantes já escritos pelo estúdio. No entanto, apesar da sensação de que tudo foi concluído da maneira devida, é difícil não escapar com a sensação de que faltou algum elemento capaz de tornar a experiência realmente imperdível.
O fim do mistério
Com duração aproximada de uma hora e meia, Cry Wolf soluciona o principal mistério de The Wolf Among Us pouco menos de 10 minutos após seu início. No entanto, isso não significa que a trama perca ritmo, já que mais do que descobrir quem é o verdadeiro responsável pelos crimes que assombram Fabletown é tentar desvendar os motivos que resultaram nessa situação.
Muitas das soluções encontradas por Bigby “Big Bad” Wolf envolvem combates diretos contra outros personagens, incluindo uma luta já antecipada pela série. Apesar de esses momentos apelarem aos famigerados “quick time events”, isso não faz com que eles percam impacto ou deixem de ser satisfatórios.
No entanto, é difícil não se decepcionar um pouco com a real personalidade de Crooked Man. Embora os capítulos anteriores da série criem uma aura perigosa para o personagem e indiquem que sua influência está enraizada na organização do mundo de Fábulas, na prática ele se mostra mais semelhante a um mafioso comum do que a um grande mestre do crime.
Toda ação tem uma consequência
Talvez o momento mais satisfatório de Cry Wolf seja o momento em que você percebe que todas as decisões feitas pelo jogador em episódios passados não foram em vão. Como a Telltale insiste em deixar claro, as decisões de Bigby Wolf não são esquecidas pelos demais personagens, que podem adotar posturas totalmente diferentes dependendo da maneira como o detetive agiu.
Isso fica bastante claro em um momento específico no qual suas ações passadas vão ter grande impacto sobre o resultado de um julgamento (que sequer pode acontecer dependendo de suas decisões). Mesmo que você escolha diálogos que parecem conduzir a situação a uma resolução pacífica, caso você tenha decidido tornar o detetive um verdadeiro “canalha”, suas palavras não vão ser levadas em consideração.
Graças a isso, Cry Wolf desperta a vontade de jogar toda a aventura por uma segunda (e possivelmente uma terceira) vez, simplesmente para que você veja os resultados diferentes com os quais o game trabalha. Embora a conclusão da história seja semelhante para todos os jogadores, é difícil não se sentir satisfeito e com a impressão de que o que foi mostrado pelo jogo é a “sua história”.
Infelizmente, a tendência da Telltale de criar episódios com duração curta deixa uma sensação de “quero mais” que não se mostra necessariamente algo bom. Apesar de o episódio fechar com maestria as pontas soltadas deixadas anteriormente, a sensação que fica é a de que diálogos que deveriam acontecer (como o prometido confronto com Bluebeard) foram esquecidos ou “cortados” pelo estúdio.
Prova de competência
Desde que The Wolf Among Us foi lançado, foi difícil (se não praticamente impossível) deixar de comparar o game com The Walking Dead, primeiro grande sucesso da Telltale. Felizmente, com o final da série a companhia prova que não depende de “somente um hit” e que consegue usar tudo aquilo que aprendeu para criar um game igualmente recompensador e que tem personalidade própria.
Analisado como um todo, The Wolf Among Us pode não ter o mesmo impacto que a série de zumbis, mas ainda assim se mostra uma bela adição à biblioteca dos fãs do gênero adventure. Embora não responda todas as questões apresentadas de maneira satisfatória e não corresponda a algumas expectativas que ele mesmo cria, o jogo vale o dinheiro investido — e termina de forma a possibilitar uma sequência.
A experiência proporcionada por Cry Wolf depende muito do que você experimentou nos últimos capítulos da série, porém é difícil se pegar pensando que o final não cumpriu seu papel. Agora fica a expectativa para que a Telltale consiga reproduzir a mesma qualidade (ou alcançar um nível ainda maior) com seus projetos relacionados a Borderlands e a Game of Thrones.
Categorias
- Fecha muito bem as pontas soltas
- Decisões feitas anteriormente têm peso real
- Crooked Man não corresponde às expectativas criadas pelos capítulos anteriores
- Alguns pontos parecem ficar mal explorados
Nota do Voxel