Um universo muito distante dos contos de fadas
Antes de iniciar a leitura desta análise, recomendamos que você jogue o mais recente capítulo de The Wolf Among Us. Embora tenhamos o cuidado de não oferecer detalhes específicos do jogo, algumas das informações apresentadas podem estragar algumas das surpresas preparadas pela Telltale. Você foi avisado.
O quarto episódio de The Wolf Among Us tem a ingrata tarefa de dar prosseguimento à cena impactante que fecha o terceiro capítulo da história desenvolvida pela Telltale. Logo que o jogo se inicia, somos brindados com uma visão pouco comum do protagonista Bigby: ensanguentado e vulnerável, o personagem pouco lembra o xerife durão a que fomos apresentados anteriormente.
O protagonista não tem tempo para se recuperar de seus ferimentos, visto que agora ele finalmente tem as ferramentas necessárias para resolver a série de assassinatos misteriosos que assola Fabletown. Durante a maior parte de In Sheep’s Clothing, o jogo começa a fechar várias das pontas soltas deixadas pelas partes anteriores de sua história — algo que ajuda o capítulo a soar coeso e funciona como uma forma de a desenvolvedora poder dedicar mais tempo ao desenvolvimento de personagens.
Drama humano
Enquanto nos episódios anteriores as fábulas que apareciam no caminho de Bigby pareciam não mais do que ferramentas para fazer com que a história progredisse, aqui fica evidente que eles possuem personalidades e dramas próprios. O jogo deixa claro que a investigação do xerife não está isolada de um contexto mais amplo e que cada ação cometida por ele tem um impacto razoável sobre Fabletown como um todo.
Algo que a Telltale vinha explorando nos capítulos anteriores se torna ainda mais evidente em In Sheep’s Clothing: The Wolf Among Us não é sobre o lado mágico ou glamouroso de Fábulas, mas sim uma aproximação de seu lado mais sujo, pobre e, justamente pela soma desses fatores, esquecido.
Enquanto a série de Bill Willingham muitas vezes se foca no lado aventureiro e destemido de seus protagonistas (sem deixar de lado tragédias e dramas), o jogo da Telltale mostra que outras fábulas têm preocupações bem mais urgentes do que a invasão do “Inimigo”. Para muitos, reaver as Terras Natais é muito menos importante do que conseguir pagar as contas do mês ou manter as aparências — algo que as torna suscetíveis à ação do grande antagonista do game.
Anteriormente mencionado somente na forma de sussurros, The Crooked Man agora surge como uma figura palpável e que se mostra mais complexo do que o simples “vilão malvado” que a desenvolvedora indicava existir nos episódios anteriores. Conforme você progride na história, percebe que as conexões do personagem são gigantescas e influenciam de forma sutil o desenvolvimento da sociedade.
O antagonista surge como um personagem complexo cujas motivações, por mais que ainda permaneçam misteriosas, parecem ter certa justificativa. Por mais que suas ações não sejam exatamente pacíficas, o fato de que ele se apresentar como a única alternativa à falta de atenção do governo oficial de Fabletown mostra que essa sociedade está muito longe de viver em um “mundo de conto de fadas”.
Menos mistérios, mais respostas
Embora mantenha um design semelhante àquele adotado pela Telltale nos capítulos anteriores de The Wolf Among Us, In Sheep’s Clothing evita cair em lugares comuns, o que ajuda a deixar a história apresentada mais fresca. Embora o game apresente alguns novos mistérios, todos eles são resolvidos rapidamente, muitas vezes funcionando como uma ferramenta que permite entender de vez elementos apresentados anteriormente.
Durante o capítulo, você começa a desvendar o motivo pelo qual determinados objetos ganhavam tanto destaque no passado. Da mesma forma, o game muda a visão que tínhamos sobre determinados personagens, cujas motivações se tornam mais claras e passam a justificar atitudes que conflitavam com a investigação de Bigby.
Um dos pontos que devem gerar críticas em relação a In Sheep’s Clothing é o fato de que, vistas isoladamente, as ações do protagonista parecem não ter tanto impacto quanto no passado. Devido à necessidade de guiar o jogador em direção a um ponto único, a Telltale criou uma experiência mais direcionada e que parece não oferecer tanta liberdade quanto anteriormente — impressão que só diminui um pouco caso você decida jogar o episódio novamente adotando outras decisões, algo a que, compreensivelmente, nem todos os jogadores estão dispostos a fazer.
O fim está chegando
O ponto que deve ser criticado em In Sheep’s Clothing é o fato de ele deixar claro que a maneira como a Telltale conta suas histórias possui uma estrutura clara que se repete em todos os capítulos de The Wolf Among Us. Embora os locais que você visite e as descobertas feitas sejam diferentes do passado, você ainda vai se deparar com uma cena de briga, um interrogatório e uma investigação simples de um ambiente — ou seja, exatamente aquilo que você já fez algumas vezes no passado.
O capítulo também decepciona por seu final abrupto, que não é tão funcional na hora de criar tensões e expectativas para o que acontece no encerramento da série. Em vez de sermos brindados com um gostinho do que vem a seguir, temos que lidar com o que parece ser uma cena cortada ao meio e é difícil não pensar “mas já?” no momento em que ela chega.
Apesar de seus problemas, In Sheep’s Clothing constitui mais um capítulo envolvente de A Wolf Among Us e serve como prova de que a Telltale conseguiu cumprir as promessas apresentadas durante os primeiros episódios da série — capacidade que cheguei a questionar em minha análise de “A Crooked Mile”. No entanto, o estúdio agora se vê forçado a lidar com a pior parte do desenvolvimento do game: criar um final capaz que, ao mesmo tempo que seja impactante e respeite a inteligência dos jogadores, não entre em conflito com o que foi apresentado por Bill Willingham em suas HQs.
Categorias
- Fecha pontas soltas de forma competente
- Explora um lado diferente do universo Fábulas
- Finalmente desenvolve o verdadeiro vilão da série
- Final anticlimático
- Evidencia ainda mais o desgaste da fórmula adotada pela Telltale
Nota do Voxel